sábado, 3 de outubro de 2015

Mês das Bruxas: 25 Clássicos do Terror - Creepshow


O que acontece quando você pega Stephen King, o mestre do macabro, George Romero, criador do gênero de zumbis como o conhecemos hoje, e Tom Savini, mago dos efeitos visuais, e coloca todos para trabalhar em um mesmo projeto?

Temos Creepshow, que é praticamente a Exclamação de Atena dos filmes de terror.

Só que melhor que a Exclamação de Atena.

Sério! Que coisa mais inútil a Exclamação de Atena. Falam tanto deste ataque na história, que todos mundo esperava algo grandioso, capaz de vaporizar a Grécia inteira. Aí, dois grupos de Cavaleiros de Ouro usam este ataque um contra o outro e praticamente nada acontece. Que bela maneira de corresponder as expectativas do público, heim, Kurumada?

Ok, chega. Já falei demais de Cavaleiros do Horóscopo em outros tempos.

Foquemo-nos em filmes de terror.

Porque terror é bom pro coração.

Muito bem, um pouco de contexto histórico.

Entre as décadas de 1940 e 1950, quadrinhos de terror eram extremamente populares entre a juventude americana. Uma das editoras que mais se destacou neste ramo foi a EC Comics, que publicava revistas como Tales From the Crypt (que depois serviria como base para a série de tevê Contos da Cripta), The Vault of Horror e The Haunt of Fear.

As histórias destas revistas eram recheadas de humor negro e todo tipo de horror que fascina a molecada pré-pubescente: Mortos se erguendo de seus túmulos para clamar vingança contra os vivos, horrores cósmicos recaindo sobre cidadãos indefesos, monstros das profundezas massacrando inocentes, essas coisas boas.

Um equivalente nacional seriam as revistas Spektro, Krypta e Calafrio, muito populares no Brasil entre as décadas de 1970 e 1980.

Infelizmente, a EC Comics e suas publicações tornaram-se alvo de uma caça as bruxas em seu tempo. Sabem como hoje em dia, temos milhares de militantes na internet clamando (sem nenhuma evidência) que videogames estimulam a violência e a misoginia entre os jovens? Mesma coisa, só que naquela época foi com as revistas em quadrinhos.

E o negócio foi feio, com direito a audiências no senado norte americano e tudo mais. Como resultado, a indústria mudou drásticamente e revistas de terror desapareceram das bancas. Foi após toda esta polêmica que tivemos a Era de Prata dos quadrinhos de super-heróis, pois era um dos poucos temas seguros com os quais os artistas podiam trabalhar.

Mas o “estrago” já estava feito. As revistas de terror da EC Comics influenciaram a toda uma geração, que passou a carregá-las para sempre como uma parte muito querida da infância. E Creepshow é o tributo de três mestres do terror a algo que influenciou suas vidas.

Visto aqui: O rosto de um mestre influenciado pela arte

O filme é uma antologia com cinco histórias curtas e sem nenhuma ligação uma com a outra. Ainda temos uma sexta narrativa, que serve como prólogo e epílogo do longa, e age como uma “moldura” para todos os contos.

O longa começa com um pai cretino (Tom Adkins) batendo em seu filho (Joe King, filho de Stephen King na vida real) porque o pegou lendo quadrinhos de terror. O velho toma a revista do garoto, a joga no lixo e dá seu trabalho por terminado.

Mas é uma noite de tempestade, e a revista, agora a mercê dos elementos, tem suas páginas viradas pelo vento. E assim suas histórias nos são apresentadas ao longo do filme. Estes segmentos são todos feitos em animação, que se transforma em live-action assim que cada um dos contos se inicia.

A primeira história (Father’s Day) conta a história de um velho miserável (Jon Lorner) que é assassinado por sua filha Bedelia (Viveca Lindfors) no Dia dos Pais, após abusar psicologicamente dela por uma vida inteira. Sete anos após sua morte, o lazarento sai de seu túmulo para se vingar de toda a sua família.

A segunda história (The Lonesome Death of Jordy Verril) nos apresenta Jordy Verril (interpretado pelo próprio Stephen King), um caipira ignorante que mora no meio do nada e cuja vida é virada do avesso por um meteoro que cai em seu terreno uma noite. O dito meteoro derrama um líquido verde no solo, e logo toda a área (incluindo o próprio Jordy) está tomada por uma vegetação que se alastra como se fosse um vírus.

A terceira história (Something to Tide You Over) mostra um psicopata perigoso (Leslie Nielsen) que descobre que sua esposa (Gaylen Ross) está mantendo um caso extra-conjugal. Como vingança, ele arranja para que ela e o amante (Ted Danson) sejam enterrados até o pescoço na praia, para que sejam afogados pelo oceano quando a maré subir.

A quarta história (The Crate) começa quando um zelador descobre um caixote com a data de 1834 debaixo da escadaria da universidade onde ele trabalha. Ele chama um dos professores da instituição (Fritz Weaver), e os dois cometem o erro de abrir o engradado. O que havia dentro? Um babuíno demoníaco que come gente e não deixa nem os ossos.

A quinta e última história (They’re Creeping Up on You) é sobre um velho milionário misofóbico, que não vê mal em destruir vidas para construir sua fortuna. Do alto de seu apartamento, ele observa a cidade com desprezo e compara todas as pessoas a baratas... E adivinhem o que acontece com ele?

Cada pessoa escolhe um segmento como seu favorito. Minha mão gosta muito de The Crate, enquanto eu não consigo escolher entre as três histórias que servem como miolo do filme, acho todas excelentes.

Mas absolutamente ninguém escolhe They’re Creeping Up on You como a melhor.

Porque todo mundo odeia baratas.

Todo.

Mundo.

Ao invés de baratas, aqui vai Ted Danson enterrado na areia até o pescoço.
O que eu tenho certeza, não vai incomodar os claustrofóbicos.

Creepshow tem um elenco estelar, o que é pouco comum para este tipo de produção. Normalmente, filmes de terror contam com atores e atrizes que resolveram devotar suas carreiras a este gênero (como Robert Englund, Joe Pilato e e Ken Foree), ou traz jovens em início de carreira que nunca mais trabalham com horror depois que decolam na profissão (Renee Zellweger and Matthew McConaughey me vem a mente).

De alguma forma, Romero conseguiu nomes como Ed Harris, Leslie Nielsen, Ted Danson, Viveca Lindfords e E.G Marshall. Na época em que Creepshow foi produzido, muitos destes nomes já eram consagrados no cinema e televisão e é curioso que tenham aceitado trabalhar com um gênero que normalmente é visto com desdém em Hollywood. Se me perguntarem, acho que todos acharam que seria divertido dar vida aos personagens exagerados apresentados no filme.

Curiosamente, uma das atuações mais memoráveis de Creepshow vem do autor da história. Stephen King interpreta o ignorante Jordy Verill na segunda história e rouba a cena no papel. King parece ter se inspirado em grandes comediantes do passado, como Jerry Lewis, Os Três Patetas e Abbot & Costello para desenvolver seus maneirismos. O resultado é um personagem deliciosamente exagerado, que consegue gerar humor em uma história com temática bem sombria.

Leslie Nielsen também impressiona, e é a engrenagem que faz seu segmento funcionar. Quem diria que aquele cavalheiro de cabelos brancos e olhar amigável, que nos fez gargalhar como o tenente Frank Drebin, poderia interpretar um psicopata tão bem? Ele é o homem que aponta uma arma para seu desafeto com um sorriso no rosto, enquanto canta e discute casualmente como irá matá-lo. Não há como não sentir calafrios com sua atuação neste filme.

Diga-se de passagem, Leslie era um brincalhão nato e divertiu muito seus colegas durante as filmagens. Em todas as cenas, ele levava consigo uma “máquina de peidos”, e assim que George Romero gritava “corta”, Leslie a acionava, o que imediatamente dissipava a tensão de suas cenas e fazia todos os presentes se escangalharem de rir.

E.G Marshall também faz um ótimo trabalho, e sua interpretação de Upson Pratt torna o personagem totalmente odioso. Se Sissy Spacek nos fazia querer abraçar Carrie White e afagar seu cabelo, Marshall é sua completa antítese.

E ele consegue carregar seu segmento praticamente sozinho. Um dos temas da história é o quanto Upson Pratt se considera acima da sociedade e se isolou dela. Desta forma, suas únicas interações sociais ocorrem por telefone, ou pelo interfone de seu apartamento. Sem ter com quem interagir, Marshall faz uso de monólogos para nos transmitir como a cabeça de Pratt funciona, e o faz com extrema maestria.

E claro, não posso esquecer de Tom Adkins, como o pai cretino que joga fora a revista do filho na abertura e fechamento do longa. Ele é quase como uma versão mais hardcore do pai fascista que estrela o clipe de We’re Not Gonna Take It, do Twisted Sister.

Fico pensando quem venceria em uma luta: Tom Adkins ou Dee Snyder.

E o macaco podia servir de juiz

Nos anos 1980, fitas VHS eram tão ridiculamente caras, que somente video locadoras podiam comprá-las. A única maneira da população “civil” ter seus filmes favoritos, era gravá-los quando eles passavam na televisão, ou ter dois vídeo-cassetes e fazer a cópia de um filme alugado.

Naqueles tempos, NINGUÉM tinha dois video-cassetes. A maioria das pessoas tinha apenas uma televisão em casa, enão não fazia sentido ter mais de um video-cassete. Mesmo assim, de vez em quando aparecia a oportunidade de fazermos alguma cópia daquele filme querido em cuja locação já haviamos investido fortunas.

Umas duas ou três vezes por ano, um dos amigos do meu irmão aparecia em casa com o seu video-cassete, e os dois passavam tardes inteiras fazendo cópias de documentários sobre música. E quando sobrava algum tempo no dia, eles me deixavam gravar algum filme que me fosse querido. Batman (o do Tim Burton) e Creepshow foram minhas escolhas quando a oportunidade apareceu.

E vou falar pra vocês, eu era completamente OBCECADO com Creepshow. Eu não entendia uma palavra sequer de inglês naqueles tempos, mas assisti este filme tantas vezes, que podia recitar todas as suas falas, foneticamente, do começo ao fim.

Não apenas isso, mas Creepshow também desencadeou três manias bem... Peculiares, na minha infância.

A primeira delas, foi a de enterrar meus bonecos no jardim de casa. Por algum motivo, a primeira história do longa me deixou fascinado com a ideia de um ser, ainda vivo, estar sete palmos abaixo da terra, esperando e planejando sua vingança.

Assim, eu desenvolvi o hábito de pegar o boneco de um soldado Noza (os vilões no Anime Zillion) enfiá-lo no caixão do Mumm-Ra (que vinha com a cripta do vilão) e enterrá-lo. Depois de sepultar o pobre boneco, eu ia embora, cuidar dos afazeres do meu dia, só voltando para desenterrá-lo muito mais tarde, quando já estava escurecendo.

Isso quando eu não esquecia dele e só me lembrava de resgatá-lo no dia seguinte.

A segunda mania foi inspirada na caixa que abrigava o monstro da quarta história do filme.

Eu tinha uma grande caixa de madeira, que durante a Copa do Mundo de 1986, era usada para armazenar as peças de futebol de botão que eu tinha na infância. Eventualmente, perdi o interesse em futebol, e passei a usar a caixa para guardar meu material de desenho: Canetas, folhas de papel, lapiseiras, borrachas e tudo mais.

Eu sonhava em ser artista de quadrinhos na infância, até que a vida esmagou todas as minhas esperanças para o futuro.

Enfim, graças a Creepshow, eu criei o hábito de “selar” minha caixa, da mesma forma que fizeram no filme para prender o monstro em seu interior. Eu não tinha correntes e cadeados, então usava um carretel de linha, e o amarrava em torno da caixa de modo que fosse impossível remover sua tampa.

Então, eu a empurrava para debaixo da minha cama, e jurava a mim mesmo que não voltaria a abri-la. Que aquilo que estava contido nela deveria ficar aprisionado e adormecido, e que apenas as gerações futuras poderiam vislumbrar o horror que habitava aquela caixa.

... Vinte minutos depois eu cortava toda a linha que a fechava, porque eu estava com vontade de desenhar...

Finalmente, Creepshow me fez ficar obcecado por lanternas.

É.

Como o zelador da quarta história tinha uma lanterna, eu decidi que PRECISAVA ter uma também. E crianças, eu infernizei minha pobre mãe por meses por causa disso. Por todo este tempo, ela camelou por Guarulhos inteira atrás de uma lanterna, sem ter sucesso. E como bom moleque gordo mimado, eu ficava emburrado quando ela voltava para casa de mãos vazias.

Finalmente, ela conseguiu a maldita lanterna. E foi GLORIOSO! Oh, sim! Como eu ia me divertir com aquela luz portátil! O céu era o limite para minha imaginação!

No fim, a lanterna era tão divertida quanto a caixa em que ela veio.

Eu era uma criança estúpida.

HA! Acharam mesmo que eu não ia postar imagem com baratas? Agora tentem
não imaginar infestações quando forem pegar um copo na pia.

Eu re-assisti Creepshow hoje, para poder escrever este artigo. Claro, minha percepção do filme mudou desde a infância, mas uma coisa que permaneceu igual foi a diversão. Este é um longa extremamente divertido.

Filmes de terror usam diversas táticas para manter seu público interessado. Suspense, sustos ou a boa e velha violência. Creepshow traz um pouquinho de todas essas coisas, mas no geral, parece mais preocupado em ser simplesmente divertido. Como se seus idealizadores tentassem duplicar aquela sensação que tinham quando liam um gibi de terror da EC Comics quando eram crianças.

Bom, aplausos para eles, pois conseguiram emular com perfeição este sentimento.

De fato, se você tem o hábito de se reunir com os amigos para caçoar de filmes ruins, dê uma chance a Creepshow. Será uma das raras vezes em que você rirão com o filme ao invés de rirem dele.

Antes de ir embora, eu ainda tenho a minha caixa de madeira, e ela ainda está debaixo da minha cama. Eu a usei para guardar meu velho NES por alguns anos, mas hoje não faço mais ideia do que pode haver dentro dela.

Acho que vou dar uma investigada agora. Se eu não voltar... É porque isso foi um erro.

Cheers!!!

10 comentários:

Cleirthom disse...

Já lendo aqui... ;)

Cleirthom disse...

Cara, não faça isso! huaháháhá
Você pode acabar encontrando "monstros" bem reais como baratas, aranhas, ou algo que vai te fazer ficar com uma baita nostalgia!

Cleirthom disse...

Um filme que eu ri bastante foi o do Monstro do armário que passava no SBT. Tinha também um que n me lembro o nome agora, de um monstro que vivia nos esgotos, e ele foi de certa forma criado através de um mix de espermas de seres humanos. Putz! rsrs. Boa noite Amer!

Vitoria Esewer disse...

Nossa eu ADORAVA esse filme! Acho que vi só uma ou duas vezes, mas lembro de algumas cenas detalhadamente! Acho que a minha história preferida era a do casal enterrado na praia kkkkk

Abraços =)

Giovanni Seiji disse...

Eu me tornei muito fã de terror principalmente por causa de duas séries que assitia religiosamente quando criança. Goosebumps e Clube do Medo. E PUTA MERDA! O Episódio do ventríloquo de Goosebumps me dá arrepios até hoje! Tenho um certo medo de bonecos muito realistas por causa daquela porcaria!

Giovanni Seiji disse...

Eu me tornei muito fã de terror principalmente por causa de duas séries que assitia religiosamente quando criança. Goosebumps e Clube do Medo. E PUTA MERDA! O Episódio do ventríloquo de Goosebumps me dá arrepios até hoje! Tenho um certo medo de bonecos muito realistas por causa daquela porcaria!

Adan disse...

E você desenha bem?

Anônimo disse...

Nunca imaginei Leslie Nielsen em um filme de terror de verdade mas pelo que o Amer disse ficou bom e admiro o Stephen King (olha que nem gosto do genero de terror) filme me pareceu curioso principalmente a do Macaco (The Crate) e o Giovanni Seiji me fez lembra do Clube do Terror (que ele chamou de o Clube do Medo) tinha umas historias que até davão medo (talvez não como uma série/filme de terror legitimo mas para meus padrões encanto criança) outros nem tanto era quase um Contos da Cripta para crianças da decada de 1990 mas tava mais para alem da imaginação mas Clube do Terror podia dar medo como num episodio do Coragem o Cão Covarde (que eu me borrava de medo quando era criança) bateu até uma Nostalgia pois é da minha época (sou de 1994) e sobre os Goosebumps eram na verdade uma série de livros de Terror infanto-juvenil (consideram o Harry Potter do início da década de 1990 que depois serviria como base para a série de tevê Goosebumps) sempre tive vontade de ler uns livros dessa coleção enclusive e Amer talvez você encontre algo constrangedor ou algo que você quera deixar no passado e falando nisso que manias hein

Alessandro Goulart disse...

Cara, muito legal o texto. Lembro que quando era criança gostava mais do Creepshow 2, até acho que os atores eram piores, mas as histórias eram mais divertidas. Lembro que tinha o conto do Índio apache de madeira assassino, aquele conto do lago onde tem uma gosma querendo matar um monte de adolescentes e o último que era de um caroneiro do inferno que se recusava a morrer.
Se puder faz um review do creepshow 2 ou do Twilight Zone: The Movie.

Barak disse...

Devo dizer que foi bem feito o que aconteceu pra aquele pai desalmado no final do filme, sem contar que o cara era um hipócrita, pois reeprende o filho por aquela revista quando ele mesmo tinha leitura...imprópria. Esse é o tipo de sujeito que parece que nunca teve infância e se teve, esqueceu.