Vocês sabiam que o criador de Brinquedo Assassino se chama Don Mancini?
É isso mesmo, o sujeito tem nome de mafioso!
Imagino ele, no clube Bada-Bing, com Tony Soprano e os rapazes, sentado no canto escrevendo seu roteiro enquanto os outros planejam ir matar um rival ou qualquer outra coisa que os gangsters fazem.
Aí o Tony vira pra ele e pergunta: O que você tá fazendo aí?
E ele responde: “E... Eu tou escrevendo um roteiro, Tony.”
E o Tony retruca: “O que? Acha que virou o Spielberg, é? Seu viado!", antes de arrebentar a cabeça dele com um balde de metal... Porque o Tony tinha dessas.
Família Soprano era uma boa série.
Mas já divaguei demais. Falemos de Chucky, o boneco assassino.
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Este belo jovem, com olhos azuis penetrantes |
Numa noite fria de inverno (9 de novembro de 1988, a cena de abertura se passa na mesma data de lançamento americano do filme. Maluco, não?) o policial Mike Norris (Chris Sarandon) persegue o criminoso Charles Lee Ray (Brad Dourif) até uma loja de brinquedos. Os dois trocam tiros, e o meliante é ferido mortalmente.
Antes de ir empurrar margaridas, Ray se vê diante de um bonecão horroroso, da linha de brinquedos (fictícia) Good Guy. O sujeito realiza um ritual de magia negra de emergência e transfere sua alma para o brinquedo.
E também causa uma explosão, porque motivos.
A cena corta para a casa de Andy Barclay (Alex Vincent) e sua mãe Karen (Catherine Hicks). É o aniversário do menino, e ele quer um dos bonecos Good Guys, só que eles são caros demais para o orçamento da casa.
Mas mais tarde, a mãe de Andy encontra um mendigo vendendo o boneco a troco de banana. Ela o leva de presente para seu pimpolho e tudo parece bem... Até que sua melhor amiga é jogada do prédio enquanto servia de babá para Andy.
A polícia investiga o caso e acha que o menino é o assassino, mas Andy insiste que foi Chucky quem cometeu o crime. Ninguém acredita nele, e nós ficamos gritando com o filme, porque queremos que um bando de adultos acredite quando um garoto de seis anos fala que seu boneco borrachudo está vivo.
Eventualmente, Chucky descobre que precisa passar sua alma para o corpo de Andy, senão ficará preso ao boneco para sempre. Então começa um processo que se estenderia por mais meia dúzia de filmes.
Não que eu ache que o Chucky deva mudar. Nós o amamos exatamente como é.
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Cheio de fúria assassina contra todos os Sarandons |
Se há duas atuações que vendem o filme, são as de Alex Vincent e Brad Douriff.
Eu dificilmente me entusiasmo com atores e atrizes mirins, porque normalmente eles vêm em uma de duas variações. Na primeira eles são péssimos, e falam todas as suas frases com a emoção de uma lasanha. Se a criança tem um papel pequeno, tudo bem, mas quando ela é o foco de metade do filme (como o maldito Anakin em A Ameaça Fantasma), isso se torna um problema.
O segundo tipo é aquela criança que nada mais é que um adulto em miniatura. Como Dakota Fanning em... Todos os seus filmes de criança. Ela mais parece uma mulher de 30 anos que nunca cresceu do que uma menina. E claro que ela atua bem, mas eu consigo imaginá-la após uma cena, conversando com seus colegas sobre a Crise dos Mísseis de Cuba e o que isso significou para a política ocidental. E essa imagem me tira um pouco do filme.
Alex Vincent é o raro caso de guri que interpreta bem, mas que não deixou de ser criança por isso. Suas frases saem sempre com doçura e sinceridade, e conseguimos acreditar nele como um menino que simplesmente foi parar em uma situação fantástica e terrível.
Ajuda também que ele é fofo feito um botão de rosa, e dá vontade de apertar ele até explodir.
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Exatamente o que eu falei acima |
Quanto a Brad Dourif, eu sei que isso já foi dito um milhão de vezes, mas merece ser repetido: Nenhuma outra pessoa poderia ter dado vida a Chucky.
Não sei se vocês já viram alguma entrevista com Dourif, mas ele parece ser um sujeito muito inteligente, o tipo de cara que tem uma opinião sobre tudo. Dá vontade de chamar o cara pra uma cerveja e simplesmente ouvir o que ele tem a dizer sobre questões sociais. Um boa praça.
Embora tenha pouco tempo de tela como Charles Lee Ray, ele consegue passar uma energia totalmente contrária a sua. Ray é repulsivo, aquele sujeito que quando vemos no metrô, sabemos que é um problema.
Claro, o fato dele mexer com magia negra não ajuda o seu caso, mas vocês me entenderam.
Quando se transforma em Chucky, Dourif precisava passar toda a personalidade horrenda de Charles com a voz, e ele não fez feio. Ele alterna entre um tom mais “casual” e os hoje famosos gritos de Chucky. Era como se o corpo pequeno do boneco não pudesse conter todo o ódio da alma em seu interior, e este sentimento precisasse ser projetado para fora através da sua voz.
De fato, Dourif quase desmaiou ao gravar o grito de morte de Chucky, tamanho o esforço que fez para ter a inflexão desejada.
Isso se chama profissionalismo, queridos.
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... Exatamente o que eu falei acima... |
O roteiro passou por diversas mudanças, até se tornar o filme que todos conhecemos.
Na primeira versão, os bonecos Good Guys teriam pele de latex e um composto que simularia sangue. A ideia é que quando um dos bonecos “se machucasse”, as crianças poderiam encher o saco dos pais para comprar Band-Aids oficiais da série. Nessa história, Andy se cortaria e misturaria seu sangue com o do boneco, formando um “pacto de sangue”, e seria isso que lhe daria vida. Deste momento em diante, “Buddy” (o nome original do vilão) mataria a todos que de alguma forma se indispusessem com o garoto, como sua babá ou sua professora.
Mancini queria que o boneco representasse a raiva reprimida de Andy, que fora abandonado pelo pai e que mal via a mãe, que estava sempre presa no trabalho. O filme seria mais psicológico e deixaria o público incerto sobre quem estaria cometendo os assassinatos, Buddy ou Andy.
A versão final não nos dá a chance de criar esta dúvida, pois logo na abertura vemos Charles Lee Ray passar sua alma para o boneco. Mas outro tipo de suspense foi criado no processo, um que pode ser muito bem explicado pela “analogia da bomba”.
Alfred Hitchcock dizia que uma boa maneira de deixar a platéia aflita, é dar a elas um conhecimento que os personagens não tem. Por exemplo, duas pessoas estão sentadas à mesa, e há uma bomba debaixo dela. Nós sabemos que o explosivo está lá, mas os personagens não, e começamos a ficar aflitos, porque queremos que eles saiam dalí o quanto antes, pois estão correndo risco de vida... E os dois lá, papeando sobre quem foi o último músico que se apresentou no último programa do Chacrinha.
Algo similar acontece aqui. Chucky mata as pessoas, a polícia suspeita que Andy seja o culpado, mas nós sabemos quem foi de verdade. E ficamos ofendidos de ver que nem mesmo a mãe de Andy acredita nele, quando na verdade, nenhum de nós acreditaria se fosse confrontado com esta situação.
No fim das contas, não foi a ideia que Don Mancini queria filmar, mas deu certo da mesma forma. Pois quase duas décadas depois e ainda estamos falando de Chucky.
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E Jennifer Tilly nem era parte da série ainda Se bem que eu também aprecio uma MILF de vez em quando |
Agora, quando eu era adolescente, eu tive um amigo que era um completo lunático. Do tipo que acha que atirar em bibliotecárias e deixá-las paraplégicas é um bom passatempo para o sábado a tarde. E este amigo tinha dois irmãos caçulas, que ele torturava diariamente, como todo irmão mais velho que se preze.
Uma bela noite, os meninos assistiram Brinquedo Assassino e ficaram completamente aterrorizados. Sabe como seu priminho passa a cuidar melhor dos brinquedos dele depois de assistir Toy Story? Parecido, só que ao contrário. Os moleques passaram a achar que os brinquedos criavam vida e matavam as pessoas a noite.
E por algum motivo, eles tinham um boneco do Senninha. Sabe o Senninha? Pois é, o Senninha.
Senninha este que passou a dormir em uma cadeira no corredor, toda noite, depois que os meninos viram a aventura de Chucky.
Uma noite, meu amigo estava entediado. Lembrem-se que na década de 1990 não havia internet, e não dava pra virar a madrugada assistindo pornografia de rinocerontes. Se quiséssemos ficar acordados, tínhamos de arranjar o que fazer.
Eis que meu amigo foi até o corredor, abriu a porta do quarto dos irmãos (que estavam no sétimo sono a esta altura), gritou: “OLHA O CHUCKY” e jogou o Senninha no beliche dos meninos, que gritaram com tanta força que causaram um abalo sísmico no Chile.
Conheci muita gente interessante nessa vida.
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Mas ver uma criança dormir com um boneco tão horrível é traumático pra qualquer um |
O que resta para dizer? Bem, embora este não tenha sido o primeiro filme a mostrar um brinquedo que mata pessoas, ele ajudou a trazer este conceito para um ambiente contemporâneo com o qual todos estamos familiarizados.
E de quebra ganhamos Chucky, que é um dos monstros mais únicos e icônicos que o cinema já criou.
Assim, dê uma chance a Brinquedo Assassino se puder. Ele é muito melhor do que você se lembra, tenho certeza.
Cheers!!!
6 comentários:
O Brad Dourif também faz o Grima no Senhor dos Anéis. É legal que ele consegue ser bem repulsivo e nojento, mas bem diferente do Charles Lee Ray. Realmente um ótimo ator. E que fim deu o menino Alex?
Largou a atuação. Hoje trabalha como engenheiro elétrico.
Mas ele fez uma ponta na cena pós-créditos de A Maldição de Chucky.
Mas uma ótima postagem do Amer
Sem falar que o filme despertou o medo voluntário ou não a um personagem querido das crianças : O Fofao. Que, Não me lembro bem da história, mas parece que antes ou após o lançamento do brinquedo assassino, inventaram de lançar um boneco do fofao. Que numa coincidência desgraçada, lembrava o Chuck por crianças e adultos. Que numa geração onde se passava filme de terror à tarde, ficava fácil plantar o medo nas crianças num cinema em casa.
Tinha até uma história de que o boneco do Fofão continha uma faca dentro. Minha irmã, com 6 anos na época, tinha um quando ouviu isso e dizia que o boneco levantava de noite e a ficava encarando. Ela lutou pra encontrar uma coleguinha que quisesse o boneco. Foi tenso.
Enfim, já vi filmes do Freddy e do Jason, mas, por incressa que parível, nunca tive estômago pra ver um do Chucky. Vai ver pq a ideia de um assassino em miniatura que pode ser comprado na Rihappy e guardado na estante até levantar de noite era muito macabra...
Eu tive um boneco do Fofão, mas foi bem antes de assistir Brinquedo Assassino (e continuações) e nunca soube da história da "faca" na época(não era uma faca, era apenas um pedaço de plástico que ajudava a dar sustentação pra cabeça). Ou seja, meu boneco felizmente não me deixou traumas de infância, exceto a própria feiúra, hehe.
Quanto ao filme, revi recentemente, e é incrível como ele envelheceu bem (exceto, na minha opinião, nas últimas partes; apesar de bem filmada, a ideia da cena pós-lareira (pra não dar spoilers) é meio tosca). Assino embaixo de tudo que o Amer falou, e destaco mais, a cena da revelação do Chucky para a mãe do Andy é a melhor parte do filme. Também vale destaque para a atuação do detetive, que não é presunçoso demais e não tenta ser o herói da história o tempo todo (ele é até meio que vilão, considerando o Andy culpado no início e na metade do filme).
Agora, um detalhe que o Amer poderia ter destacado é o outro brinquedo assassino do Andy: seu kit de marceneiro. O kit vinha com um martelo e pregos reais (e se me lembro bem, uma chave de fenda e uma serra); em tamanhos menores, verdade, mas o martelo é justamente a arma que o Chucky usa pra matar a amiga da mãe do Andy! Imagina o estrago que um garoto de seis anos poderia fazer nos próprios dedos ou nos amiguinhos, brincando com esse troço...
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