quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Mês das Bruxas: 25 Clássicos do Terror - Hellraiser - Renascido do Inferno


“Eu vi o futuro do terror. E seu nome é Clive Barker.”

Esta frase foi proferida por Stephen King, quando conheceu a obra do autor inglês. Na época, todas as publicações de horror tomaram tais palavras como o sinal de que Barker traria algo novo e incrível para o gênero.

E no fim das contas, foi exatamente o que aconteceu.


"Olha lá. O Stephen gostou do nosso livro!"
"Que "NOSSO"? Eu fiz tudo sozinho!"
"Mas eu te trouxe tubaína e mariola!"
"FIZ. TUDO. SOZINHO!"

Nossa história começa com Frank Cotton (Sean Chapman), um hedonista que busca o limite do prazer absoluto. Suas viagens o levam até um estranho quebra cabeça em forma de cubo, que pode ser a chave para aquilo que tanto procura.

O cubo é na verdade a Configuração do Lamento, uma chave para outra dimensão e as criaturas que nela habitam: Os Cenobitas. Exploradores dos limites da dor e do prazer, que mutilam os próprios corpos até as duas sensações tornarem-se indistintas.

Assim que abre a caixa, Frank é despedaçado por ganchos presos em correntes, e levado para ser mais um dos experimentos dos demônios que contatou.

Algum tempo depois, a casa de Frank é ocupada por seu irmão Larry (Andrew Robinson) e sua esposa, Julia (Claire Higgins). O casal planeja reformá-la e morar nela, e está totalmente alheio ao horror que aconteceu no local.

As coisas mudam quando em um acidente, Larry corta a mão. Seu sangue suja o assoalho do sótão (onde Frank teve seu “encontro” com os Cenobitas) e de alguma forma, o revive. Mas o sujeito não volta como era, e sim, como um mero amontoado de órgãos e músculos parciais. Ele precisa de mais sangue se quiser voltar a ser quem era.

É aí que entra Julia, que teve um caso com Frank no passado e nunca o esqueceu. Ela aceita trazer homens até sua casa, para servirem de “refeição” para seu amante repulsivo, e assim ele possa recuperar sua humanidade.

Mas há uma variante com a qual os dois não contavam: Kirsty Cotton (Ashley Laurence), filha de Larry, que os descobre e rouba a Configuração do Lamento deles. Por acidente, ela também evoca os Cenobitas, e bem... É aí que as coisas começam a ficar interessantes.

E claro, temos muito SANGUE, MORTE, ENTRANHAS, ÓRGÃOS INTERNOS ESPALHADOS e CARNIFICINA em meio a tudo isso.

Diversão para toda a família.

"Eu não estou morto! Estou só descansando!"

O filme foi inspirado no livro The Hellbound Heart, escrito pelo próprio Barker em 1986. Quando apresentou o projeto aos executivos do estúdio, eles o pediram que usasse um nome diferente, pois o título do livro se parecia muito com um romance.

Assim, o escritor ofereceu o título “Sadomasoquistas do Além-Túmulo”, que foi rejeitado por razões óbvias. Antes de decidir usar Hellraiser - Renascido do Inferno, ele reuniu a equipe do filme e aceitou sugestões. Foi quando uma assistente na casa dos 60 anos disse que o filme deveria se chamar “O que uma Mulher não faz por uma Boa Trepada”.

Apenas podemos imaginar como seria a história, se o filme tivesse recebido este nome tão brilhante.

Outra sugestão dos executivos, foi para que a personalidade do Pinhead (interpretado por Doug Bradley) fosse alterada. Alguns queriam que o ele fosse mais cômico, como Freddy Krueger, enquanto outros achavam que ele deveria ser um assassino silencioso, como Jason Voorhees ou Michael Myers. Mas o autor rejeitou ambas as idéias, pois acreditava que o personagem era bastante assustador do jeito que fora imaginado.

De acordo com Barker, Pinhead foi inspirado na interpretação de Christopher Lee para Drácula. O escritor explica que há uma inegável inteligência no conde, e é isso que o torna assustador, sentir que o vilão está sempre três passos a sua frente. Ele tentou recriar esta impressão em seu monstro, por isso fez o Pinhead ser uma criatura articulada e esperta, com a qual é possível dialogar e negociar, mas que sempre mantém suas reais intenções ocultas.

Clive Barker e Doug Bradley debateram muito sobre como seria a melhor forma de interpretar o vilão no filme. Eles decidiram que o personagem era como o diretor de um hospital que possui apenas alas cirúrgicas. E que além de supervisionar o trabalho dos colegas e manter o lugar funcionando, também seria responsável por diversas das operações lá realizadas.

Para o líder dos Cenobitas, cuidar de sua dimensão, coletar novas "cobaias” e torturá-las até o limite, não passa de um trabalho. Ele não age com a malícia de um Freddy, ou com a fúria de um Jason. Ele apenas faz aquilo que tornou-se sua função no universo.

Além disso, a dupla também decidiu muito cedo que o Pinhead teria sido humano em algum momento de sua história. Bradley descreve que a idéia do monstro ter um perpétuo pesar pela humanidade que perdera, e do qual ele sequer se lembrava, lhe atribuía muita personalidade. Ser atormentado por esta sensação, ao ponto de existir em um limbo emocional onde dor e prazer não tinham mais nenhum impacto, era para o ator, a descrição perfeita de um inferno pessoal.

Curiosamente, Bradley quase não aceitou este papel. Ele acreditava na época que como ator, deveria manter seu rosto sempre a vista, para tornar-se conhecido do público, e que aplicar uma pesada camada de maquiagem era contra produtivo nesse respeito. Ao invés disso, ele cogitou seriamente interpretar o papel de um dos carregadores que entra com o colchão em casa, na cena da mudança.

...

QUE BOM QUE VOCÊ VOLTOU ATRÁS, NÃO É, DOUG???

Ele passou a andar com uma turma estranha depois que
perdeu o Costelinha.

Hellraiser – Renascido do Inferno tem dois antagonistas bem definidos, na figura de Frank e dos Cenobitas. Mas se querem minha opinião, Frank é um ser muito pior do que Pinhead e sua trupe.

Os Cenobitas são apresentados como criaturas ambíguas e neutras. Eles apenas atendem ao chamado daqueles que resolvem o enigma da Configuração do Lamento e levam a pessoa para sua dimensão. De fato, no livro as criaturas alertam Frank que aquilo que lhe oferecem pode não ser o que ele espera, e lhe dão uma chance para reconsiderar. Um gesto nobre, se considerarmos que eles são seres que nascem da pura depravação humana.

Já Frank, é egoísta e não tem problemas em destruir vidas, se isso lhe trouxer algum benefício, por menor que seja.

Na história, Frank invade a casa de Julia uma semana antes do casamento de seu irmão, a manipula com sua selvageria magnética, a usa a seu bel-prazer e joga fora. A moça nunca supera isso e sonha eternamente em provar daquele prazer carnal, o que a torna totalmente apática em relação a seu marido e fria em seu casamento.

Frank destrói a chance de seu irmão viúvo de re-encontrar a felicidade, apenas porque queria uma tarde de sexo com alguém que não podia ter.

E assim que escapa do Inferno, qual a primeira coisa que faz? Ele manipula Julia mais uma vez, para que lhe traga vítimas, as quais ele possa usar para reconstruir o próprio corpo. Ele destrói inúmeras vidas, pois quer fugir de um tormento que ele próprio criou, mas não quer mais enfrentar.

E pessoas como Frank existem em todos os lugares. Egoístas, destrutivos, que não se importam com nada nem ninguém, exceto com o próprio conforto. Toda família tem alguém assim, que vive as custas dos pais ou avós, nunca demonstra uma gota de interesse por eles, e que na primeira chance que pode, os coloca em um asilo de quinta categoria, vende a casa deles e foge com o dinheiro.

Monstros como os Cenobitas são idealizações de uma forma de depravação que vai além da compreensão humana. São o fruto da imaginação de um escritor tremendamente criativo.

Frank é um monstro da vida real. Com motivações egoístas que podemos ver diariamente nas pessoas que nos cercam.

Aposto que você pensou em alguém muito específico agora.
Só que com mais pele...

Quando era garoto, fiquei obcecado por este filme... Porque eu me obcecava por todo maldito filme de terror que assistisse naqueles tempos. É o que acontece quando você não tem amigos e apanha dos bullies da escola todo dia! E depois que volta pra casa, apanha do seu irmão mais velho! Quando sua vida é uma espiral de surras você acaba vendo como único amigo um demônio masoquista com pregos enfiados na cabeça!!!

Mas... Estou divagando.

O caso é que eu tinha uma máscara do Jason (que foi quebrada pela bunda imensa de uma tia que não a viu no sofá quando veio nos visitar, mas isso é uma outra história) e precisava de uma luva do Freddy e uma Configuração do Lamento para completar minha trindade de tralhas do horror.

Hoje, é só flutuar até o eBay que podemos encontrar o Cubo com dois cliques do mouse, mas naqueles longínquos tempos de 1987, não dava pra confiar tanto em sites de compra online.

Assim, decidi que se queria ter o artefato, teria de fazê-lo eu mesmo. COMO? Bem, eu peguei a caixa da minha mola maluca, e...

Isso, “Mola Maluca”. Você sabe, todos tivemos uma, tentávamos fazer ela descer a escada e ficávamos frustrados quando o metal dela entortava e a tornava inútil meia hora depois dela ter sido tirada da embalagem.

Enfim, a caixa da minha Mola Maluca era um cubo perfeito. Então eu desenhei as faces da Configuração do Lamento em folhas de papel sulfite, as colori com canetinha hidrocor, recortei e colei uma a uma, nos lados da caixa que tinha em mãos.

E ficou ó... Uma bosta!

Mas na época eu fiquei extremamente orgulhoso, como só um guri de oito anos é capaz, ao construir algo com as próprias mãos.

...

Ainda quero a Configuração do Lamento. Então, se decidirem me dar um presente de aniversário, já sabem o que procurar.

Porque é claro que eu não vou fazer merda
com uma coisa dessas em mãos

Hellraiser: Renascido do Inferno, é um dos mais importantes filmes de terror já criados. E sem dúvida alguma faz por merecer esta posição.

Clive Barker criou um mundo horrível, habitado por criaturas asquerosas. Mas estes monstros não perseguem suas vítimas como os típicos maníacos do cinema, somos nós que vamos até eles, guiados apenas por nossa própria degradação moral.

No fim, o caminho para o mal encontra-se apenas no coração dos homens, e os Cenobitas apenas refletem os horrores que somos capazes de fazer uns com os outros, e a nós mesmos.

Apenas algo a se pensar, na escuridão e silêncio da noite.

Cheers!!!

11 comentários:

Danilo Silva disse...

Quando é seu aniversário, Amer? :D

Anderson ANDF disse...

Vi Hellraiser já da metade pro final, quando passou na Ulbra TV em 2008. Hoje, a emissora retransmite a TV Cultura.
Bem bizarro. Inclusive, aquele monstrão com a cabeça perto do chão (se não me confundi...).

Giovanni Seiji disse...

Grande Amer! Esse mês vc tá que tá! rincadeira, ein!

Hellraiser é e sempre será pra mim um dos maiores filmes de terror de todos os tempos. Lembro que a primeira vez que o vi, eu era um moleque e meu pai me levou à locadora pra escolher os filmes pro fim de semana (sim, na boa e velha época em que você alugava 3 VHS na sexta, levava outro de graça e só devolvia na segunda).
E nesse dia em especial, eles estavam com uma promoção em que você escolhia uns 5 filmes e podia ficar com uma das fitas!! Não entendo até hoje como isso seria uma forma de comércio viável, mas sei lá...era a década de 90, uma época estranha, MAS O FATO É: Eu vi a capa dessa fita e achei ela demais! Então disse que já sabia qual filme íamos "comprar", e fomos embora pra boa e velha seção de filmes.
Não preciso dizer que minha mãe ficou puta por meu pai ter deixado eu trazer um filme tão bizarro e grotesco pra casa, provável que eu tenha tido pesadelo por 4 noites seguidas e parte da minha inocência morreu quando assisti o filme.
Mas pelo menos me interessei em Cubos Mágicos! Porque eu imaginava que talvez eu pudesse resolve-lo e dar um hi-five no Pinhead, porque ele é demais!

Percebo agora que me empolguei escrevendo....sinto muito....mas eu realmente gosto muito desse filme! =D

Até o próximo post Grande Amer!!

Equipe TI Responsável disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Equipe TI Responsável disse...

Amer, você vai falar sobre os outros filmes? Porque eu ouvi dizer que um deles é bem merda...Foi você quem disse... Tinha até a foto de um Pinhead gordo...

Leandro"ODST Belmont Kingsglaive" Alves the devil summoner disse...

É por isso que dizem que depois de verem Hellraiser, nunca viram um Cubo mágico da mesma maneira.

Anônimo disse...

Reuamente pensei em alguém muito específico

Shadow Geisel disse...

Eu já via o cubo mágico desse jeito antes de assistir Hellraiser. Odeio aquele troço. rsrsrs

DEN disse...

Sou fâ da maioria das obras do Clive Barker , Voce poderia postar sobre outros filmes baseados nas histórias dele heim Amer?

Tipo Candyman 1 e 2, O mestre das ilusões, Raça das Trevas (que tem uma série em quadrinhos foda), e o HellRaiser 2 e 3 (depois disso a série decaiu muito).

Azrael_I disse...

*Aplausos*

Muito bem, Amer! Descreveu perfeitamente bem o fato de o Frank ser o verdadeiro vilão do filme! Eu não teria dito melhor (e olhe que sou um grande fã dessa franquia, já escrevi até fanfic quando era novo... foi graças a esta série que passei a gostar de quebra-cabeças e de Matemática (pois todos os problemas de Matemática ficam muito mais gostosos se pensar neles como Puzzles). Dos filmes, eu ainda gosto mais do segundo (que foi o primeiro que assisti e, como disse, me fez gostar de puzzles), mas o primeiro com certeza é excelente (apesar dos efeitos especiais prá lá de ultrapassados; em uma cena é possível até ver os trilhos e cabos que sustentam um dos monstros). O terceiro, por sua vez, já mudou a personalidade do Pinhead, tornando-o verdadeiramente vilanesco (ainda mais porque não fazia sentido insistir na história do Frank e da Julia), e teria sido até bom, se tivessem parado nele, porque daí em diante foi ladeira abaixo. Pelo menos a Angelique aparece em um deles.

Acho interessante também a rica história que existe por trás de todos os personagens (humanos ou não). Suas motivações, seus passados e, principalmente, seus desejos são mostrados durante mais tempo do que o próprio desenrolar dos filmes em si, o que é o grande diferencial da série.

Italo Amadeus, existe um total de NOVE filmes da série; embora eu curta o terceiro filme (além dos dois primeiros, evidentemente), muita gente diz que a partir dele é que começaram a fazer merda. Pra você ter uma ideia, o quarto filme começa no futuro, numa estação espacial, e a Configuração do lamento é resolvida por um robô... Muito me dói que seja neste filme que aparece a Angelique...

Além dos filmes e do livro que originou o primeiro filme, a série é bem grande, tendo outros livros, revistas em quadrinhos (publicadas pela Marvel!! Existe também a série da Boom! Studios, sendo que ambas as séries foram escritas e/ou consultadas pelo próprio Clive Barker), uma sequência do livro original (The Scarlet Gospels, publicado este ano também pelo Barker), um livro com 21 histórias referentes ao universo da série, e até mesmo uma série de TV está em desenvolvimento, juntamente com o reboot da franquia (é, infelizmente, mais um reboot... a boa notícia é que Doug Bradley aceitou fazer de novo o Pinhead no reboot).

Ah, e pra quem não entendeu esse meu fãboyismo pela Angelique, é simplesmente porque, fora dos filmes, ela é muito mais importante nas histórias que o Pinhead, que só ficou famoso graças à excelente atuação do Doug Bradley nos filmes.

L disse...

Esse filme é fodástico!!!! Parabéns pela resenha Amer!!!!