Existiu uma época em que Ridley Scott não estava gagá. Neste tempo, hoje tão distante, ele nos brincou com um dos mais espetaculares filmes já criados: Blade Runner – O Caçador de Andróides.
Mas não é dele que falaremos hoje. Preparem-se para relembra de todo o horror de Alien, o Oitavo Passageiro.
SERIOUS MODE: ATIVADO!!!
Está vendo? Estamos bebendo café. Apenas pessoas sérias consomem tanto café assim. |
A história se passa em um futuro distante, onde viagens espaciais tornaram-se tão mundanas quanto atravessar a cidade de carro. Somos trazidos a bordo da Nostromo, uma nave comercial que está a caminho da Terra.
Durante a viagem, o computador da nave detecta uma transmissão vinda de um planeta distante, e acorda a tripulação (até então em sono criogênico). Todos concordam que a mensagem recebida pode ser um pedido de socorro, e o protocolo nestas situações é prestar ajuda aos necessitados.
A nave aterrissa e três membros da equipe descem no planeta, Dallas (Tom Skerrit), Kane (John Hurt) e Lambert (Veronica Cartwright), onde encontram uma gigantesca estrutura alienígena e um corpo humanóide gigantesco com um furo em seu peito, que parece ter sido feito de dentro para fora. Enquanto isso, Ash (Ian Holm), Brett (Harry Dean Stanton), Parker (Yaphet Kotto) e Ripley (Sigourney Weaver) permanecem a bordo da Nostromo, supervisionando as atividades do grupo de busca e fazendo a manutenção da nave.
Ao investigar as ruínas, os três astronautas dão de cara com fileiras do que parecem ser ovos, um deles eclode e uma criatura que parece uma aranha agarra o rosto de Kane, que é levado às pressas de volta para a nave. Tentativas de remover a criatura cirurgicamente não dão certo, pois ela possui sangue ácido, forte o suficiente para corroer as diversas camadas de aço da nave e causar uma brecha em seu casco. Enquanto tentam encontrar uma solução, a criatura simplesmente solta o rosto de Kane e cai morta.
Tudo parece ok, e o grupo decide fazer uma última refeição antes de entrar novamente em sono criogênico. Neste momento, Kane engasga e grita de dor... Quando uma pequena e horrenda criatura arrebenta seu peito e foge, escondendo-se em algum lugar da nave.
Como não podem matar o monstrinho de formas convencionais (sangue ácido, lembram?) Dallas decide que a melhor estratégia é encurralar a criatura em uma saída de ar, e então evacuá-la no espaço sideral. Infelizmente, o monstro amadurece de forma extremamente rápida, e passa a eliminar um a um os passageiros da nave.
Um conceito muito simples, verdade. Mas tão bem executado que Alien, o Oitavo Passageiro se mantém um dos mais enervantes filmes de horror já criados, mesmo com quase quatro décadas de idade.
E mesmo com tudo isso, o gato Jones continua entediado |
Uma das coisas que torna este filme tão horripilante (além do maldito Alien, claro) é a forma como ele apresenta as viagens espaciais.
Normalmente, a ficção científica mostra naves espaciais como coisas incríveis, e suas tripulações são sempre formadas pelas pessoas mais impressionantes, incríveis e bonitas que a galáxia tem a oferecer.
Por exemplo, o oficial de ciências é sempre retratado como um super gênio, que conhece todo o tipo de elemento químico e fenômeno natural de que se tem notícia, e que pode resolver tranquilamente qualquer problema intelectual que apareça. Não atrapalha se ele se parecer com um professor universitário sexy, do tipo que habita as fantasias de suas alunas assim que acaba o semestre.
O Sr. Spock, por exemplo, tinha esse charme. E encharcou muitas calcinhas em seu tempo.
Seguido anos depois pelo Tenente Data.
E não apenas os cientistas, mas engenheiros são mostrados como caras capazes de abastecer uma turbina nuclear usando apenas fraldas sujas, médicos conseguem realizar cirurgias cardíacas usando apenas uma faca de rocambole e Gatorade, e oficiais de comunicação parecem ter aprendido todos os idiomas do universo, e são capazes de resolver qualquer mal entendido com meia dúzia de palavras bem colocadas e um sorriso... A menos que um engano cultural possa gerar alívio cômico.
Enfim, a vida no espaço é mostrada como perfeita. Mas isso só ocorre porque ela não é nossa realidade, mas como idealizamos que será a vida dentro de quatro séculos. Aquilo tudo já é comum para os personagens que imaginamos no futuro, mas nunca é representado como tal.
Me diga uma coisa, você fica impressionado com carros? Não me refiro a um modelo específico de carro do qual você goste, mas quando você sai por aí e vê dezenas, centenas de carros na rua, com pessoas dirigindo até o trabalho, ou até a faculdade, ou deixando os filhos na escola, ou simplesmente indo até o mercado para comprar aquilo que está faltando em casa... Você fica impressionado?
Eu imagino que não, pois carros já são algo mundano de nosso dia-a-dia. Existem tantas pessoas dirigindo o tempo todo, que automóveis apenas se tornaram parte do cenário, e é muito difícil romantizá-los.
Da mesma forma, a Nostromo existe em uma época onde viagens espaciais se tornaram lugar comum. Estar em uma nave que atravessa o cosmo não quer dizer grande coisa, porque todo mundo faz isso. Ripley e seus colegas não são glamorosos exploradores interplanetários, mas trabalhadores desempenhando uma função monótona, apenas porque precisam pagar as contas no fim do mês.
Graças a isso, é fácil para o público se identificar com os personagens e se colocar no lugar deles. São todos homens e mulheres normais, como eu e você, que acabaram vítimas de uma situação tenebrosa. Podemos nos projetar na história, junto deles e tentar imaginar como lidaríamos com uma criatura abominável como o Xenomorfo.
E no fim, todos estamos plenamente cientes que não sobreviveríamos a uma situação dessas. Este sentimento de impotência e fraqueza permanece com a platéia muito depois do filme ter acabado e é graças a ele que a experiência de assistir Alien, o Oitavo Passageiro, nunca perde a sua força.
Não tenho nada inteligente pra dizer aqui, então fiquem com uma foto de Sigourney Weaver. Porque Sigourney Weaver nunca é demais |
Enquanto me preparava para escrever, li um artigo muito bom, que debatia o conceito que tornava o Alien tão repelente.
Normalmente, extraterrestres no cinema são apresentados como criaturas inteligentes, tecnologicamente avançadas ao ponto de dominarem a viagem espacial, e que abandonaram suas tendências destrutivas a muito tempo. Se entram em contato conosco, é para fazer amizade, como os Vulcanos em Star Trek, ou as Asari em Mass Effect.
Mesmo criaturas hostis são, em grande parte, racionais. Por mais violento que seja um guerreiro Klingon, ainda é possível dissuadí-lo, apelar a sua honra, mostrar-lhe um novo caminho. Por piores que sejam as pessoas de outro planeta, elas ainda são criadas tendo como base as melhores características da humanidade, que são então elevadas a um patamar quase idealista.
O Xenomorfo por sua vez, carrega o que há de pior na humanidade.
Quando escreviam o roteiro, Dan O’ Bannon (isso, aquele que dirigiu A Volta dos Mortos-Vivos) e Ronald Shusset não sabiam como fazer para o alienígena embarcar na Nostromo. Após muito deliberarem, Shusset simplesmente disse: “O Alien fode um deles.”
E daí nasceu o conceito dos Aliens como parasitas que “estupram” outras espécies como forma de se reproduzirem.
O primeiro estágio da criatura é o Facehugger, onde ele se prende ao rosto de sua vítima e força um embrião por sua garganta, até se alojar em seu peito. Quando o mesmo amadurece, ele força a saída, causando a morte de seu hospedeiro. Não apenas ele é a vítima de um ato de violência do qual não pôde se defender, como também teve de arcar com as consequências posteriores dele.
A semelhança do ciclo de vida do Alien com um estupro se fez bastante clara agora, não?
Não bastasse isso, H.R Giger propositalmente deu um formato fálico a cabeça do Xenomorfo. O artista sempre equivaleu que sexo, embora possa criar vida, também tem um enorme potencial para trazer dor e sofrimento.
Com esta ideia em mente, Bannon e Shusset optaram por fazer com que um homem fosse sua primeira vítima. Para escapar do clichê da “mocinha indefesa” que se tornou tão batido no gênero do terro, já em 1979, e porque acreditaram que colocar uma das atrizes como vítima de estupro simbólico seria de extremo mau gosto.
Além disso, eles sentiram que a parcela masculina do público ficaria muito desconfortável ao ver um ator sofrer este tipo de violência. E foi por isso que John Hurt pagou o pato.
"Viaje pelo espaço, eles disseram. Vai ser divertido, eles disseram." |
Por mais que eu adore a série Alien, assisti a cada um de seus filmes apenas uma vez. Um feito raro, considerando que quando gosto de um filme, o vejo vezes suficientes para que seus atores cansem de ver minha cara cada vez que aparecem na tela. Scarlett Johansson já abriu dois processos por assédio contra mim, por todas as vezes que eu assisti Os Vingadores.
Mas no caso de Alien, isso tem a ver com a lendária... FITA BRANCA!!!
...
Eis que me percebo que isso não significa nada para vocês. Então é hora de contar mais uma história.
Bem, Alien, o Oitavo Passageiro estava entre a segunda leva de filmes que alugamos, logo que ganhamos nosso primeiro video cassete. Uma bela noite de terça-feira (e sei lá como eu me lembro qual dia da semana era) eu e minha mãe decidimos que aquele era um excelente momento para assistirmos a obra do senhor Scott.
Assim, nos jogamos no sofá, ficamos confortáveis, eu peguei um pacote de Zambinos (um salgadinho dos anos 1980 que a molecada de hoje não teve o prazer de conhecer) e nos preparamos para ver dezenas de pessoas serem chacinadas por um monstro peniano.
Então colocamos a fita no aparelho, demos Play e... BRANCO...
A imagem estava em branco. Não cheia de chuviscos, como acontecia sempre que se colocava uma fita virgem no aparelho. Era como se alguém tivesse filmado uma folha em branco por duas horas. Por mais que Ridley Scott fosse um louco, eu duvido que isso tivesse sido obra dele.
Se bem que ele fez Prometheus... Então tudo é possível.
Independente disso, ainda eramos muito supersticiosos naqueles tempos. Não sabíamos se aquela fita branca poderia danificar nosso aparelho, então optamos por ejetá-la e nunca mais tocar no assunto “Alien”. De fato, uma tarde fomos até a locadora e eu sugeri que alugássemos o filme de novo, ao que minha mãe imediatamente respondeu: “Não, esse filme não presta.”
E tais palavras ficaram gravadas a fogo em minha mente. Deste dia em diante, nunca mais assisti os filmes da franquia, porque eu era UM BOM MENINO QUE EVITAVA COISAS NÃO PRESTANTES!!!
...
Anos depois, parei de levar as coisas tão ao pé da letra e vi ao resto da série.
E agora que pensei bem sobre o assunto me ocorreu que a fita branca não era Alien, o Oitavo Passageiro, mas sua continuação, Aliens: O Resgate. E que teria sido melhor guardar essa história para o futuro, quando escrever sobre ela.
Mas bem, escrevi 436 palavras para contar essa história, e não vou desperdiçá-las por uma tecnicalidade como essa.
"Me dá um abraaaaaaaaaaaaço!" |
Para finalizar, quero dizer que eu achava Sigourney Weaver feia quando eu era garoto.
Pois é. De fato, eu achava feias todas as mulheres que não se parecessem com Jennifer Connely, Phoebe Cates ou Tamlym Tomita.
Eu era uma criança de mente muito fechada. Felizmente, hoje reconheço Sigourney Weaver como a gata que é, foi e sempre será.
Mas... Meu coração ainda pertence a Jennifer Connely. Fazer o quê? Sou um homem leal.
Cheers!!!
6 comentários:
É difícil fazer piada com um filme tão fodástico.
Assisti ao Alien uma só vez, em VHS.
O curioso é que isso foi anos beeem depois que vi Aliens- O Resgate quando era criança, numa Tela Quente.
Alien - O Oitavo Passageiro está sem dúvida entre os filmes que mais amo na vida. Seja por além de terror, ser uma ficção-científica (um gênero pelo qual tenho amor incondicional), pela sua claustrofóbica tensão por todo a projeção, pelos personagens mais humanos, pelo Alien em si, enfim, um filme incrível. Muito interessante você fazer um paralelo entre a reprodução do Alien e o estupro. Eu já tinha lido que ele tinha aspectos relacionados à forma fálica, mas nunca pensei no ato em si lembrar um estupro.
Além disso (e não menos importante), o filme foi um dos pioneiros em nos apresentar uma protagonista feminina chutadora de bundas e fez isso tão bem que até hoje, Ripley continua uma excelente personagem. Tanto é que ela é, pra mim, a maior heroína do cinema.
Os outros filmes da franquia não fizeram jus ao primeiro. O segundo é muito bom, mas vai mais pro lado da ação. O terceiro e o quarto são tão desgraçados que eu nem considero na cronologia. E, me julguem, eu gostei de Prometheus. Pois é.
Outra coisa, dessa vez mais pessoal: esse filme carrega pra mim uma conexão com a minha mãe, por dois motivos: primeiro porque foi ela quem me apresentou, numa madrugada, na época do Intercine; segundo, porque minha mãe, quando jovem, parecia a Sigourney Weaver.
Enfim, acho que escrevi de mais. Se você veio até aqui Amer, foi mal te fazer ler tanto, mas eu amo tanto esse filme e gosto muito do seu blog, então precisa escrever.
Tá aí um filme que não me canso de ver. E também gosto muito de Aliens, muito mesmo, a ponto de não conseguir me decidir se gosto mais desse ou da sequência.
E não gostei de Prometheus mas gosto de Alien³...de um jeito estranho, mas gosto.
Me julguem.
Diana, pode escrever o quanto quiser. Pessoas pensantes e que gostam de se expressar sempre são bem vindas aqui. :)
Obrigada Amer! :)
Ah, e aproveitando, gostava muito de ler seus textos lá no blog sobre cinema, do portal Pop. Uma pena os textos não estarem mais disponíveis.
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