Uma vez a cada muitas luas, aparece um filme tão absurdo, retardado e ruim, que não há como não se apaixonar imediatamente por ele.
Basket Case é tudo isso e muito menos.
SPOILERS a seguir.
Não, este não é o monstro do filme. Nos anos 1980, as pessoas usavam o cabelo assim por vontade própria. |
Aqui acompanhamos as aventuras de Duane Bradley (Kevin Van Hentenryck) um típico rapaz estadunidense feio, que carrega uma cesta de piquenique consigo para onde quer que vá. E ele viaja até Nova York com uma missão... Matar todos os médicos que o separaram de deu irmão siamês mutante, Belial.
É... Pois é.
Seja como for, Duane e Belial viajam a té a cidade e levam sua vingança adiante... Até que Duane conhece Sharon (Terri Susan Smith) uma idiota local, e os dois se apaixonam. Belial não gosta nada disso, por causa de... Motivos, e a fraternidade que une os irmãos corre o risco de ir por água abaixo.
E isso é tudo. Não, sério. É impossível falar sobre Basket Case sem entregar o enredo do filme com duas frases. De fato, ao escrever estes dois parágrafos, eu acho que dediquei mais tempo ao roteiro deste longa do que seu diretor. Então pronto, vamos adiante.
NÃO, CORREÇÃO! Antes de prosseguir, eu preciso perguntar, que tipo de jumento batiza o filho como Belial? Seja ele um mutante deformado ou não, nada de bom pode sair quando você você dá o nome de um demônio cananita pro seu moleque. É como chamá-lo de “belzebu”, e trinta anos depois ficar chocado ao descobrir que ele fatia mendigos e guarda no freezer ao invés de ser CEO de uma multinacional.
Pronto, agora que coloquei isso pra fora, vamos continuar.
"Olá, meu nome é Belial e sou o vice-presidente júnior da Microsoft." |
Basket Case foi dirigido por Frank Henenlotter, um autoproclamado amante de filmes exploitation que se especializou em produções de baixíssimo orçamento, como O Soro do Mal e Que Pedaço de Mulher. A história de Duane e Belial foi seu primeiro longa metragem e crianças, que maneira de começar uma carreira.
Pra começar, o orçamento total era de US$ 35.000, menos de um terço da grana que George Romero tinha para fazer A Noite dos Mortos-Vivos. E isso quase duas décadas depois, com os reajustes inflacionários requeridos.
De fato, há uma cena em que Duane faz check-in em um hotel. No momento em que vai pagar pela primeira noite do quarto, o rapaz tira um bolo de notas do bolso. De acordo com Henenlotter, aquele maço de dinheiro era TODO o orçamento do filme.
Mas a falta de grana tem seus atrativos. Sem a possibilidade de construir sets em um estúdio, o filme precisou ser gravado todo em locações reais, e nenhum cenário poderia ser melhor para isso do que a velha Nova York.
Agora, se já teve a oportunidade de viajar para Nova York recentemente (ou se assiste muitos filmes contemporâneos que se passem por lá), você conhece a cidade como um dos lugares mais bonitos, fascinantes e seguros do planeta. Um verdadeiro caldeirão cultural, que oferece todo tipo de entretenimento para todo tipo de pessoa.
Mas nem sempre foi assim. Entre os anos 1970 e 1990, Nova York era suja, violenta, infestada de gangues, traficantes e com prostitutas em cada esquina. As coisas começaram a mudar quando Rudi Giuliani assumiu a prefeitura da cidade e a limpou... De alguma forma. Não sei, vai ver ele saiu com caminhões pipa, despejando água benta pra todos os lados para dissolver o mal.
O caso é que a antiga Nova York é o palco perfeito para Basket Case. Assim que Duane coloca os pés na cidade, ele é abordado por um traficante que tenta lhe vender todas as drogas do mundo e mais algumas que eu tenho certeza que não existem. Até lugares que supostamente deveriam ser mais apresentáveis, como consultórios médicos, tem rachaduras e sujeira nas paredes.
Basket Case é sujo, grotesco, vil. E os prédios antigos, cheios de pixações e sujeira, ajudam a definir o tom da história. Este não é um filme que seria exibido sob o balcão da locadora, ele estaria escondido na prateleira lá do fundo, bem perto dos filmes pornôs, e teria muito orgulho disso.
- Caras, aquilo é um monstro? Vamos chamar os tiras! - Você pirou? Somos três estereótipos raciais na NY de 1982! Estamos mais seguros com um monstro do que com a polícia. |
E o resto do filme não segue lógica alguma, com erros de continuidade absurdos e cenas que exigem mais suspensão de descrença do que temporadas inteiras de Dr. Who.
A cena da operação de Duane e Belial, por exemplo. Antes da cirurgia acontecer, vemos o pai dos gêmeos conversando com três médicos na sala de estar da sua casa, comentando que a operação tem de ser realizada antes que a tia dos garotos acorde.
Assim, ele e os médicos agarram Duane (e Belial) o arrastam escada abaixo e o levam até a sala de jantar, que foi transformada em uma sala de cirurgia. Então eles os sedam e os separam, e levam Duane de volta para seu quarto, desmontam o centro de operações que construíram e seguem com suas vidas. Tudo isso no espaço de oito horas em que a tia estava dormindo, e sem que os gritos de Belial e Duane acordassem a velha.
É tão absurdo e irreal, que chega a ser incrível.
Mas o romance do filme é totalmente plausível. Afinal, quem não se apaixonaria por uma carinha como essa? |
Não surpreende, todo o elenco é horrível. Kevin Van Hentenryck recita suas falas como se fosse uma criança numa peça escolar, mais preocupada em lembrar tudo aquilo que decorou na noite anterior, do que em transmitir alguma emoção.
Claro, seus colegas de trabalho não são muito melhores. Se me perguntarem, acredito que a maior parte dos personagens de Basket Case foram interpretados por residentes de Nova York, sem experiência alguma com atuação, e que toparam participar da experiência só pra terem uma boa história para contar no bar.
E obviamente, temos Belial, que é o ponto alto da história. Se bem que no caso deste filme, “ponto alto” não deve estar muito acima daqueles banquinhos que velhos usam pra tomar banho sentados.
Existem três “versões” de Belial no longa. A primeira é um boneco de látex que é usado nas cenas em que ele brota de sua cesta para “conversar” com o irmão, ou só quando ele tem vontade de berrar feito um orangotango sociopata.
A segunda é uma luva de látex, usada nas cenas em que Belial mata suas vítimas. Normalmente, o diretor a vestia e “atuava” nestes momentos.
Finalmente, temos o Belial em Stop-Motion. Vocês sabem, “animação com massinha”, usada nas cenas em que o monstro precisa ser visto se movendo pelo cenário de corpo inteiro. O que posso dizer? São efeitos visuais campeões, capazes de deixar qualquer filme da Marvel Studios no chinelo.
Morra de inveja, Joss Whedon! |
Então, o que mais eu posso falar sobre esta obra? Não muito, na verdade.
É um filme barato, com enredo risível e que tenta compensar a falta de recursos com violência extrema e grotesca. Mesmo assim, ele possui um charme inegável.
Basket Case não é recomendado para o fã mais casual de cinema, mas é uma excelente pedida para fãs obsessivos de horror, ou para os fascinados pelo gênero exploitation. Estudantes de cinema também podem apreciar o filme, pela forma como o diretor conseguiu que sua minúscula equipe (a maioria dos nomes nos créditos foram inventados, para parecer que a equipe de produção era maior e dar um ar mais profissional ao longa) fizesse o orçamento quase inexistente render.
Se este é o tipo de insanidade cinematográfica que coloca um sorriso em seu rosto, então faça um esforcinho e assista Basket Case. Sozinho ou com amigos, mesmo que não goste do filme, eu tenho certeza que ele será uma experiência única.
Cheers!!!
4 comentários:
Já assisti só ao 2, na Band.
Isso tem cara de vhs que tá escondido nas tralhas da locadora (falida) e o cara quer se livrar kkkk
Ahh... que filme nonsense
Postar um comentário