E hoje falaremos sobre um dos maiores clássicos de terror de todos os tempos, que muitos de nós conheceram graças ao filme Curso de Verão.
Isso, aquele que passava na Sessão da Tarde, onde uma galera ficava de recuperação na escola, e que tinha dois loucos que eram obcecados por cinema de terror.
Arte, pura e simplesmente.
ARTE!!! |
A brincadeira começa com um grande texto que a apresenta tudo que vamos ver, como sendo baseado em fatos reais.
O povão acreditou. Mas falaremos mais sobre isso depois.
Sally Hardesty (Marilyn Burns), seu irmão chato, Franklin (Paul A. Partain), e mais três amigos, viajam até o túmulo da família Hardesty, para investigar boatos de vandalismo e violações de túmulo que aconteceram na área.
Claro, porque é uma ótima idéia fazer isso em pessoa, ao invés de deixar nas mãos das autoridades locais. Sabe? Pessoas treinadas e equipadas pra lidar com este tipo de ocorrência?
Mas estou divagando.
Ao longo da viagem, eles apanham um carona (Edwin Neal) com tantos parafusos soltos, que toda vez que o furgão passa em uma lombada, a cabeça dele faz mais barulho que um chocalho. O grupo também passa em um posto de gasolina, onde compra churrasco (OOOOOH!) e descobrem que todas as bombas estão vazias. O dono do posto (Jim Siedow) os avisa que elas serão reabastecidas no dia seguinte, então os jovens decidem esperar na área.
Eventualmente, eles encontram uma casa velha, que não parece habitada, e decidem investigá-la. Porque É CLARO que isso é uma ótima ideia. Infelizmente para eles, havia um morador no local, um gigante de quase dois metros de altura, vestindo uma máscara feita de pele humana (Gunnar Hansen), e que viu nos jovens um jantar grátis.
E ele não está sozinho. Está apenas aguardando sua família chegar.
O resto é história.
Obviamente, a ideia de Leatherface e sua família é extremamente assustadora. Um grupo de canibais, sempre de olho na estrada, que apanham viajantes incautos para serem sua próxima refeição?
Sim, bastante enervante. Mas acho que o que torna o terror ainda maior, é a idéia do isolamento.
A viagem leva Sally e seus amigos até uma região extremamente remota do Texas. Quanto mais avançam rumo a seu destino, mais eles parecem se afastar da civilização. Eventualmente, eles estão completamente separados do resto do mundo, alvos fáceis para os predadores locais, que apenas esperam o momento certo de atacar.
Apesar da minha piada sobre os protagonistas não chamarem as autoridades locais para lidarem com os problemas de violação de túmulo, a verdade é que não há lei por aqui. Sally e seus amigos estão por conta própria, e se algo lhes acontecer, eles simplesmente vão sumir. E ninguém jamais saberá o que lhes aconteceu.
É como se o interior escaldante do Texas fosse a própria ante-sala do Inferno. O lugar onde os demônios vem lhe buscar, e onde você deve abandonar toda a esperança, pois nada, nem ninguém irá lhe oferecer ajuda no seu momento de desespero.
Para mim, isso é horror em sua concepção mais pura.
Primeiro sinal de que você está indo rumo ao horror: O carona que você pegou resolve jogar Jogo da Velha na mão |
Por muitos anos, O Massacre da Serra Elétrica foi quase uma lenda urbana no Brasil. Isso porque ele só ganhou um lançamento em vídeo decente no meio dos anos 1990. Assim, todos haviam ouvido falar deste longa, mas poucos realmente tinham assistido.
Logo, deixamos nossa imaginação tomar as rédeas da situação. Estávamos convencidos de que este era o filme mais grotesco e abominável de todos os tempos, que mostrava cenas de carnificina explícita, com um bando de loucos abrindo a barriga das pessoas e comendo suas entranhas enquanto elas ainda estavam vivas. Ora, a fita foi proibida em dezenas de países, claro que isso só aconteceu porque algo realmente abominável deveria estar registrado em suas cenas.
E havia a questão do “baseado em fatos reais”, no qual acreditávamos com todas as forças. Se estas palavras estampavam a abertura da história, é porque deviam ser reais, não? Hollywood não mentiria para nós, mentiria?
E mais uma vez, começamos a viajar com as possibilidades. Existiu um maníaco chamado Leatherface nos Estados Unidos, que matava as pessoas, as fatiava, comia, e o que sobrava ele fazia churrasco e vendia. OH! Uma família inteira de canibais que fazia isso!
Um dos garotos da minha escola foi mais longe ainda, e disse que a família Sawyer tinha um restaurante de ebira de estrada, onde eles serviam apenas carne humana. E os cérebros das suas vítimas eles moíam e vendiam como purê de batatas.
Claro, porque cérebro e batata tem o mesmo sabor. Ninguém jamais perceberia algo de errado nisso.
E sempre tinha AQUELE garoto. Vocês sabem, AQUELE, que dizia que havia assistido um documentário sobre o caso, onde o verdadeiro Leatherface era entrevistado na prisão. E ele continuava igual, ainda vestindo a mesma máscara de pele, só que com cabelo branco. Claro, no momento que perguntávamos onde ele havia visto este filme, o garoto inventava que pegou por acidente as 3:30 da manhã na Band, ou que o primo dele que mora na praia veio visitá-lo, e trouxe uma cópia consigo. Enfim, qualquer que fosse a desculpa, seria impossível para qualquer outra pessoa ver o dito documentário, pois ele era “raríssimo” de ser encontrado.
Mas todos sempre acreditávamos nas palavras do mentiroso. Era parte do código de conduta dos adolescentes: Sempre dar o benefício da dúvida a alguém da nossa idade, e tratar todos os adultos como completos imbecis.
É por isso que tanta gente engravida aos 15 anos.
O rosto da sedução, que levou muitas meninas para o mal caminho |
Então, O Massacre da Serra Elétrica finalmente chegou ao nosso mercado de vídeo, o que foi um evento na época. Todas as locadoras foram adornadas com pôsteres e displays do filme, e todos estavam loucos para alugá-lo e assistir o espetáculo de brutalidade que nos foi negado por tanto tempo.
“Todos”, digo, apenas cinéfilos e amantes de terror. O que não incluía a população de adolescentes impressionáveis da época. Para esses, o mito em torno da obra era suficiente.
Então, minha mãe finalmente alugou a fita. Nos preparamos para uma experiência que nos deixaria marcados para toda vida, foi quando FINALMENTE... Ficamos entediados.
... É...
Sabe quando dizem que sua imaginação é capaz de conjurar horrores que nenhum diretor de cinema é capaz de reproduzir? Pois é. Esperávamos algo como Sexta-Feira 13, mas muito mais explícito e sujo. No final das contas, recebemos um terror que era mais psicológico do que qualquer coisa.
Mas mesmo com O Massacre da Serra Elétrica disponível para quem quisesse assistir, sua lenda não diminuiu. As pessoas ainda acreditavam que a fita era apenas Faces da Morte elevada ao cubo, e tinham medo de levá-la para casa.
Claro, não tinham medo de criticá-la. A lenda em torno da história de Leatherface era forte demais, e suficiente para muita gente formar uma opinião a respeito. Lembro-me vividamente de uma senhora que achava um absurdo que este filme estivesse nas locadoras. Como, COMO! Como algo tão terrível podia estar agora ao alcance das crianças? Como o governo não proibiu algo tão pornográfico de ser lançado em vídeo! No tempo dos militares isso não teria acontecido, de maneira alguma.
Como podem ver, esse papo de “no tempo da Ditadura que era bom”, não é algo de hoje.
LEATHERMITO!!! |
Por muito tempo, eu quis uma máscara do Leatherface. Infelizmente, o personagem não era tão mainstream quanto o Jason, e a maioria das lojas não estavam dispostas a colocar algo que parece um pedaço de carne seca mastigada com um cabelo em suas vitrines.
Quando eu tinha lá pros meus 20 anos, achei uma loja de memorabília nerd que tinha uma delas a venda. Não comprei apenas porque seu preço era muito salgado: R$ 180. Mesmo pra hoje, acho que isso é muito dinheiro para se investir em um pedaço de borracha que vai servir apenas de decoração para a casa.
Mesmo assim, eu tinha planos de como usaria aquela máscara.
Naqueles tempos, eu e meu melhor amigo costumávamos ir até o centro de São Paulo todo sábado, para comprar games. Normalmente passeávamos pelas lojas da Paulista atrás dos títulos que nos interessavam, e voltávamos antes da hora do almoço.
Eu normalmente só queria jogos da WWE e games obscuros de Anime. E voltava pra casa emburrado, porque não havia encontrado uma cópia de “Generais da Manchúria XVII – A Batalha de Xing Ling Pastelo”.
Eu era uma putinha relaxada.
Seja como for, sempre passávamos pela loja que tinha a máscara do Leatherface. Assim, num dia em que não estava sendo uma puta, sugeri que eu devia trazer minha máscara do Jason, comprar a do Leatherface, e nós deveríamos voltar para casa, cada um usando uma delas.
E que beleza seria. Ele de Jason, eu como Leatherface. Ambos acenando para as pessoas sempre que parássemos em um sinal vermelho... Seria GLORIOSO!!!
... Claro, no momento que a PM nos avistasse, seríamos mais metralhados que Sonny Corleone no pedágio.
Mas o que é a vida sem um pouco de aventura, não?
E depois da aventura, um belo jantar em família |
Para encerrar, O Massacre da Serra Elétrica foi o primeiro filme que comprei em DVD.
Eu demorei para fazer o salto do formato VHS para DVD, quando este se tornou o formato padrão para vídeo. Isso porque eu passei minha adolescência colecionando fitas, e tinha séries inteiras (Changeman, Thundercats, Batman Beyond) gravadas. Eu não estava disposto a jogar fora todos os anos de trabalho duro.
Uma tarde, passei em uma locadora de vídeo próxima e por mera curiosidade, resolvi dar uma olhada na prateleira dos DVD’s. Foi quando dei de cara com a obra de Tobe Hopper, novinha, lacrada e por meras 15 pratas. Relutei um pouco, mas o levei comigo.ç E quando cheguei em casa, o assisti com muito orgulho em meu Playstation 2.
Quanto a minha preciosa coleção de fitas VHS, ela foi esquecida no fundo de um armário, e tornou-se uma enorme colônia de mofo, bolor e bichos, até que foi prontamente executada na Grande Faxina de 2012.
Claro, tenho certeza que nos televisores com suporte para 1080p e entradas HDMI, a imagem daquele DVD que comprei há quase 15 anos deve ficar uma bela merda.
Mas o que importa é que ele tem muito valor sentimental.
... Igual as fitas VHS...
... E até a próxima faxina...
Cheers!!!
6 comentários:
Assisti o filme ainda em VHS, de uma locadora e distribuidora de Alvorada-RS... que já fechou. Não é sanguinolento como foi alardeado até em entrevistas meia-boca.
O que me enervou foi a fita estar danificada, com a imagem girando em certas partes.
O remake e sua prequel são mais pesadas e geraram seus quadrinhos nojentos (também prequels) lançados pela Avatar Press.
seria epico JASON GANGNAM STYLE
Eu de fato gostei desse filme.
SPOILERS
Achei claustrofóbico o fato de que quase todos os personagens são assassinados em pouco menos de 15 minutos de intervalo. O restante do filme é um pouco mais psicológico, mas ainda assim bastante legal.
SPOILERS
Mas afinal, não é baseado em fatos reais?
Minha vida inteira foi uma farça?
Mas afinal, não é baseado em fatos reais?
Minha vida inteira foi uma farça?
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