Hoje vamos falar de um dos meus filmes favoritos dos anos 1990: O Corvo, que foi baseado nos quadrinhos homônimos criados por James O’Barr.
Claro, este longa se tornou infâme por ser o último trabalho de Brandon lee, que morreu em um acidente durante as gravações. Mas a produção merece ser conhecida por seus méritos, e não apenas pela história trágica que a acompanha.
Assim, relembremos um pouco o que a torna tão especial.
Como o visual que influenciou três gerações de adolescentes deprimidos |
A história começa na noite de 30 de outubro, na cena de um crime. O apartamento de Eric Draven (Brandon Lee) e sua noiva Shelly Webster (Sofia Shinas) é invadido por uma gangue e os dois são atacados. Ela é estuprada, e ele, esfaqueado, baleado e arremessado do alto do prédio.
O sargento Albretch (Ernie Hudson) chefia as investigações, mas não consegue ligar o crime a nenhum criminoso local, e os responsáveis conseguem sair ilesos da história.
Um ano depois, no cemitério onde Eric Draven repousa, um corvo pousa em sua lápide, e o rapaz retorna a vida. Confuso e sem um propósito, o rapaz vaga até seu antigo apartamento, agora abandonado e tem flashes que o fazem lembrar dos acontecimentos que levaram a sua morte e a de sua noiva.
Auxiliado pelos poderes sobrenaturais que de alguma forma lhe foram conferidos pelo pássaro, Eric sai a caça de todos os criminosos envolvidos no crime, seja direta ou indiretamente, e os elimina, sempre de forma irônica e brutal. Ao mesmo tempo, ele tenta ajudar a pirigótica mirim Sara (Rochelle Davis) a se reconciliar com sua mãe, e desenvolve uma estranha amizade com o oficial Albretch, que não abandonou sua noiva enquanto ela passava suas últimas horas no hospital.
Enquanto isso, as ações de Eric chamam a atenção de Top Dollar (Michael Wincott), chefão do crime local, e lazarento em tempo integral, que quer confrontar o músico por este estar matando seus homens e atrapalhando seus negócios.
Em seu núcleo, O Corvo é uma simples história de vingança. O herói sofre uma injustiça na mão dos criminosos, retorna e um a um, retribui aquilo que lhe fizeram. Não é diferente de... Bom, metade dos filmes de ação das décadas de 1980 e 1990. É sua temática sobrenatural que lhe dá o sabor extra e o diferencia das demais produções do gênero.
O filme também é uma excelente adaptação de história em quadrinhos, lançada em uma época em que Hollywood simplesmente não sabia como lidar com tais produções. Os executivos não sabiam se elas deveriam ser direcionadas a crianças ou adultos e não se atreviam a procurar profissionais da área para saber como chegar a um saudável meio termo. Foi por este motivo que tivemos aberrações como Batman Eternamente, O Juiz e Tank Girl.
De fato, os produtores eram tão sem noção, que a ideia inicial deles para O Corvo, era fazer um musical com Michael Jackson no papel principal. James O’Barr, que também escreveu o roteiro do filme, se mijou de rir ao ouvir esta proposta, até que percebeu que os executivos falavam sério. Apenas quando o diretor Alex Proyas e Brandon Lee se associaram ao projeto, que ele se tornou a pérola gótica que todos conhecemos.
Ahhh, executivos de Hollywood. Fazendo bosta desde tempos imemoriais.
"Eu era um Caça-Fantasmas, cara. Um Caça-Fantasmas. Mas aí... BAM...Hollywood me quebrou, cara. E o sonho acabou, cara..." |
Até hoje, muita gente não sabe como exatamente a morte de Brandon Lee aconteceu, então vamos tirar isso a limpo.
Primeiro, uma pequena aula sobre munição.
Uma bala de revólver é dividida em quatro partes: O invólucro, a espoleta, o propelente e o projétil.
Invólucro é onde fica armazenado o propelente, que na maior parte das vezes, é pólvora. Espoleta é um recipiente onde fica um composto bastante volátil, que entra em ignição com um mínimo contato. No caso de um revólver, o impacto do percussor da arma.
Assim que a espoleta “acende” ela ativa a pólvora contida no invólucro, e a explosão dispara o projétil, que é a “cabeça” de metal da bala, que faz todo o estrago quando atinge um corpo humano.
Tudo bem até aqui? Maravilha.
Em uma cena, era necessário que um revólver fosse apontado para a câmera. Como era possível ver as balas no barril da arma, não puderam usar munição de festim (munição falsa, que faz barulho, mas não possui o projétil). Em seu lugar, usaram balas que possuiam projétil, mas que não estavam carregadas com pólvora.
A cena seguinte envolvia o disparo da arma, e o responsável por prepará-la não percebeu que um dos projéteis acabou alojado no cano do revolver. Ele a carregou com as balas de festim necessárias (que normalmente tem o dobro da pólvora de munição normal, para fazerem o barulho e o brilho necessários) e a entregou no set.
Quando chegou a hora de filmar, era requerido que o ator Michael Massee atirasse em Brandon Lee, quando ele entrasse em cena com um saco de compras. Após o disparo, um pacote de sangue falso estouraria nas compras, para simular o dano recebido pelo ator, e ele cairia ao chão.
Infelizmente, quando Massee apertou o gatilho, a pólvora contida na bala de festim foi suficiente para disparar o projétil que havia ficado preso no cano da arma, e ele feriu Lee mortalmente. O ator foi levado as pressas para o hospital e passou por uma cirurgia de seis horas, mas os médicos não conseguiram salvá-lo.
Até hoje, muita gente assiste o filme tentando adivinhar qual o momento em que Lee foi baleado, mas a verdade é que esta cena não foi usada no filme. Dentro da história, é o momento em que a gangue de T-Bird invade o apartamento de Eric e Shelly, mas como a cena nunca pode ser concluída, ela aparece apenas como breves flashbacks ao longo do filme.
A morte de Brandon Lee foi gravada, o filme foi revelado e usado como prova durante as investigações. Tão logo elas foram encerradas, ele foi destruído. A polícia determinou que o acontecimento foi um acidente trágico.
Mesmo inocentado, o ator Michael Massee ficou extremamente traumatizado com o acontecimento, e parou de atuar por um ano. Ainda hoje ele se sente culpado e tem pesadelos com o ocorrido. Em 2005, ele comentou em uma entrevista que: “Você nunca se esquece deste tipo de coisa.”
Curiosamente, este não foi o único acidente durante as filmagens. Ao longo da produção, um carpinteiro foi eletrocutado, um caminhão pegou fogo e um dos membros da equipe feriu a mão com uma furadeira. O próprio Brandon Lee se cortou com vidro cenográfico (que é feito de açúcar e é extremamente seguro) durante a cena na loja de penhores.
Agora, não sei se vocês acreditam nestas coisas, mas o caso é que havia uma energia muito ruim no set de filmagem durante a produção do filme. De acordo com a revista Empire, o consumo de cocaína nos bastidores estava fora de controle, e muitos membros da equipe, entre câmeras e atores, estavam trabalhando totalmente chapados. Brandon Lee estava bastante irritado com isso, mas não tinha poder para fazer algo a respeito. Assim, ele se limitava a dizer “alguém acabou de jogar 50 paus fora”, sempre que ouvia uma carreira sendo inalada.
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Até hoje, acho O Corvo, um filme extremamente melancólico. Principalmente por ter sido o último trabalho de Brandon Lee, e servir de prova do grande talento que o mundo perdeu.
Na década de 1990, Bruce Lee já era uma loenda. Assim, quando Brandon iniciou sua carreira, todos passamos a prestar atenção nele. O rapaz seguiria os passos do pai e se tornaria um ícone dos filomes de artes marciais, ou faria algo diferente com sua vida.
Se seus primeiros filmes indicavam algo (Massacre no Bairro Japonês, pelo amor de Deus), era de que Brandon Lee se tornaria o próximo Marc Dacascos. Astro dos filmes de ação B que vão direto para vídeo e cujos únicos fãs são os insônes que passam a madrugada de sábado procurando algo para assistir na tevê, e que eventualmente param em alguma produção cagona de artes marciais perdida na Record ou na Band.
Mas Brandon queria quebrar o rótulo que Hollywood havia lhe aplicado, e O Corvo era o passaporte para isso. Ainda era um filme de ação, mas ele requeria uma boa dose de atuação para que o personagem de Eric Draven se tornasse empático. Embora ainda estivesse meio verde neste setor, Brandon mostrava potencial para ser mais do que um dublê glorificado.
De fato, ele teve muitas conversas com o diretor Alex Proyas sobre seu personagem, em especial sobre a pintura no rosto de seu personagem. Brandon estava insatisfeito com o trabalho da equipe de maquiagem, que deu um visual muito “limpo” para o protagonista. Assim, ele sugeriu aplicar a pintura ele mesmo antes de dormir, e não retocá-la após acordar. Com isso, ela ficaria com um visual mais desgastado, que de acordo com ele, acrescentaria mais credibilidade a Eric Draven.
Uma escolha acertada, uma vez que o personagem ficou com uma aparência muito crível de fantasma urbano.
Infelizmente, a vida de Brandon Lee foi interrompida tragicamente. E hoje só nos resta imaginar o tipo de grandiosidade que aguardava sua carreira.
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O Corvo é um dos melhores filmes de temática gótica já criados. Sua história é simples e satisfatória, seus personagens são bons e as cenas de ação são sólidas. Além disso, a atmosfera é sombria na medida certa, sem jamais se tornar caricata.
Assim, reúna-se com os amigos na Noite das Bruxas, encha a mesa da sala de doces, coloque este DVD pra rodar e deixe-se envolver por um filme que é puro anos 1990. Garanto que vocês vão se divertir.
E se quiserem melhorar a brincadeira, cada vez que alguém resolver comer um doce, todos devem levantar do sofá e gritar “FIRE IT UP! FIRE IT UP! FIRE IT UP!’, enquanto dão socos para o ar.
Ou, como ficou na dublagem brasileira: “DISPARAR FOGO! DISPARAR FOGO! DISPARAR FOGO!”
...
A versão brasileira fica retardada as vezes.
Cheers!!!
6 comentários:
E incrível realmente que o Corvo virou jogo e ganhou um seriado que passava na Record. Acho que o Marc dacassos que fazia o personagem na série. Era legalzinho na epoca
Ótimas Curiosidades
Sim, Marc Dacascos era O Corvo da TV. O filme só assisti bem depois de ver o segundo (O Corvo- Cidade dos Anjos), que mesmo sendo mais macabro e violento, não era tão bacana.
Inacreditável que fizeram até aquele cocozão do 5!
Boa matéria, só faltou falar da trilha sonora foda do filme.
Eu sempre fui fã do universo "The crow". Tenho os 4 filmes em dvd, as duas mini-séries em quadrinhos lançadas oficialmente aqui no BR (mais algumas gringas em scans), os 3 cds de trilha sonora dos filmes (o ultimo não teve), etc.
Mas é triste ver como a franquia foi decaindo.... O 1º filme é excelente, o 2º é um pouco inferior mas legalzinho ainda, o 3º já é fraco mas ainda "assistivel" se vc não tiver nada melhor pra fazer na vida..... e o 4º é uma da maiores merdas que já vi em toda minha vida. E o seriado de tv é uma merda tambem, assim como aquele jogo horrível pra PS1 e PC e saturn. Agora hollywood quer fazer um REBOOT da franquia... tenho medo.
Tantos filmes de horror para ver e o mês é tão curto...
Como sempre meus parabéns pelo ótimo blog Amer! Gostei muito desse filme, têm uma cena claustrofóbica bem legal!
É realmente muito triste o que aconteceu com Brandon, Coitado do ator que o matou acidentalmente.
Nossa cara se têm que fazer um artigo sobre Massacre no Bairro japonês. Putz nêm sabia que tinha jogo sobre O Corvo. Continue com o ótimo trabalho Amer.
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