Crítica do Amer: Altered Beast

Existem muitos jogos que são considerados clássicos.

Os mais variados motivos são dados pelos fãs para justificar a rotulação de certos games desta forma alguns são memoráveis por sua dificuldade, outros são tecnicamente impecáveis e alguns são absurdamente divertidos, não importa quanto tempo passe.

Altered Beast é um clássico, mas por um motivo único: porque ninguém tinha escolha!

Imagine a seguinte cena: você está voltando para casa da escola, numa sexta feira, doido para jogar um pouco de Nintendo e se perder em Legend of Zelda, Super Mario Bros 3 e Punch Out.

Ahhhh sim, que fim de semana fantabuloso este será!

Eis que DE REPENTE você passa por uma loja de games, vê o Mega Drive e fica surpreso e estupefato!!!!!!

Uau! Os gráficos são “tridimensionais”!!!

Uau! Olha pra todas essas cores e detalhes na tela!!!

Uau! O jogo acabou de falar comigo!!!

OH MEU JESUS CRISTO DE CAPACETE!!! AQUELE CARA VIROU UM LOBO!!!!!!

E lá ia você correndo pra casa, iniciar um longo e tortuoso processo de implorar a seus pais para ganhar um Mega Drive. Pais nunca entendiam que você precisava de um video game novo, afinal, já tinha um Nintendo que estava funcionando perfeitamente bem.

Mas o Nintendo não tinha BLAST PROCESSING, nem um cara virando lobo. Infelizmente, isso não bastava para convencer seus progenitores e você era forçado a voltar para seu quarto e tristemente jogar Legend of Zelda, Super Mario Bros 3 e Punch Out, que agora pareciam as coisas mais brochantes já feitas no planeta.

Um belo dia, seu pai se condoia, lhe comprava um Mega Drive e você tinha a mesma reação do Daisuke: UAU, QUE FELICIDADE!

Mas o console era caro pra diabo e seu pai não ia lhe alugar outros games para passar o fim de semana. Só restava jogar o jogo que veio com o aparelho.

E foi o que quase todo mundo fez por muito tempo. Não havia escolha, exceto gostar de Altered Beast, foi assim que este game se tornou um clássico.

Pouco ortodoxo, devo dizer, mas será que Altered Beast merece toda a adoração que recebe?

Vamos descobrir!!!

O enredo é bastante simples: um vilão chamado Nerf sequestrou Atena.

É, aquela mesma Atena por quem os Cavaleiros o Zodiaco ficavam babando ovo e que quase deu um malho no Seiya quando ele estava desacordado, o que deixou a Sheena muito indignada.

Lembro até hoje da Sheena dizendo “Quem te ensinou a fazer isso, menina?” quando viu a Saori debruçada sobre o Seiya inconsciente.

Mas estou divagando...

Enfim, Nerf sequestra Atena e Zeus ressuscita um guerreiro falecido para resgatar a menina. Aparentemente, Zeus está ocupado demais infernizando Kratos e sendo um babaca com a nação Grega para dedicar duas horas de seu dia para salvar sua filha.

Cretino!

Pois bem, resta ao herói sem nome sair espancando criatura bubônicas e grotescas para salvar Atena e quem sabe ganhar um pedaço de torta divina.

Você sabe... torta...

Tá, claro... como se um zé desses fosse ter chance com uma deusa.

De qualquer forma, ele precisa cumprir sua missão e para isso, conta com misteriosos e convenientes poderes, ao destruir determinados inimigos nosso herói pode recolher uma esfera sagrada de poder e não apenas o artefato aumenta sua força como também sua massa muscular. Apanhando a segunda esfera, o herói está inacreditavelmente bombado e usando sunga, o que o faz parecer um coadjuvante de filme pornô gay.

Mas este game não seria famoso se apenas tivesse incomodado gerações de jogadores com um herói saído de uma fantasia homo erótica e assim sendo, ao apanhar a terceira esfera, o herói sem nome se transforma em UMA FERA LENDÁRIA!!!

OH!!!

A fera em questão muda a cada fase. Você pode se transformar em Lobo, Dragão, Urso, Tigre e Lobo Dourado (que é igual ao Lobo normal, mas com uma pintura melhor).

E com estes poderes chocolatantes, é hora de chutar o rabo de Nerf e resgatar a menina Atena! Sim, um enredo digno de Oscar, estou te falando!

A apresentação do game é muito boa para a época em que foi lançado.

Como muitos games do Mega Drive, Altered Beast é uma conversão doméstica de um jogo originalmente lançado para fliperamas. A Sega fez um excelente serviço neste jogo e conseguiu deixá-lo tão parecido com a versão original quanto foi possível.

Os gráficos são muito bem feitos, os personagens são bem grandes e detalhados, especialmente os chefes de fase, que algumas vezes ocupam 1/3 da tela e que eram bastante impressionantes para quem havia se acostumado com os consoles de 8 Bits.

A animação dos sprites deixa um pouco a desejar no entanto. O herói é bem animado, especialmente quanto ataca, mas os inimigos são bem duros, especialmente os chefes de fase, que apresentam dois ou três frames de animação no máximo.

O som envelheceu muito mal também. A trilha sonora possui poucas canções e elas começam a se repetir assim que se inicia a terceira fase.

Claro, são musiquinhas clássicas que todo mundo que jogou sabe de cor, mas talvez não fossem tão memoráveis caso precisassemos ouví-las apenas uma vez ao longo da aventura.

Os efeitos sonoros são os típicos ruídos brancos do Mega Drive que eram muito comuns no início da vida do console, mas a a grande vedete do audio eram as vozes digitalizadas.

Ahhhh sim, e como eram!!!

O Mega Drive nunca foi muito bom para fazer vozes digitalizadas, basta comparar suas versões de Street Fighter II com as do Super Nintendo para perceber a diferença na qualidade das duas. Altered Beast não apenas sofre com o audio precário do aparelho como também de uma péssima escolha de dubladores, que pareciam todos ter língua presa ou sotaques pesadíssimos.

Logo no início do jogo, Zeus lhe ordena: “WISE FWON YOUW GWAVE!”

E quando encontra Nerf ao final das fases, ele diz: “WELCAM THU YA DUUMA!”

Ou pelo menos, é assim que essas frases soam.

Mas sinceramente, se estas frases possuissem som cristalino, acredito que Altered Beast não teria a metade do sucesso de que desfrutou desde seu lançamento.

A jogabilidade é onde Altered Beast realmente peca.

O game nasceu como um título para fliperamas e todos sabemos o que isso significa: dificuldade brutal e violenta.

Os inimigos vem em hordas e tem muito pais precisão que o herói na hora de atacar. O fato dos personagens serem enormes se torna um problema, pois é bastante difícil desviar de certos ataques.

O herói é bem mais lento que a maioria dos inimigos, o que não facilita na hora de desviar de seus ataques. E como o sal na ferida, sempre que apanhar uma das esferas de poder, o herói ficará paralisado enquanto se transforma, o que o deixa aberto para ser atingido por algum inimigo próximo.

Acontece muito mais do que você pensa.

Aliás, para conseguir as esferas de poder, é preciso matar um lobo branco. É bastante fácil deixar um deles passar e então a fase se repete em um looping infinito até que você consiga transformar o herói adequadamente, uma vez que não se pode enfrentar os chefes na forma humana.

E caso fosse preciso repetir a fase mais de uma vez, já não seria possível terminar o game. Era necessário economizar com meticulosidade matemática a energia restante e as vidas extras o herói para se terminar o jogo.

Frustrante, sim. Irritante, também.

Entendo toda a adoração que os fãs possuem por este game, mas é difícil jogar Altered Beast hoje em dia e não sentir que é um título supervalorizado.

Sejamos bastante francos, este é um game que envelheceu razoavelmente mal e que muita gente simplesmente não terá mais paciência de encarar até o fim como fazia há vinte anos atrás.

Por que raios Altered Beast continua sendo um clássico então?

Simplesmente pela nostalgia. Gostamos de jogá-lo para nos lembramos de nossa juventude, infância, de quando ganhamos nosso primeiro video game, de tardes que passavamos com amigos que há muito tempo não vemos ou de algo que nos era querido na época.

Considerando o quanto o mundo adora ressuscitar coisas das últimas duas décadas pelo simples fator nostálgico, não é de se espantar que Altered Beast seja tão querido por tanta gente, mesmo com todas as suas falhas.

Como jogo, Altered Beast deixa muito a desejar, mas como pérola da década de 80, não dá pra se ter o bastante dele.

Cheers!!!