No passado, íamos ao fliperama, experimentávamos determinados games e ficávamos obcecados por eles.
Não porque eram pérolas incomparáveis de entretenimento (alguns até eram, mas a maioria não), nem por serem peças artísticas que nos faziam questionar o sentido da existência e dos lanchinhos amanteigados.
Era porque simplesmente não os tínhamos em casa.
Naqueles tempos, gastávamos o equivalente ao PIB da Ucrânia em fichas, jogávamos até o cheiro de mofo, fumaça de cigarro e escapamento de automóvel do ambiente não mais nos afetar e quando voltávamos para casa... olhávamos com ódio para nossos Super Nintendos e os amaldiçoávamos por não ter títulos “bons” como Gang’s War e tínhamos de nos contentar com F-Zero e Super Metroid.
Eramos um bando de cretininhos naqueles dias, posso afirmar.
O negócio é que os consoles domésticos não tinham hardware potente o bastante pra agüentar certos títulos na época. O Mega Drive não conseguiria fazer Daytona USA direito... raios, nem o Sega Saturn conseguiu fazer este game direito (não importa o que sua memória diga, ela está errada).
Mas outros games poderiam ser um pouco castrados e lançados em uma versão doméstica. Funcionou com Final Fight, então porque não o fizeram?
Por uma coisinha chamada “licenciamento”. Alguns jogos eram baseados em outros produtos e as empresas de games só tinham autorização para lançá-los em um meio, ou os direitos sobre eles expiravam antes que uma versão doméstica fosse lançada.
Cadillacs and Dinosaurs é provavelmente um destes casos.
O game foi baseado em uma série animada, que por sua vez foi tirada de uma história em quadrinhos.
No mundo de Cadilacs and Dinosaurs, houve um cataclisma natural que devastou o mundo e trouxe os dinossauros de volta a vida. A série segue as aventuras do mecânico Jack Tenrec e da embaixadora Hannah Dundee, que tentam contornar os obstáculos desta nova era.
Claro, uma vez que foi criada no início da década de 1990, a série TINHA que apresentar um pano de fundo ecológico, como era moda na época (VAI PLANETA!!!). Desta forma, o casal e seus amigos protegiam os dinos de um grupo de caçadores que conseguiam ser tão incompetentes quanto todos os moradores da Montanha da Serpente.
Aliás, quem era moleque naqueles bons e saudosos tempos deve se lembrar que dinossauros eram uma obsessão mundial e pipocavam em todo tipo de série, filme e produto.
Lógicamente, havia uma tensão sexual não resolvida entre Jack e Hannah. Mas era um desenho animado da década de 1990, heróis de animação não transavam até Bruce Wayne quebrar este tabu em Batman e a Máscara do Fantasma.
O que é bom, pois em caso contrário, He-Man e She-Ra só seriam lembrados por seus momentos de incesto, mas estou divagando.
A animação de Cadillacs and Dinosaurs foi exibida no Brasil no Band Kids, na época que era apresentado pela Renata Sayuri (EU SOU KIRA! KIRA! KIRA!). Era um dos desenhos que usávamos como pausa para o lanche enquanto não começava Dragon Ball Z, ou pausa para o banheiro, em momentos em que todos os nossos pensamentos se voltavam para a apresentadora do programa.
Mas mais uma vez, estou divagando. Vamos ao jogo.
A apresentação do game é boa e cumpre bem seu trabalho.
Os gráficos são bem feitos e com um bom nível de detalhes. Os personagens disponíveis para o jogador possuem identidades bastante distintas, mas isso se deve mais ao fato do título ter sido baseado em uma série em quadrinhos do que criatividade dos produtores.
Os personagens são menores do que o elenco de Aliens vs Predator, por exemplo, mas sua animação é boa e fluida. Os cenários se baseiam principalmente em florestas, desertos e outras áreas isoladas, o que combina com a ambientação da história e é uma mudança bem vinda das eternas locações urbanas em que a maioria dos beat’em ups acontece.
E que também prova que mesmo se vivesse no meio do mato, o ser humano ainda seria um babaca violento.
A trilha sonora não é a mais inspirada dos games da Capcom. Não é icônica e inesquecível como a de Final Fight, mas também não é ruim como Inimigos da HP e não te fará ter convulsões enquanto joga.
Os efeitos sonoros são bem típicos da época e em muitos casos não soam como deveriam. Sempre que apanhar uma Uzi, não sentirá que está metralhando um inimigo, mas que alguém do seu lado está se divertindo muito com um pedaço de plástico bolha.
Por outro lado, os quatro heróis possuem bem mais falas do que a média dos games desse estilo. Eles não recitam Edgar Alan Poe (porque isso seria sensacional demais e nossas cabeças explodiriam), mas soltam frases de efeito cada vez que apanham comida, utilizam seus golpes especiais ou voltam ao campo de batalha após perderem uma vida.
Mike Haggar só possui um grito de ataque e uma interjeição de morte, então acho que Mess. O ganha dele neste quesito, mesmo não tendo um bigode super ultra macho pra cacete e parecendo uma versão anabolizada do Tonho da Lua.
...
Que foi? Até parece que você nunca assistiu novela!
A jogabilidade é bem padrão dos games desse estilo: avance da esquerda para a direita, espanque tudo que se mexe, recolha as comidas e utilize as armas que encontrar para mandar os inimigos para o quinto dos Infernos com mais eficiência.
Mas os designers do game souberam acrescentar algumas qualidades únicas a ele, que o destacam no seu gênero.
Os quatro protagonistas possuem características únicas que os diferem bastante. Jack é o personagem equilibrado típico, Hannah possui boa velocidade e força e os itens possuem mais eficácia em suas mãos, Mustafa é o mais veloz e possui uma corrida com ataque devastadora e bastante desequilibrada e Mess.O é forte feito uma mula e possui arremessos brutais.
Jogar o game com cada personagem é sempre uma experiência diferente, o que sem dúvida aumenta muito a sua vida útil. Claro, muitos de nós jogarão com Hannah por causa de seu decote, mas e daí? Imbecilidade não é crime.
As armas disponíveis no game não se limitam a facas, canos e tacapes, existem revólveres, rifles, metralhadoras e espingardas também. Embora não sejam infalíveis, elas são muito mais eficientes do que as armas brancas presentes no game.
Ainda no campo das armas, existem explosivos como granadas e dinamites, que causam um dano estapafúrdio (aposto que você não ouvia essa palavra há muito tempo) em qualquer inimigo, mesmo em chefes. Sempre que usar um Continue, seu personagem voltará a ação com uma bazuca no ombro, o que em diversos casos é mais do que o suficiente para eliminar um chefe e suas dezenas de asseclas sem maiores problemas.
E sempre que perder uma vida, uma chuva de mísseis atingirá a tela de forma inexplicável, o que pode significar que Deus odeia caçadores de dinossauros mais do que podemos imaginar.
Falando nisso, vez ou outra Triceratops, Velociraptores e Alossauros irritados cruzam o caminho dos jogadores e cabe a eles acalmar os bichos na base da porrada. Vamos esquecer por um minuto que nenhum ser humano (exceto o Stallone) seria páreo para um Triceratops em uma briga e vamos nos deleitar com o fato de que ESTE GAME NOS PERMITE SOCAR DINOSSAUROS!!!
Minha nossa, os maiores prazeres da vida são de graça mesmo.
Finalmente, é possível descolar um Cadillac em alguns trechos da aventura e sair atropelando inimigos em uma orgia de homicídios veiculares que deixariam Niko Bellic orgulhoso.
Ou não, Niko Bellic é um cara muito ranzinza.
Cadillacs e Dinosaurs é um game bastante simples, mas é extremamente satisfatório e um dos melhores títulos que a Capcom produziu na era dos Beat’em ups.
É curioso perceber que o game se tornou mais popular do que a obra em que foi baseado. Muito pouca gente se lembra do desenho animado e menos gente ainda chegou a conhecer a história em quadrinhos.
Mas é o mal do excesso, assim como a década de 1980 exagerou nos ninjas, a década de 1990 exagerou nos dinossauros. Há um limite para o tanto de um material que o ser humano é capaz de agüentar antes que fique de saco cheio e decida ir comer maionese.
Seja como for, Cadillacs and Dinosaurs sempre será especial para mim, pois é um dos poucos games que me permite dizer “Vamos precisar de um outro Timmy” em momentos específicos da partida.
E se você entendeu esta referência, és tão velho e nerd quanto eu. Rejubile-se!
Cheers!!!
18 comentários:
Eu lembro de (não assistir) este desenho e o desenho do Mago quando passava Band Kids.
Eu lembro de ter jogado este jogo em um arcade junto á um amigo meu. Que jogo doido, eu me lembro como nos divertiamos jogando isso aí. Na verdade jogavamos mais Cadillacs and Dinossaurs do que Final Figth e Street Fighter!
E Batman dos anos 90 pode até ser considerado adulto! Eu pelo menos não encontrei ninguém menor de 10 anos que pelo menos entenda o desenho.
Fala!
Vamos precisar de outro Timmy!
Muito bom o artigo. lembro do desenho, (claro q lembro d+ do jogo.)
vamos precisar de um outro timmy.
ri tubos dessa.
Parab´ns pelo artigo, amer.
abs
Joao
Meu deus, "vamos precisar de outro Timmy" é um clássico!!
E ler o review me lembrou de arrumar esse jogo pro emulador, devo fazer isto hoje
Melhor Beat n up de todos os tempos! Coloca Final Fight e cia no chinelo.
Uma das minhas maiores alegrias foi finalmente ter zerado isso em arcade com uma ficha só.
Bela matéria!
Ótimo desenho, pena que eu não tive a oportunidade de jogar esse jogo...
E quanto ao Band Kids, que saudades da Kira...bons tempos, tempos em que se passavam desenhos e animes decentes na TV.
Não vou ler a matéria do Amer, não vou ler os comentários e ainda vou dizer que o amer ta errado.
Esse jogo era um dos melhores beat Ups
E o Mustapha é um dos mais fodões.
Jogão mesmo!
E é verdade, a voadeira do Mustapha,acertava em tudo no cenário,inclusive nos amigos...
Cara eu amava esse jogo *_*
Na videotape ainda amo, por que o fliperama da cidade ainda tem ele =D.
Este comentário foi removido pelo autor.
Estava me divertindo muito com o post, mas me deparei com Kira...tive que parar de ler e tomar um pouco de água com gelo, eu quase pude ouvir a Nostalgia falando comigo (assim como o medo...morria de medo dela!). não me lembro do desenho Cadillacs and dinosaurs, mas lembro do game...
Lance, eu elogiei o jogo e falei bem do Mustafa, então... você não disse que eu estou errado.
Não tecnicamente.
vocês têm que parar de me dar ouvidos quando eu estou bêbado...
Todo ano quando eu vou para praia, a umas duas quadras da casa de minha vó, um gordo mecânico que tem fliperamas suga mais de 20 reais meus por semana, só para ter o prazer de esmurrar um triceratops...mas continuo indo lá.
Cadillacs and Dinosaurs era um dos motivos preferidos para chegar tarde ao trabalho.
Cretinice é olhar para o decote da Hannah, mas escolher o Mustapha apenas para sentar aquela voadora com a corridinha, e ouvir ele gritando "CAFÉ" para cada item que ele pegava no chão, mesmo que fosse um croissant e... agora pensando na dublagem dele, provavelmente era o mesmo cara que dublou Internacional Superstar Soccer "Deluuuuuxxee"... mas estou divagando...
Excelente artigo, Amer!
Vamos precisar de um novo Timmy...
Oi Amer, gosto muito de ler seus blogs, e tenho uma perguntinha que sempre me incomodou: seu nome é Amer mesmo? Ou seria um maior, tipo Américo, por exemplo? Me responde por favor!
Cadillacs and Dinossaurs era massa.
massa não, era foda...
não foda, FODÁSTICO!!
quando eu o jogava, o mundo ao meu redor deixava de existir. e foi o único arcade que zerei junto com o meu irmão e da-lhe fichas.
eu ingênuo e moleque ia com o Mustapha só por causa do repetethurugen que ele dava.qualquer personagem que imitava o Ryu era o máximo na época. e eu nem dava bola para a Hannah....
deêm um tempo, tinha 11 anos na época e não dava muita bola para as garotas como hoje. e a Renata Sayuri...HHUUUUUM...DELICIOUS!! as vezes eu tomava banho pensando nela...
e essa do vamos precisar de um outro Timmy...demorei para sacar.
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