terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Crítica do Amer: Enslaved: Odyssey to the West


Uma prova de como o mercado de games cresceu, são as campanhas publicitárias milionárias que as distribuidoras promovem para que seus próximos lançamentos se tornem conhecidos do grande público.

No Brasil isso é menos claro, mas nos Estados Unidos, milhões são gastos com Outdoors, comerciais em horário nobre e com divulgação em sites especializados, que muitas vezes tem o fundo da página decorado com a cara dos protagonistas do lançamento quente do mês.

Mas nem todo game tem uma campanha de divulgação dessas, como resultado, diversos títulos acabam sendo deixados de lado, simplesmente porque seu público alvo nunca ouviu falar deles.

Em alguns casos, como Velvet Assassin e X-Blades, isso é uma benção disfarçada. Em outros, as pessoas perdem a oportunidade de jogar verdadeiras pérolas.

Enslaved: Odyssey to the West pertence ao segundo tipo, e é sobre ele que falarei hoje.

Vem comigo.


A história acompanha a jornada de Monkey e Trip, prisioneiros de uma nave com destino desconhecido, que puderam fugir quando após uma pane nos sistemas, a mesma caiu.


Trip deseja voltar a sua aldeia, mas sabe que não tem a experiência necessária para sobreviver aos perigos existentes nesse mundo pós-apocalíptico. Ela prende uma faixa metálica a cabeça de outro sobrevivente, Monkey, que relutantemente tem de ajudá-la... ou morrerá.

Enslaved: Odyssey to the West é uma adaptação bastante livre do conto Chinês Jornada ao Oeste, que conta a história do Rei Macaco, Sun Wukong, e sua viagem para a Índia em companhia do monge Xuanzang. A lenda é muito conhecida e serviu como base para inúmeras histórias contemporâneas, como Dragon Ball por exemplo.

O enredo é simples, mas bastante sólido. Ele evolui gradualmente, o que ajuda bastante a criar um sentimento de identificação do jogador com a história que está presenciando. Grande parte do apego que este jogo cria é por causa de seus protagonistas, Monkey e Trip, que são extremamente bem construídos e tridimensionais, algo que mesmo hoje, ainda não é a regra em vídeo games.

Monkey é um homem bruto e agressivo, moldado desta maneira por anos de solidão em que teve de se virar para sobreviver aos perigos do mundo. Trip é inteligente e engenhosa, mas ingênua e sem a dose de bom senso necessário para sobrevivência no selvagem mundo novo. Os dois não se relacionam muito bem no começo, mas aos poucos se acostumam com a companhia um do outro e se tornam bons companheiros de uma viagem. O game também se arrisca com uma leve dose de comédia, graças a presença de Pigsy, que tenta cortejar Trip de todas as maneiras que pode.

Enslaved: Odyssey to the West não usa os clichês de narrativa tão comuns em games hoje em dia. Não existe romance barato, tensão sexual óbvia e gratuita, e o humor é bastante ingênuo, mas eficiente. Seus produtores se esforçaram imensamente para que a história funcionasse de forma prazerosa e tiveram enorme sucesso nesta empreitada.

Um exemplo que mais produtoras deveriam seguir.


A apresentação do game é uma das mais fantásticas dos últimos anos, capaz de impressionar o mais chato dos jogadores.


Os personagens e cenários possuem texturas excepcionalmente bem trabalhadas e bonitas, Monkey tem diversas cicatrizes pelo corpo, além de possuir uma pele claramente maltratada pelo sol, condizentes com quem vive a mercê dos elementos por muito tempo, enquanto Trip possui uma discreta “marquinha de biquíni”. Detalhes assim tornam os personagens muito mais críveis e naturais.

A animação também é muito boa. As acrobacias de Monkey fluem de forma graciosa, assim como seus movimentos de combate, que parecem tirados do mais puro filme de artes marciais.

Mas o maior destaque da parte visual é a animação facial dos personagens, que pode ser considerada uma das melhores já feitas para um vídeo game. Desde expressões fortes como alegria e medo, a menores como arrependimento leve (do tipo “eu não devia ter dito isso”) e compenetração, o estado de espírito dos personagens é sempre representado de forma bastante clara em seus rostos.

Sinceramente, após algumas horas jogando este game, você verá com outros olhos as “expressões realistas” de inúmeros títulos mais badalados da atualidade.

O design de cenários é também bastante impressionante. Em momento algum é especificado quando e que tipo de apocalipse destruiu o mundo, apenas temos a certeza de que isso aconteceu há um loooooongo tempo, dado que a natureza tomou conta de tudo que um dia compôs a civilização humana. Árvores e animais silvestres se encontram por todos os lados e contrastam com prédios semi destruídos e outros exemplos de paisagem urbana.

O áudio é um show a parte. A trilha sonora é discreta, porém adequada a maioria das situações, o grande destaque aqui é a atuação brilhante do elenco de dublagem.

Andy Serkis (o Gollum de Senhor dos Anéis) empresta sua voz a Monkey, enquanto Jennifer Shaw (a “Moze” em Manual de Sobrevivência Escolar do Ned) dá a vida a Trip. Ambos são naturais em seus papéis, sem caracterizações exageradas, que poderiam dar um tom caricato a história.

Sim, Marcus Fenix! É de você mesmo que estou falando!

E sequer vou comentar sobre como Richard Ridings está perfeito no papel de Pigsy, que consegue ser insuportável como qualquer... indivíduo obeso, cretino e irritante do mundo.

Todos conhecemos um, infelizmente.


A ação é em terceira pessoa e mistura combate com uma boa dose de acrobacias ao estilo de Prince of Persia.


Como estão atravessando uma cidade demolida, Monkey e Trip obviamente não tem como seguir em uma linha reta em direção a seu objetivo. Desta forma, eles têm de fazer uso do cenário para passar obstáculos aparentemente intransponíveis, beiradas, canos, postes, e praticamente todo tipo de plataformas pelo cenário podem ser escaladas.

Na maioria das vezes estão todas bem visíveis, mas em alguns casos estão mais escondidas e pode ser um pouco difícil saber para onde prosseguir, especialmente para aqueles que jogarem em uma televisão pequena.

Um ponto que pode incomodar algumas pessoas é que estes caminhos a serem escalados são bastante lineares e óbvios. Você nunca vai ter dúvidas de qual o melhor caminho a se seguir, o que pode decepcionar jogadores que tenham se acostumado ao desafio mais barra pesada de Prince of Persia.

E qualquer um que entre aqui pra declarar “ABLUÉÉÉÉÉÉÉ, PRINCE OF PERSIA É MÓ BABA, AFF VÉI” ou alguma imbecilidade chocolatante do mesmo nível... por favor, tenha um derrame e caia morto.

O combate é bastante intuitivo, fácil de se aprender, mas difícil de dominar. Monkey possui ataques de curta distância, bem como pode utilizar um canhão de energia embutido em seu bastão. Esquiva e defesa são de importância vital nas lutas e cada tipo de inimigo requer uma estratégia diferente. Pular de cabeça no perigo sem um plano, é uma excelente maneira de levar um chute na bunda histórico.

Trip também é muito importante na ação do game. Ela pode criar distrações que desviem a atenção do inimigo de Monkey, alcançar plataformas mais altas e liberar escadas, destrancar portas, escanear áreas a fim de deixar claros os perigos nela e restaurar energia. É preciso sempre ficar de olho nela, no entanto, a garota não pode sobreviver sozinha e caso se afaste dela ou permita que inimigos a matem, Monkey paga o pato imediatamente.

Finalmente, existem esferas que podem ser usados para comprar novas habilidades, como defesa melhor, medidor de energia maior ou quadruplicar o dano causado pelos disparos do bastão. Tais habilidades aumentam muito a capacidade destrutiva de Monkey, mas custam um bocado de esferas, quem quiser maximizar os poderes do protagonista vai precisar jogar o game todo mais de uma vez.

Hey, replay sempre é bom!


Enslaved: Odyssey to the West, é uma prova de que orçamento milionário e publicidade excessiva não fazem um bom jogo.


Com uma história simples e bonita sobre amizade e dedicação, Monkey e Trip dificilmente se tornarão famosos como Kratos e Master Chief, mas encantarão a todos aqueles que se dispuserem a passar algum tempo em sua companhia.

Esta é uma viagem que dificilmente será esquecida e do qual todos deveriam desfrutar.

Cheers!!!

13 comentários:

Scariel disse...

Parece ser aquele tipo de jogo que vc não consegue parar de jogar.
Ótimo review Amer, meu deu vontade louca de jogar Enslaved!

Blog do Sybão! disse...

Caramba! Tinha acabado de ver esse jogo no youtube, e vejo a atualização no twitter... DO MESMO JOGO!!

Pra mim parece ser razoável.

Spoonman disse...

Tava doido pra que tu falasse desse Jogo!
Ótimo review Amer!!!

E tenho Dito!

Evil Monkey disse...

Uma das melhores direções de arte que eu já vi, e poucas vezes eu me importei mais com os personagens de um jogo quanto eu me importei em ensalved.

A animação facial desse jogo é tão boa que fez eu achar a animação de mass effect 2 meio Feinha em comparação.

E olha que Mass Effect 2 tem uma das melhores animações faciais do mercado.

tem jogos que você compra joga, gosta, mas acaba esquecendo, esse não é o caso com enslaved. Esse jogo será lembrado por anos pelas pessoas que o jogaram e todos os que jogaram terão um carinho especial pelos personagens.

Excelente Review.

Ps: Você jogou Pigsy's perfect 10? É bom? vale a pena comprar?

Pps: Eu acredito que a Ninja Theory (o estúdio de Enslaved) Vai fazer um bom trabalho com Devil may Cry, mesmo tendo mudado tanto o visual de dante.

André Leonard disse...

Ótimo Review Ammer! Já joguei esse jogo e com certeza vale o dinheiro investido!

Sou fã dos seus posts dos três blogs a muito tempo... Você é minha maior referência gamestica da atualidade HAHAHA!

Gostaria de lhe dizer algo que vai te impressionar. Encontrei algo mais raro que uma virgem de 25 anos:

- Uma garota que joga video game e muito bem por sinal =)... Ainda mais fã de Jogos Survival e RPG. Hoje a tarde ela esta zerando Chrono Trigger (SNES) \o/

- Ela vai montar um blog sobre garotas gamers e provar que elas existem...

André Leonard disse...

Alias... Ela ja terminou Red Dead Redemption, Gears of War e esta terminando Dead Space =)

Warndarius disse...

....eu tive ele em mãos...mas levei...dead rising 2...eu me odeio

Emanuel Cantanhêde disse...

Queria ver você falando da polêmica da ocidentalização nos games, ó... Achei que seria nesse review, mas... =D

Amer H disse...

Que ocidentalização em games? Do que você tá falando?

SilverHawk2099 disse...

Adorei o review Amer... vc está de parabéns tanto por esse quanto pelo seu blog... :)

Deixa eu te perguntar uma coisa...vc costuma fazer parcerias com outros Blogs? pq eu criei tamb um Blog a respeito de Cultura Pop das antigas e gostaria de trocar banners com vc...

Inclusive estou iniciando uma série de posts a falando um pouco sobre os consoles mais "famosos" no Brasil... eu poderia postar meu link aki?

Abs e continue este trabalho maravilhoso, pois o entretenimento que nos proporciona não têm preço :)

Emanuel Cantanhêde disse...

Me refiro a mudanças como em DMC, onde Dante virou um novaiorquino ligeiramente emo, por assim dizer. O Ninja Theory, estúdio de Enslaved, é o responsável por isso, aliás. Há muitas pessoas, fãs da franquia, bolados com isso.

Só pra deixar claro, não quero erguer bandeiras marxistas; apenas saber sua opinião. :D

(Eu sabia de outros exemplos, mas esqueci, aiai...)

HappyGleek93 disse...

Parece um ótimo game, comprarei, com certeza.
E o Monkey é uma delicia. rs

Warndarius disse...

...eu tinha ele em mãos de novo...porem marvel vs capcom 3 falou mais alto...LIFE BAR IN YOUR FACE!!