Alguns games nos divertem horrores ao longo de nossa vida.
Dedicamos muitas horas de nossa existência a eles, nosso suado dinheiro providenciando maneiras de jogá-los, pensamos a respeito deles quando estamos longe e quando os reencontramos, é como rever um amigo muito querido que havia se ausentado.
Então o tempo passa, nós crescemos, nossas percepções e gostos mudam e nos adequamos mais a vida adulta.
Um belo dia, reencontramos aquele game que nos era tão querido e vemos como ele é ridículo. Nos indagamos o que diabos nos fazia gostar tanto daquele produto e tentamos uma rodada nele, para percebermos que sua qualidade é péssima e que somente o entusiasmo da juventude nos fazia apreciá-lo no passado.
Pit Fighter é um game inacreditavelmente ridículo, com um visual imbecil e que com certeza causa constrangimento em muitas pessoas que um dia juraram amor e lealdade eternos a máquina.
Mas... continua tão absurdamente divertido quanto na época que gastávamos TODO nosso dinheiro (menos o da passagem do busão) em fichas só para ter o prazer de desafiar “O Bebezão” mais uma vez.
Bons e velhos tempos que não voltam mais...
Pit Fighter não se preocupa em contar uma grande história, porque francamente, não era isso que nos motivava naqueles tempos.
O game nos mostra o desenrolar de um torneio de lutas ilegais, tão fora da lei que são realizados em armazéns, estacionamentos, bares, estações de metrô e... do lado de fora de bases aéreas? Não acho que as forças armadas endossem esse tipo de coisa, mas enfim.
Os jogadores podem assumir o controle de Buzz, um lutador profissional de luta livre, Ty, o kickboxer obrigatório dada a época, e Kato um Faixa Preta de 3º Grau... em alguma arte marcial que o game não faz a menor questão de dizer qual é.
Os três participam do evento de pancadaria pela oportunidade de ganhar UMA CACETADA DE GRANA e poderem viver como reis o resto da vida em suas mansões de ouro maciço com seus “carros-fuguete” na garagem!
Claro que não será fácil, pois precisarão enfrentar carrascos gordos como Executioner, Mad Miles, o militar fora de forma e escarrador, Chainman Eddie, um sujeito imenso com shortinho de stripper (o já mencionado “Bebezão”), Angel, a garota mais claramente lésbica da história dos games e um gigante sadomasoquista com a máscara do Casey Jones chamado Masked Warrior.
Pit Fighter simplesmente pega onda nas dezenas de filmes com torneios de artes marciais que eram a febre do fim da década de 1980 e início de 1990, como O Grande Dragão Branco, Leão Branco – O Lutador Sem Lei e outros filmes estrelando Jean Claude Van Damme que também tivessem animais no título.
Mas novamente, não estávamos nem aí pra história, queríamos mais é dar porrada! Adolescentes se satisfaziam com muito pouco naqueles tempos... e acho que hoje também.
Os gráficos do game são... interessantes, pra dizer o mínimo.
Pit Fighter foi o primeiro game da história a usar gráficos digitalizados, ou seja, os personagens são representados por atores reais ao invés de pixels desenhados em 2D. Pra quem está curioso sobre como esta tecnologia funciona, filmam os atores diante de um fundo verde, depois usam computadores para inseri-los nos cenários dentro do game.
Os personagens são razoavelmente bem feitos, com boa resolução que permite que vejamos bem os atores que os representam. A animação de seus movimentos também é muito boa, fluida e sem quadros de animação faltando, ao menos de forma perceptível.
Pit Fighter também em efeitos de zoom bastante impressionantes para a época, que eram acionados sempre que um lutador se aproximava ou se afastava da câmera. Mesmo hoje, quando já passamos pela era do Mode 7, estes efeitos de escala e distância são bem legais de se ver.
Lógico, isso não diminui o quanto o elenco de personagens parece brega nos dias de hoje, mostrando que a moda é mesmo uma deusa impiedosa.
Os cenários não são tão bem feitos quanto os personagens e não passam o realismo que se torna exigido de um game que utiliza gráficos digitalizados. Tudo é meio falso e mal acabado, o que passa a impressão de que foram feitos as pressas.
Algo que prejudica bastante o visual são as barras laterais que anunciam o número da luta. Elas diminuem um bocado o campo de visão e mesmo quando nos acostumamos a elas, ainda incomodam tremendamente, especialmente quando mais de uma pessoa está jogando.
O áudio complementa bem o jogo, não porque seja notável de alguma forma, mas porque completa os ares de “produção de segunda” que permeia todos os aspectos do game. As músicas não são muito bem compostas ou bem executadas, mas apesar disso (ou talvez por isso) grudam na cabeça e lá ficam por muito tempo, mesmo após o termino de nossa sessão de jogatina.
Não há muitas vozes no game, exceto pelo ocasional “YEAH” ou “SO BIG” que os heróis disparam sempre que seus golpes especiais atingem o alvo e pelos gemidos e gritos de quem está respectivamente apanhando e batendo. A platéia também se manifesta de vez em quando, com animação, vaias e gritos totalmente indecifráveis na maior parte do tempo, mas que levando em consideração a classe das pessoas envolvidas, devem ser palavras menos que gentis dedicadas a mãe de um dos lutadores.
E vez ou outra Masked Warrior aparece entre as fases dizendo “YOU” com a voz rouca de quem fuma desde os três anos de idade.
Não é grande coisa, mas como eu disse, complementa a atmosfera do jogo.
Apesar de não ser um beat’em up, a jogabilidade de Pit Fighter se assemelha mais a Final Fight e Double Dragon do que a um Street Fighter propriamente dito.
Os personagens tem movimentação livre pela tela e os comandos de ataque são tremendamente simples: há um botão de soco, um de chute e o de pulo. As combinações possíveis envolvem uma voadora, levantar os inimigo e arremessá-lo longe, e um golpe especial ativado quando se pressionam os três botões ao mesmo tempo.
O golpe especial de Ty é uma giratória exatamente igual ao famoso chute voador do Van Damme com o qual ele encerrava 95% de seus filmes, Kato utiliza uma sequência de socos rápidos e Buzz alterna entre um Body Slam e um Pilão.
Verdade seja dita, tais golpes especiais são o único diferencial entre os personagens. Todos possuíam os mesmos tipos de ataque, onde apenas a animação era diferenciada (o que já dava aos movimentos eficiências diferentes) e a velocidade e dano obviamente influenciados pelo tamanho do lutador e seu estilo de luta.
Existem objetos também espalhados pelo cenário, como barris, caixotes, bancos de bar,, latões de lixo e demais coisas que possam ser arrebentadas no coco de seus inimigos e causem concussões. Outras armas incluem bastões, facas, e sabe lá Deus como, Shurikens.
Vez ou outra, ao se quebrar um barril, uma pílula com um “P” aparece. Apanhando-a, o lutador se torna um pouco maior e começa a brilhar, o que deixa seus golpes mais velozes e bem mais fortes. Logicamente, se o computador apanhar a pílula (o que acontecia muito mais vezes do que gostamos de admitir) levaríamos o chutamento de bunda de nossas vidas, especialmente se estivéssemos lutando com Chainman Eddie ou Masked Warrior.
O game se divide em estágios específicos (diferenciados pelos cenários onde acontecem) com dois oponentes cada. Antes de prosseguir para a próxima tela, é preciso enfrentar um clone malignos de seu lutador e derrubá-lo três vezes para ganhar um bônus, ou enfrentar os outros jogadores, em caso de uma partida grupal. Tais lutas bônus não tem nenhuma serventia prática no game, exceto aumentar sua pontuação e irritar seus amigos caso os derrote.
Grandes tempos esses que fazer pontos e irritar os amigos eram partes importantes da jogabilidade.
Não existe estratégia em Pit Fighter, literalmente, a única forma de vencer é avançar pra cima do oponente, socá-lo vigorosamente, levanta-lo e arremessa-lo de vez em quando, aplicar um golpe especial quando a vontade bater e quebrar todo tipo de tralha presente no cenário em sua cabeça.
Alguns jogadores podem tentar bolar técnicas de jogo, mas elas normalmente evolvem apenas acertar um golpe e então se afastar do oponente para evitar o contra ataque. Tais estratégias dificilmente são eficientes quanto seus criadores gostariam e verdade seja dita, Pit Fighter é muito mais divertido quando jogado despreocupadamente, com o jogador partindo pra cima do oponente com tudo e metralhando botões.
E quando três pessoas jogam simultaneamente, cada um recebe um oponente próprio. Nesses momentos, Pit Fighter se torna uma zona tão grande que mais parece uma orgia Romana.
Acabei de perceber que esta frase soou muito mal, considerando que o elenco do game é formado quase que totalmente por machos sem camiseta.
Que se dane!
Para todos os efeitos, Pit Fighter é um game terrível.
A produção é de baixíssimo orçamento mesmo para a época que foi feito, seus personagens são ridículos e só agradariam moleques de 12 anos completamente sem noção, não existe jogabilidade além de metralhar botões e tentar jogar com os amigos gera uma esbórnia incompreensível na tela.
Mesmo assim, Pit Fighter é um bocado divertido até os dias de hoje. O que demonstra que todos nós temos um adolescente irritante dentro de nós que consegue achar muita graça em espancar um mexicano de mais de dois metros de altura com um shortinho branco.
E nosso adolescente interno se diverte ainda mais o chamando de “o bebezão” depois da luta.
Pois é, certas coisas nunca perdem a graça.
Cheers!!!
12 comentários:
Sempre gostei de Pit Fighter, mas nunca tive a oportunidade de jogar num arcade real, só joguei muito a versão de Mega.
Bela análise Amer, acho que todo mundo chamava aquele desgraçado de Bebezão...
Eu não minto!
Adoro esse jogo XD
Só pra constar, minha turma chamava o "bebezão" de "cuecão".
hahahahaha!
eu gastava muito dinheiro em fichas e nunca conseguia passar do terceiro oponente!!
Até hoje eu de vez em quando, dou uma jogadinha no emulador, mas o de arcade era sensacional, tinha um Bar de Fliper (assim eram chamados os arcades na minha época)que eu sempre ia, até que minha mãe ficou sabendo e me deu a maior surra!
eu lembro bem desse jogo por causa do filme do Van Damme. hahahah eu queria até fazer Karate depois.....
Mais uma vez parabéns Amer vc desperta a nostalgia escondida em nózes...
AH! sim o "bebezão", era chamado por nós de "Bebê Jupteriano", por causa do Chapolim, lembram?
Acontece com todos, um dia nós olhamos para trás e descobrimos que tudo o que nós gostávamos era uma enorme e fedorenta bosta...
mas mesmo assim, pelos momentos bons que aquilo nos proporcionou nós não temos escolha senão adorar aquilo, mesmo com os defeitos.
Pit-Fighter (de Arcade) é o meu jogo predileto de todos os tempos! Tanto que tenho até o manual original do arcade em casa! Admito que joguei praticamente todas as conversões deste jogo para computadores e consoles e 90% delas eram uma porcaria, apenas a versão de Mega Drive realmente prestava e lembrava 'de longe' a versão Arcade. Ainda jogo direto este jogo no MAME e ver um artigo seu dedicado a ele foi dez!!! Continue com estes reviews de jogos clássicos que para mim são os melhores.
Só complementando, a Angel pode até ser lésbica, mas que é gostosa isso é!!!
Só eu nunca joguei isso? Sinto que perdi algo na minha vida...
Me recordo de ter jogado isso... mas era uma versão pro SNES, se bem lembro
Esse jogo é espetacular =D Eu passava horas jogando, e sempre que tenho tempo, ainda jogo. Muito bom o review, parabéns!
Me lembro de pequeno ter alugado a verão do Master System por ter gostado da Sinopse da contra capa,mas quando eu meus amigos começamos a jogar vimos que droga aquilo era e corremos pra locadora para trocar por outro jogo,joguei alguma vezes a versão do Mega-Drive no Emulador e sempre perdia.
e essa história de coisas que achávamos espetaculares na infância e adolescência e hoje em dia constatamos que elas eram uma boa M@#$% é a pura verdade.(Filmes como,Double Dragon e o próprio Street Fighter do Van Damme não me deixam mentir.
Primeiramente, parabéns pelo texto, muito bem escrito.
Só discordo do uso do termo ridículo-pois como está contido no próprio texto o legado deixado por Pit Fighter refletiu em muitos de luta até hoje.
Pra mim, até hoje, PIT FIGHTER será um dos maiores jogos de porradaria que já existiu, praticamente o jogo que me tornou "rato de fliperama" ao lado de Shadow Dancer, Capitain Commando, Sunset Riders, TMNT, Knigths of the Round, Cadillacs and Dinosaurs, Shinobi, Pole Position, Pre Historic Isle e outros clássicos.
Era a época que DIVERSÃO (muito bem citada no texto) era mais visada do que gráficos e som...pense quando foi lançado um jogo que aliava bons gráficos e diversão em 90...pra um moleque de 15 anos aquilo era o supra-sumo. Cansei de ir pra casa a pé, gastando até o suado dinheiro do buzão pra terminar PIT FIGHTER. Uma pena que hoje em dia a DIVERSÃO deu lugar à uns jogos fáceis de terminar, com continues infinitos, sons maravilhos...DIVERSÃO e DESAFIO hoje em dia só são lembranças...ainda bem que existe o M.A.M.E.
Parabéns pelo blog, pelo texto e por esta homenagem ao imortal PIT FIGHTER!!
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