Crítica do Amer: Dante's Inferno

É bastante conveniente que eu esteja escrevendo sobre este game justo hoje, pois há apenas algumas horas, eu estava discutindo o amadurecimento do mercado de games com um amigo.

A conversa girava em torno da indústria Japonesa não ter amadurecido no mesmo ritmo da Americana, tanto no sentido de design quanto no sentido de tentar atingir um público mais maduro mesmo.

Claro, o Japão produz games como Shadow of the Colossus, mas são exceções em um mercado que ainda parece ser totalmente voltado para agradar em primeiro lugar a um público adolescente. O Excesso de personagens caricatamente “jovens” nos Final Fantasys mais atuais são um exemplo claro disso.

Por outro lado, o mercado Americano se volta cada vez mais para um público maduro, ciente de que as crianças que curtiam games na década de 1980 são adultos que ainda amam este passatempo e buscam nele produtos condizentes com sua idade.

Dante’s Inferno é um exemplo claro de que certos games só podem ser realmente aproveitados por jogadores maduros e pode ser uma peça chave para que o estigma de "Sujeitos babacas que se recusam a crescer" do qual os Gamers tanto sofrem possa ser modificado.

A história é inspirada em A Divina Comédia, obra de Dante Alighieri que narra sua jornada através do Inferno. No entanto, o game toma certas liberdades com o enredo para que funcione melhor como jogo.

Aqui, Dante não é um poeta, mas um guerreiro que tomou parte nas Cruzadas. Antes de partir em viagem, ele prometeu a sua amada esposa Beatrice, que negaria aos prazeres da carne enquanto estivesse na guerra e que voltaria para ela.

Dante no entanto não cumpre sua promessa e é seduzido por uma mulher pagã, que dorme com ele em troca de sua liberdade e a de seu irmão. Logo, Dante se vê em uma espiral de decadência e comete diversos dos Sete Pecados Capitais, entre eles a gula, a ira e a ganância.

Quando volta para casa, Dante encontra sua esposa morta diante de sua casa e descobre que por não ter cumprido sua promessa, a alma de Beatrice foi enviada ao Inferno e ela é agora a mais nova noiva de Lucifer.

Dante então viaja até o Submundo e tem de atravessar os Nove Círculos do Inferno para salvar Beatrice de destino tão horrendo e ao mesmo tempo, tentar redimir suas próprias ações.

A história é contada através de dois tipos de cutscene: animações em 3D do tipo tão comum hoje em dia e animação tradicional em 2D.

As CG’s mostram o presente, momentos como o assassinato de Beatrice ou momentos em que Dante confronta os diversos moradores do Inferno. Os personagens são muito bem construídos e possuem bastante identidade visual.

Algo que eu preciso comentar é o quanto Dante é feio.

Tudo bem, Kratos também é feio. Mas neste caso, o Espartano foi feito feio para que sua aparência evocasse aspectos selvagens e primitivos do ser humano. Dante é... "feio feio", como um sujeito que você encontraria no ônibus. Ele é meio bochechudo, papudo e parece que não faz a barba nem toma banho há semanas, é impressionante que os produtores tenham optado por criar um protagonista tão horrendo.

As animações em 2D são Flashbacks dos pecados cometidos por Dante durante as Cruzadas e são bastante interpretativas. Elas não mostram clara e detalhadamente o que aconteceu, mas deixam muita coisa implícita. Não é difícil entendê-las, mas é preciso assistir com atenção.

Agora, eu falei da maturidade do game e quero dissertar um pouco mais agora. O melhor exemplo que encontro para exemplificar isso são as instâncias de nudez mostradas ao longo da história.

Há muitos momentos em que nos são mostradas mulheres com os seios desnudos, algo que ainda é um certo tabu nos games hoje em dia. Por exemplo, Dante encontra Beatrice morta com o vestido rasgado e os seios descobertos, o que sugere um estupro e torna a percepção da cena ainda mais trágica.

O Círculo da Luxuria no Inferno é outro ótimo exemplo, pois está cheio de objetos fálicos e fendas bastante sugestivas nas paredes.

Nas mãos de produtores menos determinados, a ambientação poderia ter sido algo tremendamente juvenil e bobo. O Círculo da Luxuria poderia ser todo ilustrado com lindas e voluptuosas mulheres nuas, o que tiraria todo o sentido da coisa.

Criar um ambiente voltado ao sexo (algo que hoje, mais do que nunca, parece guiar a vida de certas pessoas) e torná-lo algo repulsivo e sujo, foi uma decisão bastante inteligente e madura e é esta a visão que moldou o game.

Um produto feito por adultos para adultos, algo que ainda é raro no mercado de games.

A direção de arte do game é fantástica, mas seus ráficos deixam um pouco a desejar.

Os modelos de personagens possuem texturas competentes, mas um pouco simples. Quando a câmera se aproxima demais deles, podemos ver que não foram construídos com todos os detalhes que as plataformas atuais são capazes de fazer.

Os cenários também possuem texturas razoavelmente simples e não chegam a impressionar. Claro que isso não é um problema que atrapalhe o aproveitamento do game, mas aqueles que tiverem uma televisão de alta resolução só para poderem ver os folículos capilares presentes no rosto dos personagens podem se decepcionar um pouco com a simplicidade aqui presente.

Felizmente, a falta de detalhes é mais notável quando os personagens estão parados e uma vez que a ação é constante por aqui, não há muito tempo para se reparar nisso.

A imaginação dos produtores no entanto, mais do que compensa a simplicidade técnica do visual.

O Inferno retratado neste game é muito impressionante e cada Círculo é feito de modo a demonstrar o pecado ao qual é ligado. O Círculo da Gula possui lagos feitos de suco gástrico e bile, e é necessário caminhar por cavernas que parecem o interior de gargantas humanas e plataformas formadas de línguas esticadas.

Claro que quando eu falo parece um enorme clichê, mas a ambientação é realmente bem cuidada aqui, é preciso jogar para ver. Tudo foi feito de modo a ter a aparência mais repelente e grotesca possível, evocando emoções negativas como nojo e desconforto da parte daqueles que jogam.

A morada de Lúcifer não é um lugar bonito e este game deixa isso bem claro.

Os inimigos também possuem um visual bastante interessante e original. Os bebês não batizados que encontramos espalhados pelo Inferno são visões dignas de pesadelos, pra não mencionar os glutões que aqui vieram parar.

De facto, só percebi que havia matado Cerberus (o cão de guarda de três cabeças do Inferno, para os três de vocês que não sabem) quando ganhei o Achievement dando o nome da criatura. O design de monstros é original a esse ponto.

O áudio é muito bem cuidado, a trilha sonora quando presente é fúnebre e tétrica, digna das paisagens visitadas pelo protagonista. A dublagem também é muito bem cuidada, com atores e atrizes que dão as entonações certas e a dramaticidade necessária a seus personagens.

Mas o grande chamariz no departamento auditivo é o som ambiente do Inferno, cheio de lamentos e gritos das almas condenadas. Certos trechos do jogo causam muita aflição por causa do constante choro de alguns dos moradores das profundezas.

Depois de jogar este game, prometo que serei um bom menino e não mais pensarei sujeiras com robozinhas...

...

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... as Quintas Feiras... é, isso.

A jogabilidade de Dante Inferno... como posso dizer... foi quase totalmente copiada de God of War.

O sistema de combos, a atmosfera dos combates, o modo como se avança pelos cenários, os chefes gigantescos e as finalizações em QTE, todas parecem tremendamente reminiscentes da jornada de Kratos.

Veja bem, isso não é necessariamente uma coisa ruim, God of War possui uma das melhores jogabilidades de ação da história dos vídeo games. Dante’s Inferno faz um bom serviço em tentar duplicar aquela ação, pois o combate aqui é bastante intenso e divertido.

Após demonstrarem tanta criatividade para criar o mundo do game, é um pouco decepcionante ver que os produtores optaram por não inovar muito em sua jogabilidade. Mas hey, melhor copiar um sucesso do que criar um fracasso, não é verdade?

E não é como se Dante’s Inferno não tivesse suas próprias boas idéias, o sistema de evolução, apesar de muito similar ao de Kratos, possui estilo bem próprio.

Sim, o jogador ainda precisa acumular almas de inimigos mortos e comprar habilidades com elas, mas há dois caminhos que Dante pode seguir ao adquirir seus poderes: Holy (Sagrado) e Unholy (Profano). Cada um destes caminhos possui sete níveis de evolução e poderes próprios a cada nível, o estilo Unholy gera novos combos para a arma primária de Dante, a foice, enquanto o Holy aumenta a capacidade da arma secundária, a cruz de Beatrice.

Ambos os caminhos também lhe dão habilidades que aumentam sua energia, resistência e eficiência das magias. No final, os dois se equivalem e a evolução de um estilo específico depende de sua preferência.

A evolução dos estilos depende de como o jogador finaliza os inimigos. Após os surrar bastante, é possível usar um comando para prendê-los na foice, então deve ser decidido se os inimigos serão absolvidos ou castigados.

Acho que não preciso explicar o que aumenta o nível de qual caminho.

Mas aquilo que vai realmente colocar Dante no caminho da redenção (ou crueldade) são as almas perdidas espalhadas pelo caminho. Ao longo do game é possível encontrar sombras no Inferno, que representam pecadores históricos bastante conhecidos, como Pôncio Pilatos, Orfeus e Mordred, e cabe ao jogador absolvê-los ou castigá-los definitivamente, o que lhe renderá muitos pontos para o caminho escolhido.

O combate é bastante simples e divertido, com toneladas de combos e habilidades. Dante possui apenas as armas com os quais começa o game e não encontra novas, mas há combos o suficiente com cada uma para que não se tornem cansativas.

Os puzzles ao longo do game são bastante inteligentes e criativos e são razoavelmente simples. Eles colocam uma alternativa agradável aos combates e dificilmente o jogador irá empacar em algum.

O game também oferece uma arena após a conclusão da história principal, para que os jogadores testem sua macheza em combate enfrentando onda após onda de inimigo. E caso não tenha conseguido evoluir Dante ao máximo de sua força, há o New Game +, que lhe permite recomeçar a jornada com todos os poderes que já conquistou.

Dante’s Inferno é um título razoavelmente curto, que pode ser terminado em dez horas. Mas considerando tudo que ele oferece (fora os DLC’s) a jornada ao Inferno pode trazer diversão por um bom tempo mesmo após seu término.

Dante’s Inferno é um ótimo game de ação, que demonstra a força dos games como um veículo midiático capaz de gerar interesse genuíno por outros produtos culturais em seu público.

Como?

Bem, eu nunca li a Divina Comédia, mas depois de ter experimentado este game, tenho procurado o livro e pretendo dedicar um bom tempo a ele quando o comprar.

Assim sendo, quando encontrar algum boçal proclamando que “games alienam as pessoas” mostre que está lendo a Divina Comédia por causa de um vídeo game... E DEPOIS MANDE O MISERÁVEL PARA O INFERNO!!!

O mundo não sentirá falta dele, eu garanto!

Cheers!!!