sábado, 30 de maio de 2020

Crítica do Amer: Mortal Kombat Legends - Scorpion's Revenge


Eu pretendia lançar uma lista sobre os melhores games do Master System hoje, então levei uma flechada no joelho.

...

Esse sou eu, usando memes com quase uma década de idade como se fossem algo relevante.

Mortal Kombat Legends: Scorpion’s Revenge... Que foi lançado no Brasil e tem um título oficial em português que eu não vou usar, porque sou um esnobe que deixa o idioma do Playstation em inglês, é uma reimaginação da história do primeiro game da série Mortal Kombat, aquele lançado em 1992, época gloriosa em que as redes sociais não haviam derretido o cérebro das pessoas.

Então, o que quero dizer por “reimaginação”? Bem, a história é contada do ponto de vista de Hanzo Hasashi, vulgo Scorpion, o que me surpreende que ninguém tenha pensado em fazer antes, uma vez que ele é o personagem mais popular da série. Aqui, acompanhamos o ninja espectral enquanto ele ainda era humano, até a fatídica noite em que ele e sua família foram assassinados por Sub-Zero. Ao chegar em Netherrealm, que só existe porque Ed Boon não conseguiu registrar o inferno como sendo propriedade exclusiva sua, sua alma se depara com o feiticeiro Quan Chi, e faz um pacto com ele para poder voltar à Terra e se vingar do assassino de sua família.

Depois disso viajamos por território já conhecido: Raiden reúne os defensores da terra e os leva até a ilha de Shang Tsung, onde a treta milenar para salvar nosso mundo começa. A história toma algumas liberdades que podem incomodar os mais puristas para com a continuidade da franquia, mas trabalha bem ao resumir a trama do game original.

Já pararam pra pensar que em sua essência, Mortal Kombat é sobre um torneio de artes marciais que é utilizado para resolver uma guerra de invasão? Digo, um torneio onde o derrotado tem suas narinas arrancadas pelo vencedor pode parecer barbarismo, mas pense nas milhares de vidas que são salvas quando um conflito entre nações é resolvido desse jeito. Tão ouvindo, Trump e Putin? Se quiserem entrar em guerra, mandem só o Brock Lesnar e o Vasily brigarem sobre um tablado e o vencedor leva tudo. Que tal?

Ma bene, a história não tem grandes complicações. É Mortal Kombat, apenas um grande pretexto pra vermos personagens estrambólicos lutando até a morte e espalhando entranhas pelo cenário.

Muitas... MUITAS entranhas.


Como eu disse, o foco da história é o Scorpion, que tem, pela primeira vez desde que foi criado, uma caracterização sólida. Hanzo Hasashi é apresentado como um homem forte, mas gentil, algo demonstrado pela forma que lida com o filho. Ao mesmo tempo, esta gentileza esconde uma selvageria sem tamanho, algo óbvio pela brutalidade com que ele lida com os Lin Kuei quando estes atacam seu clã. Brutalidade esta que choca até mesmo o próprio Hanzo, que após reduzir um inimigo a um amontoado disforme de carne, olha para as próprias mãos em choque, como se desgostoso com o que acabara de fazer.

Esse é um dos pontos fortes da animação. Com toda honestidade, Scorpion nunca foi um personagem consistente nos games, sua personalidade se transformando de acordo com os caprichos dos criadores da franquia. Em um momento ele era um guerreiro honrado, disposto a treinar o segundo Sub-Zero em penitência por ter matado seu irmão mais velho, para no game seguinte decidir matar o jovem, por motivo nenhum exceto que sem isso a história não faria sentido. Scorpion mudou de lado entre mocinhos e bandidos mais do que o Big Show, e se entendeu essa referência, você é um ser de grande cultura e beleza.

Aqui não temos dúvida sobre o alinhamento de Scorpion. Ele é violento e impiedoso contra seus inimigos, sim, mas debaixo de toda fúria ainda existe um homem bom o suficiente para ajudar os demais personagens quando se encontram em desvantagem, e até mesmo passar uma noite no acampamento deles... Claro, distante e de braços cruzados, como todo “cool guy” faz, o que é mais tridimensionalidade que 11 games da série jamais nos trouxeram.

Infelizmente, somente Scorpion recebe este tratamento dentre todo o elenco, os demais personagens são extremamente monocromáticos em suas personalidades: Johnny Cage é o fanfarrão que não leva nada a sério mas que é valente e valoroso, Sonya Blade é a militar prego de caixão perpetuamente emburrada que aos poucos aprende a confiar nos outros, e Liu Kang é tão genérico que poderia ser substituído por uma alcachofra com faixinha vermelha que ninguém perceberia a troca. Os demais personagens sofrem da mesma superficialidade, a maior vítima disso sendo Goro, que de um dos mais icônicos vilões dos games, tornou-se um capanga monossilábico de Shang Tsung.

Apesar de tais percalços, a animação acerta em um ponto vital de MK: Galhofagem.

Pela maior parte de sua vida, Mortal Kombat era uma série tosca e sabia disso. Nela, ninjas caveiras torravam inimigos com bafo atômico, canalhas australianos arrancavam os mamilos dos inimigos a dedadas, e todo o elenco se vestia como se estivesse pronto pra cantar no programa do Carlos Imperial. Os responsáveis pela animação sabem disso, e temperaram o longa com toda farofa que tem direito, transformando-a em uma produção que ficaria muito a vontade ao lado de Os Aventureiros do Bairro Proibido ou Eles Vivem.

Uma lufada de ar fresco nesses tempos em que Mortal Kombat tornou-se politicamente correto.


A animação é de boa qualidade, como a maioria dos produtos direto para vídeo da Warner Bros, que aparentemente se apossou da alma de Mortal Kombat como Cary Tagawa se apossa de... Eu não sei como terminar esta frase, queria apenas fazer uma piada com o ator que interpreta Shang Tsung e não consegui pensar em nada, então direi apenas que se quiserem ver o querido Tagawa bolinando uma loira cracuda e cortando a cabeça dela logo em seguida, assistam Massacre no Bairro Japonês.

Sério, ele faz isso. E trabalha com o Tatsu, o mordomo do destruidor nos filmes dos Tartarugas Ninjas.

SHANG TSUNG E TATSU!!! AMIGOS PARA SEMPRE!!!

Voltando ao filme, a animação é bastante competente. Está um pouco abaixo do nível que costumamos ver nos desenhos de heróis DC, mas é de se esperar que a Warner não fosse investir em Mortal Kombat os mesmos cifrões que costuma injetar numa produção com o Batman. Mesmo assim, o resultado final é admirável, com personagens bastante expressivos, cores vivas e cenários bem desenhados.

As sequências de luta, que deveriam ser o ponto alto da animação, acabam sendo uma sacola de sortidos. Nem todos os duelos trazem a fluidez ou coreografia elaborada que se espera de uma história focada em artes marciais, o que pode ser atribuído ao orçamento menos caro que o de outras produções, ou talvez pouca experiência dos storyboarders com o tema. Mesmo assim, as batalhas sempre tem algo pra nos manter entretidos, seja a sanguinolência, ou personagens que são espertos suficientes para usarem o terreno em benefício próprio ou o puro dinamismo dos embates, que é suficiente pra manter a dopamina fluindo em nossos cérebros.

A escolha de vozes também foi muito boa, com Patrick Seltz, que emprestou a voz para Scorpion em MKX repetindo o papel aqui, e Steve Blum fazendo o mesmo por Sub-Zero. O resto do elenco também faz um bom trabalho, com um Johnny Cage bem carismático criado por Joel McHale e uma Sonya durona mas vulnerável, entregue por Jennifer Carpenter.

Caso prefira assistir a versão dublada (seu biltre monolingüe), Guilherme Briggs usa seus talentos vocais com Scorpion, e se tem uma coisa que eu nunca imaginei que veria, é o Freakazoid interpretando um ninja dos quintos dos infernos.

A vida é estranha as vezes.


Mortal Kombat Legends: Scorpion’s Revenge está longe de ser perfeito. Sua maior virtude é o óbvio carinho que seus realizadores tem pela franquia que inspirou este trabalho.

Agora, não escondo minha antipatia por Mortal Kombat 11. Como é transparente que os responsáveis pelo game não se importam com o lore da série, algo demonstrado por todos os retcons desnecessários que diversos personagens sofreram, fora o fato de que o jogo foi transformado em mero palanque para o panfletarismo político de seus criadores, algo que eles fazem questão de deixar muito claro pelas redes sociais, tal como o desprezo que sentem pelos fãs mais antigos.

MK Legends sabiamente evita este caminho, e nos traz pura e simples diversão, com referências suficientes para alegrar até o mais carrancudo amante da criação de Boon e Tobias. Apesar dos tropeços, este é um passo na direção certa para a saga de Raiden e seus guerreiros farofentos.

Hadouken!

Cheers!!!

8 comentários:

Sano-BR disse...

FINALMENTE! YES! YES! YEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEESSSSSSSSSSSSSSSS!!!!!!!!!!!!!!!!!!


EU DISSE, SAPOHA É DIVERSÃO GARANTIDA! CHUPA, MK 11!

Cassiotkg disse...

Grande Amerindo.

Que bom que voltou a escrever com frequência.

Assisti esse filme no seu discord, com o pessoal de lá.
E sendo um não tão fa de MK, digo que me diverti bastante com ele.

Sano-BR disse...

Cassião! É divertido bagarae, mano!

Me diverti mto assistindo esse filme,
principalmente pq fui conferir sem NENHUMA expectativa.

Fui surpreendido por essa belezinha, tomara que façam mais.

Lance "Avalanche" disse...

Bah na boa...eu gostei esse desenho até...mas não da pra pensar da maneira burra que o terceiro ato se torna.

pra começar o Torneio funciona numa espécie de Batle Royalle, aonde acaba por ficar o pessoal andando por ai é lutando...sem ter nenhuma regra decente ou consistente.

A Kitana pode simplesmente desistir de lutar...coisa que mesmo o Johnny Cage reclamando de estar sendo arrastado nunca faz, ele poderia apenas engregar e ir embora tb.

Sem nenhuam regra os participantes ficam andando a esmo se matando, pra eventualmente alguns chegarem no Goro e tentarem matar ele E pessoas que não fazem parte do torneio podem interagir com os participantes...oque tira qualquer motivo do torneio substituir uma guerra XD
Final com o Goro Morrendo por um golpe nas costas + Shant Sung não fazendo anda é o pior do filme, mas no final a confusão do torneio não ter regras (ter um monte de regras que simplesmente não funcionam as vezes) faz com que o filme fique uma bosta fora da parte do Subzero X Scorpion.

E tu acaba notando partes ruins que não iriam te incomodar se o desenho fosse melhor, como:
-Sonya Blade continuamente fica acertando golpes nos sacos dos outros antes do Johnny finalmente fazer isso;
-Sonya Blade irritantmenete pe mostrada como durona pra no final ela ser uma princesa precisando de resgate;
- TODO VILÃO do filme acaba sendo derrotado facilmente;


Francamente o desenho cheio de Gore e sem limite nenhum ainda é pior que o filme PG-13.

Leandro"ODST Belmont Kingsglaive" Alves the devil summoner disse...

Que bom saber dessa animação ficar longe dos pensamentos progressistas SJWs da Netherealm hoje em dia. talvez chame o meu irmão menor para assistirmos para nos relembrarmos dos tempos aúreos de outrora da franquia, E tendo bastante Gore então, provavelmente falará dessa animação por dias.


FINISH HIM!!!!

Thiago da Silva disse...

O filme nos entrete pela nostalgia, mas sou um puto fã de gore, tripas e sangue, então Curti o filme!!

Jonas Santos disse...

Minha grande crítica à animação foi o papel secundário bem fraquinho dado aos vilões. Nenhum se destaca (nem o "antagonista" Subzero), Quan Chi nem parece a ameaça enorme que realmente é... Achei esse defeito muito na cara, ainda mais depois de Aftermath com uma atuação fodastica do mestre Cary-Hiroyuki Tagawa, onde o ator encorporou toda a essência do personagem e parecia se divertir genuinamente a cada pilantragem do feiticeiro. Mas no fim, é um filme bem legal e curto.

Obs:Assistam Massacre no Bairro Japonês que o Hammer indicou. É muito bom.

Moonwing disse...

Eu gostei do filme também, mas eu esperava mais. Principalmente no terceiro ato.