Existem games que simplesmente não conseguimos parar de jogar.
Toda geração possui um título que se torna nosso xodó. O jogamos por milhares de horas, procuramos toda informação referente a ele, o mostramos para nossos amigos com o mesmo orgulho de um pai que apresenta seu filho recém nascido e o defendemos de qualquer crítica, muitas vezes sabendo que ele possui falhas bem visíveis.
Na geração 16 Bits, o meu grande amor era Eternal Champions: Challenge From The Dark Side, lançado para o Sega CD em 1994.
Eternal Champions começou sua vida como um cartucho para Mega Drive lançado em 1993. Nesta época, o mundo dos games estava em rebuliço por causa do sucesso blenorrágico de Street Fighter II e todas as produtoras de games e suas mães estavam lançando títulos no mesmo estilo, tentando destronar o jogo da Capcom, ou pelo menos conseguir um pouco de grana estando a sua sombra.
A Sega foi arrogante (como sempre) e declarou que tinha um game que finalmente derrubaria Street Fighter II, Mortal Kombat e tudo mais que existisse. De fato, As propagandas faziam parecer que Eternal Champions era tão bom, que morreríamos se não o comprassemos no dia de seu lançamento.
Para surpresa de ninguém, o jogo não era grande coisa. Os gráficos e som eram muito acima da média para o Mega Drive, mas os comandos para os golpes especiais eram inacreditavelmente complicados e a jogabilidade era tremendamente dura, para quem não sabe, estes são os dois fatores que definem o sucesso ou fracasso de um game de luta.
Mas a Sega não desistiu e passou a bola para a produtora Deep Water, que um ano depois lançou uma versão melhorada de Eternal Champions para o Sega CD.
E ao mesmo tempo, conseguiu produzir um dos games mais horrivelmente violentos de toda história.
Aqui, conhecemos o Eternal Champion, uma entidade eterna (como o nome sugere) e de vasto poder, que presenciou diversos acontecimentos na história.
O negócio é que devido a interferência de forças não identificadas, diversas pessoas morreram antes de seu tempo e geraram um impacto catastrófico no desenvolvimento da humanidade. Como não tem mais o que fazer, o Eternal Champion usou seu poder para viajar entre as eras e resgatar estas pessoas alguns segundos antes de suas mortes prematuras.
O que ele fez com esse monte de gente? Um torneio, claro! E o vencedor receberia o direito de voltar a vida, evitar sua morte e reescrever a história, como era seu direito.
Digam o que quiserem, mas um enredo desses dá baile em muito JRPG que insiste em usar a velha fórmula de "heróis adolescentes corajosos que enfrentam um império do mal que está sendo controlado por uma força cósmica milenar, desconhecida e perversa."
Sem contar que os personagens são extremamente bem trabalhados para um game de luta dos anos 90.
Entre os membros do elenco temos Slash, um homem das cavernas bastante evoluído para sua época, Trident, um guerreiro Atlante geneticamente modificado, Dawson McShane, um cowboy Irlandes durão, Shadow Yamoto, uma ninja que preenchia o papel da obrigatória Japonesa gostosa e R.A.X Coswell, um cyborg lutador de Muai Thay do ano de 2345, entre outros.
Um elenco tão variado adicionava muito ao jogo, especialmente porque todos os personagens eram diferentes. Exceto pelos personagens secretos (que todos descobrimos uma semana após o lançamento do game), não haviam repetições ao estilo Ryu e Ken, e para um jogo lançado há mais de dez anos isso é um achado.
Sem mencionar o video de abertura que conta toda a história do jogo e apresenta todos os lutadores. Pode parecer primitivo para os padrões atuais (procure no Youtube, que tem), mas na época, fazia hordas de pessoas pararem em frente a uma tevê que a estivesse passando em alguma locadora.
Na hora de avaliar os gráficos, é preciso ter em mente que o Sega CD não é um aparelho próprio, mas um periférico que simplesmente usa as capacidades do Mega Drive para processar seus jogos.
Ou seja, Eternal Champions: CFTDS possui gráficos excelentes para um game do Mega Drive.
Os personagens são grandes e bastante coloridos e possuem uma animação incrivelmente bem trabalhada para a época, com mais frames do que estavamos acostumados a ver. Nos personagens que usam sobretudo por exemplo, é possível reparar que o casaco se move juntamente deles, ao invés de ficar estático enquanto eles atacam.
Os cenários também são bem feitos e possuem um bom nível de detalhes. Cada um reflete a época do personagem correspondente, então somos contemplados com uma vila no meio da Guerra do Vietnam, uma mina da época do velho oeste, um arranha céu em Tokyo e por aí vai.
O quesito som deixa um pouco a desejar. As músicas são bastante cristalinas e limpas, bem superiores as da versão em cartucho, mas nenhuma delas é empolgante ou memorável.
Uma oportunidade desperdiçada, pois fazendo uso do espaço disponível no CD, os produtores poderiam ter colocado algumas faixas de jazz ou heavy metal, que condizessem melhor com a personalidade de cada lutador, mas ao invés disso, temos uma trilha sonora extremamente genérica.
As vozes digitalizadas por outro lado, são muito melhores que as do Mega Drive, pois todos sabemos o quanto o console da Sega era ruim para tentar reproduzir vozes humanas e mesmo seus melhores resultados acabavam soando como arrotos ou escarradas.
Bons tempos aqueles, que voz digitalizada era o auge da tecnologia.
E aliás, metade dos efeitos sonoros de golpes foram tirados diretamente e Street Fighter II. Por que a Capcom nunca processou a Sega, jamais saberemos.
A jogabilidade melhorou em relação a versão cartucho, mas sinceramente, isso não significa muito.
Os controles não são mais duros como antes e não requerem que você use de todo seu peso corporal ao pressionar um botão para que o movimento seja registrado. Por outro lado, os movimentos especiais continuam ruins de serem usados.
Ao invés de utilizar comandos cimples como "meia lua pra frente e soco", os produtores fizeram questão de usar movimentos como "Diagonal inferior pra trás, para frente, soco fraco e chute médio simultaneamente."
Pode não parecer muito complicado agora, mas no calor da batalha é muito fácil esquecer qual chute se aperta junto com o soco e perder muitas lutas enquanto se tenta lembrar do comando certo. Lógico que isso pode ser facilmente resolvido jogando-se com uma lista de golpes do lado, mas quando um game precisa que você imprima uma lista de movimentos da internet para poder jogar, é porque ele está fazendo algo errado.
Felizmente, a versão de Sega CD é bem menos difícil que a e Mega Drive. Não entenda errado, não é um game fácil, mas é bem mais possível terminá-lo do que a versão em cartucho, que te mastiga e cospe como se fosse um pedaço de carne dura esquecida em um canto da churrascaria.
Mas a maior inovação de Eternal Champions: CFTDS sem dúvida eram as inúmeras formas grotescas de eliminar seu oponente. É possível encerrar a luta com Overkills, Sudden Deaths, Vendettas e Cinekills.
Overkills e Sudden Deaths são finalizações aplicadas pelo cenário. É preciso deixar o oponente em um determinado lugar da tela ao se aplicar o golpe final e então, algum elemento do cenário se encarregará de dar cabo do infeliz.
Por exemplo, o cenário de Larcen Tyler se passa em frente a um cinema. Preenchendo as condições certas, a moça que trabalha na bilheteria puxa um revolver, mete bala no derrotado e não satisfeita, atira com uma doze em sua cabeça, espalhando seu cérebro de forma bem detalhada pela rua.
Pois é.
O Vendetta é um movimento executado pelo próprio personagem e requer que o oponente seja tonteado com pouca energia. Só é preciso executar um comando específico para que o adversário seja eliminado de maneira tremendamente grotesca.
Os Cinekills eram uma novidade suprema. Preenchendo certas condições (bastante difíceis de se descobrir, diga-se de passagem), o Dark Champion, uma versão maligna do Eternal Champion, surgiria e mataria o seu adversário em uma cena de animação.
Assim como a abertura, tais animações parecem bastante primitivas hoje em dia, mas na época eram o máximo dos máximos e qualquer um que executasse um Cinekill era elevado ao posto de semi deus e recebia seu próprio harém de super modelos peitudas que pareciam a Salma Hayek.
Sim, a vida dos gamers era muito melhor na década de 1990.
E para ser muito sincero, esta violência excessiva era o único motivo real para alguem continuar jogando Eternal Champions: CFTDS. Eu mesmo passava horas com dois controles ligados, lutando contra ninguém e só preenchendo os requisitos necessários para assistir as abominaveis cenas de execuções.
Arrisco dizer que este é um dos games mais terrivelmente violentos de todos os tempos, mas como não fez sucesso algum, acabou passando por baixo do radar dos desocupados de plantão, que já na época culpavam os games por todos os males da sociedade.
Eternal Champions: Challenge From The Dark Side não é nem de longe um game excelente, mas é bastante memorável.
Sua execução não foi das mais brilhantes, mas todos devemos reconhecer que existia um imenso potencial por trás deste jogo, algo que infelizmente não foi aproveitado como deveria.
Infelizmente, como tantas outras boas franquias da Sega, esta morreu sem nunca ter o brilho merecido e eu adoraria vê-la ser ressuscitada. Tudo bem que a Sega não fez um bom serviço ao trazer de volta Golden Axe e Altered Beast, mas Eternal Champions nunca foi um grande jogo e dificilmente poderia ser piorado.
Mas neste quesito, é melhor nunca duvidar da Sega, ela conseguiu estragar o Sonic...
Cheers!!!
20 comentários:
Isso é q é jogo violento.MK perto disso ai é ursinhos carinhosos xD.
Ótima review Amer(como sempre).
Eu tenho essa versão em emulador, a qualidade visual é excelente, mas os comandos do game são meio confusos. A sega deveria ter sido menos "revolucionária" nesse aspecto, às vezes o máximo que se acerta é o próprio pé. Eu concordo que os fatalities realmente são um show à parte, mas os critérios são outra bomba.
Ele acabou caindo na mesma rede de uma centena de jogos que foram lançados na época do boom de MK, mas que a gente só jogava pra ver os fatalities.
Grande post.
Eu vi este game no youtube outro dia, realmente a tranqueira tinha o potencial, assim como uma caralhada de jogos do Mega Drive (tava vendo o Video Game Valt do Screwattack outro dia, já viu um jogo do Mega chamado "The Ooze", em q vc eh um monstro gosmento? :P)
Enfim, me pergunto pq resolvem fazer um jogo de luta com controle complicados.
Eu já todos os videozinhos desse jogo
e devo dizer, fiquei impressionado com a violência
Queria tanto ter jogado isso com meus 8/9 anos :/
E Thyago, aquele The Ooze do Video game vault parece ser muito legal XD
Aliás Amer, se você aceita sugestões
já que estamos falando de Mega Drive, que tal comix zone?
só de ler a review me deu vontade de dar uma olhada nesse jogo :x
podes crer que em maio vou garantir a minha Old Gamer!
espero que tenha a old gamer na banca do lado do colégio.
se não tiver vou ter que procurar na banca do supermercado haha.
ótimo review, vou até procurar no youtube pra ver como eram esses "fatalities"
Otima análise, cara!
Os fatalities são infinitamente superiores aos do MK. O jogo tinha muito potencial, muito mesmo, mas os comandos são simplesmente impraticáveis!!!
Pelo que eu li do que seria o terceiro game... seria amazing, just amazing!!! Fantástico! A Sega DEVERIA reviver a série, fazer remakes e a continuação, mas é pouco provável, a equipe já se dispersou.
*Obs.: Nunca vi sangue tão bem feito em games como o da jaula do leão nem órgãos tão à mostra, que o jogo inteiro tem.
Excelente análise , Eternal Champions é o meu jogo favorito de Mega Drive e a versão do sega cd ficou fantástica .
A sega podia lincenciar para que alguma empresa COMPETENTE produzisse uma versão pra xbox ou play3 . Eu gostei do Shinobi do play2 .
Procurando se ainda existia uma alma que jogava EC, achei esse post. Saudade do Mega Drive, era viciada em Eternal Champions, e msm sendo mulher só queria jogar com o 'alquimista' lá (XAVIER). Jogava quando era pequena, e mt tempo depois de ser lançado, já que vim ao mundo no msm ano da chegada do jogo(rs)Comecei a conhecer o Mega Drive III qnd o Nintendo tava na moda .E o que falar de MK, lendário neh? Vou procurar essa versão CD. Post legal. Congrats!
Cara isso é incrivel, eu só joguei (e muito!) a versão Megadrive, a Sega CD só descobri hj! e eu era GAMER na época do lançamento! Nossa, vivia em locadora pra jogar Eternal e Samurai Shodown no Mega e StreetFighter II The New Challengers e Top Gear no SuperNes, deu saudade, valeu cara. Congrats, very, very and very nice!!
E aí blz galera?
Ótima review cara,isso é um jogasso,mas onde posso encontrar os comandos dos cinekills e vendettas desse jogo?
Leozaogh3, Cinekills não precisam de comando para serem executados, mas são bem difíceis de se fazer. Primeiro, você tem que fazer um Power Combo (um tipo de combo de 9 hits ou mais que, se feito corretamente, muda a aparência da barra de Yin-Yang, assim te garantindo golpes especiais infinitos por 10 segundos). Depois, você tem que deixar o oponente tonto e com 15% de vida ou menos (enquanto estiver sob o efeito do Power Combo). Feito isso, o Dark Champion aparece e mata o oponente. Quanto aos Vendettas, procura no Gamefaqs
O pior desse game é que quando você era derrotado por um adversário,você retrocedia ao inimigo anterior,Tenso.
Aí Amer já ouviu Falar de Tattoo Assassins?
dá uma olhada no meu blog aí.
http://culturajovemdoplaneta.blogspot.com.br/2013/01/os-genericos-de-mortal-kombat.html
Jonathan, Tattoo Assassins era uma merda. A única coisa que eu gostei eram os fatalities, mas só isso
Ei padawan, esse jogo tá disponível pra download? E se estiver, só dá pra jogar com a Shadow?
Este comentário foi removido pelo autor.
Aqui o tópico oficial do eternal Champions: http://www.chronocrash.com/forum/index.php?topic=377.msg2432#msg2432, é bom fazer cadastro, e bem vindo a engine Openbor ;D.
Bem, padawan, obrigado pela informação. E eu já sabia sobre a engine OpenBOR (e eu também uso MUGEN). Obrigado mesmo assim
"You spin me right round baby right round like a record baby right round round round ♫♫♫" Adoro a música desse combo video
Aqui tem os golpes e faqs do jogo
http://www.gamefaqs.com/segacd/587945-eternal-champions-challenge-from-the-dark-side
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