segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Crítica do Amer: Mass Effect


Eu sinceramente fujo dos debates “games são arte” que hoje em dia pipocam por aí o tempo todo.

Se querem minha opinião, games ainda não são arte, é uma mídia muito jovem que ainda não atingiu seu pleno potencial e que ainda está muito atrelada à jogabilidade tradicional. Não importa como os produtores decidam fazer o game, se ele não puder ser jogado de uma maneira decente, todo o conceito artístico presente nele deixa de ter valor.

Mas mesmo assim, existem games que me emocionam por proporcionarem experiências impossíveis no cinema, literatura ou música e se for para considerá-los arte, deve ser por tais momentos.

Mass Effect me permitiu caminhar sobre a Lua.

É uma missão opcional bastante simples e que não tem grande repercussão para a história do jogo, mas mesmo assim, por alguns minutos, pude caminhar sobre a superfície Lunar e olhar para a Terra lá de cima.

Por mais que já tenhamos visto esta cena no cinema e televisão, há uma sensação totalmente diferente quando estamos no controle da situação e podemos olhar para nosso planeta, do mesmo ângulo que Neil Armstrong provavelmente o fez em 21 de Julho de 1969.

Ainda acho que os games tem um longo caminho até que possam ser considerados arte propriamente dita (mesmo o conceito de “arte” variando muito de pessoa para pessoa), mas Mass Effect prova que como veículo midiático capaz de providenciar experiências únicas, eles definitivamente estão no caminho certo.


A história se passa no ano de 2183, a raça humana já passou pelo primeiro contato e está espalhada pela galáxia, interagindo com as mais diversas espécies alienígenas. Os humanos ainda são vistos com certa suspeita por algumas espécies e não tem uma cadeira vigente no Conselho Galáctico, mas luta diariamente para preservar seu lugar no espaço.


O jogador assume o papel do Comandante Sheppard, um membro altamente treinado da Aliança Humana. Sheppard tomou parte em uma missão onde uma colônia humana foi atacada pelos Geth, uma raça de seres sintéticos que sempre viveram exilados em um setor distante da galáxia.

Eventualmente, Sheppard descobriu que Saren, um agente veterano do Conselho Galáctico estava por trás de tal ataque e comandava os Geth. O conselho fez de Sheppard um Spectre (um agente especial acima da lei, que só responderia ao próprio conselho) e lhe incumbiu a missão de capturar Saren e trazê-lo a justiça.

Ao longo de sua missão, Sheppard recruta inúmeros aliados e explora toda a galáxia atrás do traidor. O militar também passa a ter visões, resultado de ter sido bombardeado com a energia de um artefato alienígena e aos poucos elas revelam que os planos de Saren são muito mais grandiosos e perigosos do que o Conselho Galáctico pode imaginar.

O enredo de Mass Effect é simples: persiga o vilão e neutralize-o. Felizmente, ele é tão bem trabalhado, que não se torna simplório em momento algum, muito pelo contrário.

Os produtores se deram ao trabalho de acrescentar bastante recheio no enredo para que este não se tornasse magro demais. As raças alienígenas são bastante fascinantes e é possível passar um bom tempo conversando com os membros da tripulação para descobrir mais a respeito deles e de suas culturas.

É possível criar não apenas a aparência do Comandante Sheppard, mas sua origem também. Ele pode ser desde um colonialista que sobreviveu a um massacre, como um explorador espacial que se alistou na Aliança Humana, o que modifica a forma com que alguns personagens reagem a ele.

Finalmente, é possível escolher diversos caminhos ao longo da história. Sempre que se deparar com uma situação de diálogo ou negociação, é possível tomar medidas pacíficas ou agressivas e todas tem repercussões para a história.

Por exemplo, em um determinado momento Sheppard encontra o último ser de uma raça extremamente violenta que causou massacres no passado. cabe a ele decidir se vai deixar este ser fugir, ensinando-lhe um senso de piedade que ele até então desconhecia ou se eliminará este ser e carregará em suas mãos o peso de ter eliminado uma espécie.

Estas decisões estão presentes no game inteiro e moldam o desenrolar da história em diferentes níveis. Dependendo de suas escolhas ao longo do game, pode ser necessário executar um membro rebelde de sua tripulação em um momento chave da história.

E saber que o resultado destas decisões será carregado para Mass Effect 2 e possivelmente o 3... dá um peso novo a elas.


Mesmo tendo sido lançado em 2007, Mass Effect permanece como um dos games com visual mais impressionantes de todos os tempos.


As texturas usadas nos personagens são praticamente perfeitas, podemos ver diversas imperfeições na pele dos humanos, como barba por fazer, rugas e marcas de expressão e outras nuances da pele humana difíceis de serem reproduzidas em polígonos.

Os alienígenas fazem jus ao título, pois são seres quase que totalmente diferentes dos seres humanos. Os Krogan são largos e agressivos, parecendo-se com enormes tartarugas humanóides, enquanto as Asari são uma raça unicamente de fêmeas, muito similares a humanos, exceto pelo formato de seus crânios e pele azulada.

Uma coisa é fazer um ser humano parecer realista, mas quando um ser que definitivamente não se assemelha em nada com um homem recebe o mesmo tratamento, é porque estamos diante de uma pérola técnica da mais alta qualidade.

É fascinante olhar para dois seres da mesma espécie e ver que eles possuem diferenças bastante claras em sua aparência. Como suas mandíbulas se movem, o modo que piscam, podem parecer iguais a uma primeira vista, mas cada ser possui uma identidade própria no jogo.

Os cenários são igualmente bem cuidados e tem alma própria. O interior da Normandy (a nave de Sheppard) é utilitária, afinal é um transporte militar, Virmire é um planeta ensolarado, cheio de lagos e mares e a Lua... bem, é a Lua mesmo.

Claro, o excesso de texturas tem seu lado negativo. Em alguns momentos, o jogo não consegue carregar imediatamente todas as camadas que compõem personagens e cenários e acabamos vendo modelos mais simples que aos poucos são cobertos com suas texturas detalhadas. Isso não interfere no jogo, mas acontece de forma constante demais para ser totalmente ignorado.

O som também é fantástico, há muitas horas de diálogo gravado e praticamente todos os dubladores do game fazem um trabalho excelente. Conversar por longos momentos com os membros de sua equipe não se torna cansativo, devido as falas extremamente bem interpretadas.

A única falha da dublagem, se é que podemos considerar assim, é que a voz selecionada para a versão feminina de Sheppard é muito melhor que voz da sua versão masculina.

Jennifer Hale faz um trabalho muito melhor do que Mark Meer no papel de Comandante Sheppard. Jogadores que optarem por usar uma mulher como protagonista com certeza se apegarão mais a personagem do que aqueles que utilizarem a versão masculina que é totalmente “baunilha” em sua atuação.

A música é de difícil definição, as composições são muito bem feitas e combinam perfeitamente com a ambientação de ficção científica presente na história, por outro lado, Mass Effect não tem o tipo de música que você colocaria no MP3 e sairia ouvindo por aí. Ela não funciona muito bem se estiver desligada de seu game de origem.

Mas ela gruda na sua cabeça, não tenha dúvida disso. Se ficar muito tempo na tela de construção de personagem, garanto que nunca esquecerá a música que se repete infinitamente neste momento.

Se isso é bom ou não, deixo que os tribunais decidam.


A jogabilidade é em terceira pessoa e sua ação se assemelha muito a Gears of War, só que bem menos frenética e mais voltada ao planejamento e estratégia do que reflexos puramente ditos.


Sheppard pode pertencer a classes diferentes de personagem, entre elas um soldado (que é o mais adequado ao combate), um engenheiro (proficiente em invadir sistemas ou desativar mecanismos de proteção) ou um Biótico (com poderes telecinéticos). Também é possível pertencer a uma classe mista, que aprenderá habilidades variadas, mas com um pouco menos de eficiência.

A escolha da classe de Sheppard é muito importante, pois define sua posição nos combates ao longo do game. Um Soldado é muito mais ofensivo e mais adequado para tomar a dianteira e proteger os outros membros do grupo, enquanto um Biótico já não é tão bom nesta função, mas pode dar boa cobertura aos colegas.

Os outros membros da equipe também são divididos em classes, o que faz com que a escolha adequada dos membros do grupo se torne muito importante. Não é uma boa idéia montar uma equipe sem soldados para uma missão voltada somente ao combate, da mesma forma que um grupo de Bióticos não é muito eficaz em um trabalho de desligar as defesas de uma base para invadi-la sorrateiramente.

O grupo pode equipar acessórios que aumentam a capacidade destrutiva de suas armas e aumenta as defesas de suas armaduras. É possível acrescentar dano venenoso a munição dos rifles, ou usar munição que ignora defesas, enquanto dá pra aumentar a potência dos escudos gerados por sua armadura e a velocidade com que os mesmos são restaurados ao sofrerem danos.

Finalmente, é possível dar comandos diretos aos membros de seu pelotão durante os combates. Soldados podem flanquear os inimigos, Engenheiros podem hackear a inteligência artificial de adversários sintéticos e Bióticos podem gerar escudos protetores ou descargas psiônicas que tiram o equilíbrio dos adversários.

Se for preguiçoso demais para dar ordens individuais aos colegas, a inteligência artificial do jogo faz um ótimo serviço em controlá-los. O combate de Mass Effect é desafiador na medida certa e não importa a maneira como jogue, a maior parte do game evita momentos frustrantes com grande maestria.

Conforme os personagens evoluem e ganham Level, é possível distribuir pontos para aumentar suas habilidades. Os pontos não são infinitos, uma vez que a equipe sobe apenas até o Level 60, então é preciso usar a cuca para não desperdiçar preciosos pontos em habilidades que não serão usadas.

Ao mesmo tempo, só se libera algumas habilidades ao se elevar o nível de outras. Por exemplo, um jogador que queira dar a Tali a habilidade de equipar Shotguns precisa gastar pontos com a perícia Pistols até que esta libere a opção de se aperfeiçoar no uso de armas mais pesadas.

Este tipo de evolução obriga o jogador a usar de certa estratégia para maximizar a eficiência de seus personagens. Não é complexo o bastante para te obrigar a utilizar uma calculadora científica, mas também não perdoa quem gasta pontos de habilidade mundanamente.

Finalmente, Mass Effect influencia a exploração dos planetas e sistemas solares disponíveis de uma forma que eu não via desde as relíquias Buck Rogers: Countdown to Doomsday e Starflight, ambos lançados para Mega Drive, Amiga e outros sistemas das antigas (eu sou um cara VELHO).

Assim que assume o comando da nave Normandy, o jogador pode desbravar todas as nebulosas e sistemas solares da galáxia. Normalmente, cada sistema tem apenas um planeta ou lua que pode ser explorado, mas os demais podem ser estudados com os sensores e catalogados.

Assim que se desce em um planeta, a equipe pode se aventurar pode ele com o tanque Mako e então buscar artefatos perdidos, checar pontos anômalos do terreno ou investigar pequenas instalações que podem estar ligadas aos mais variados propósitos.

Na maior parte das vezes, estes planetas estão associados a missões menores e opcionais, e vez ou outra você terá de visitá-los. Mas isso não diminui o quão fascinantes estas viagens podem ser.

E me diziam que eu nunca viajaria pra outros planetas! Pois é, quem está rindo agora?


Mass Effect é um dos melhores games disponíveis para o X360 e uma razão definitiva para se comprar o console.


Como se explorar o universo e fazer parte de uma ópera espacial de primeira grandeza não fossem o bastante, o game ainda oferece a possibilidade de se namorar com uma gatinha alienígena azul.

Façam melhor!

Cheers!!!

17 comentários:

Cosmão disse...

Sempre tive curiosidade com esse jogo, agora que saiu o segundo fiquei atiçado a pegar esse primeiro.
Acho que vou dar uma chance, apesar de não gostar muito de temas espaciais...

Scariel disse...

Ah!Cara...
Jogos como esse é que me fazem pensar que eu escolhi o console errado.
Esse review ficou ótimo!Se tivesse grana comprava agora um Xbox360 só pra jogar Mass Effect...

Vagabundo da Lei disse...

Execelente Review brother.

Sobre o jogo: curti muito o enredo dele e achei o "gênero" bem original.

Otto disse...

Estou com ele no PC e em breve dou uma chance. Esses hojes de hoje em dia nos fazem pensar porque são RPGs, porque pra mim ele é TPS por mais que tenham opções de "mudança" no enrendo.

Gledson disse...

Pensei que só eu tinha ficado que nem um bobo ao andar na lua, chamei a minha esposa e falei: Olha, amor, estou na Lua, veja a Terra, é sem dúvida o planeta mais lindo. Isso sim é RPG, jogo que nos envolve!

evil monkey disse...

Esse é o jogo que eu mais queria ter no meu ps3.ou melhor o segundo, só perde pra mass efect 2.

Mas, porem e contudo, eu acho que é possível que esse macaco compre um XboX360 dentro de um ou dois anos para jogar esses títulos.

Além do mais sempre se pode recorrer ao pc com configurações mínimas.
Se rodou assassin's creed é provável que rode mass efect.
...

Zé Abrão disse...

foi um dos primeiros jogos que eu joguei no 360 e é definitivamente sensacional, superou muito as minhas expectativas.

Thyago disse...

o segundo jogo, com isso de vc importar o save do primeiro, fazem com que vc revisite ele.
mass effect é um dos jogos que eu tenho ORIGINAIS, pra vocÊ ver como gostei do jogo. Apesar disso, acho que você não falou do pior defeito desse jogo: a repetição descarada de vários cenários.

Mas ainda assim, é um jogo excelente. Ah sim, quer acabar com o load das texturas? Instale ele no seu HD.

Suiço disse...

Jogaço, catei recentemente e já estou com 10 horas de jogo, merece de fato toda atenção, é fantástico em vários pontos.

Godiles disse...

huum...vou pegar para o pc...

espero que eu não me desepcione igual Fallout 3 ao qual voce se referia como sendo um jogo "fucking foda from hell"...

well gosto é gosto...vamos ver...[=

ótima review...cada dia melhor.

Sasoriman disse...

Meu futuro primeiro jogo no 360... Oh sim...

Aliás Amer, pergunta:

Mesmo com um personagem feminino, ainda dá pra namorar a alienígena azul?

...Ouvi falar disso, mas nunca consegui confirmar.

Cajun explosion disse...

Excelente review Amer, deu realmente muita vontade de jogar, pena eu não ter X360...

Mudando um pouquinho o assunto, faz um tempo que vc não faz review de jogos antigos, Starflight e Bucky Rogers são excelentes pedidas hein?

Parabéns pelo blog

Amer H. disse...

Semana passada escrevi sobre um game de Mega Drive.

Smile Time disse...

Aposto que o Amer (tal qual eeu) fez umA Comandante Shepard, ruivinha!

Guidcs disse...

um dos melhores jogos que já a joguei , o trabalho dedicado a cada ser , tornando cada um único ,e a liberdade do jogo , tornam mass effect um jogo único.O mais legal e comparar como ficou sua historia com as dos seus amigos , ja que as decisões afetam o desenrolar do jogo. Ótimo review amer!

Leandro" Leon Belmont" Alves the devil summoner disse...

eu já peguei esse game aqui. dei uma testada, embora desde que esse review foi escrito, o Mass Effect é visto com maus olhos desde o ME 3, vou tentar jogar a trilogia inteira. talvez faça um Sheperd Biotíco ou como um soldado mesmo.

espero não me decepcionar, mas dizem que os primeiros games são excelentes. veremos

Juninho! disse...

Nunca fui o maior fã de RPG's americanos, se eu comprei o Mass Effect Trilogy pro meu PS3 foi por causa desse post e UAU! Comecei muito bem. Adorei o jogo, os personagens, o enredo, tudo!

Menos os bugs e as side-quests repetitivas desse jogo mas independente disso é um jogaço apesar de todos os bugs só pelo maravilhoso universo construído e entregue ao jogador que pode debulhar e ver cada detalhe desse universo fantástico.

Valeu pela dica Amer, eu joguei o 1 e zerei e agora já to jogando o 2.