quarta-feira, 12 de maio de 2010

Crítica do Amer: Alan Wake


Hoje em dia, é bastante comum um game buscar inspiração no cinema e tentar o máximo possível se assemelhar a um filme.

Alguns dos maiores jogos dos últimos anos seguem esta fórmula: Gears of War, Metal Gear Solid, Mass Effect e tantos outros que são construídos de forma a parecerem algo sobre o qual Roger Ebert escreveria.

Alan Wake toma um rumo diferente, seus produtores não se inspiraram no cinema para fazê-lo, mas sim em séries de suspense para a televisão, como Twin Peaks, A Dança da Morte e Além da Imaginação. Ao mesmo tempo, é inegável a influência de Silent Hill e outros títulos de terror na criação do universo habitado pelo problemático Alan Wake.

Um game que foi desenvolvido ao longo de cinco anos e que foi apresentado na E3 de 2009 como um dos maiores títulos exclusivos a atingir o Xbox 360, seria Alan Wake algo digno de sua atenção, ou a Microsoft fez a propaganda atravessar o teto a toa?

É o que vamos descobrir!


Acompanhamos a história de Alan Wake, escritor bem sucedido de livros de suspense que sofre de uma pequena condição que o impede de trabalhar: bloqueio de escritor. Nos último dois anos, Alan não conseguiu escrever uma palavra sequer, quanto mais um novo livro.


Para solucionar este problema, sua amada esposa Alice programou férias na cidade de Bright Falls, acreditando que um tempo longe da correria do dia a dia seja o que Alan precisa para poder voltar ao trabalho.

Bright Falls é a típica cidade pequena onde todos se conhecem e com tipos locais bastante pitorescos, como o radialista idoso e sábio, a garçonete bonitinha e empolgada, a xerife durona, os dois velhinhos que foram astros do Heavy Metal no passado e por aí vai. O local é cheio de vida e parece ideal para se relaxar.

Mas a cidade carrega consigo uma história sinistra, do qual poucos tem conhecimento e menos ainda conseguem acreditar.

Logo na primeira noite no local, Alice é sequestrada por forças sobrenaturais. Alan tenta sem sucesso salvá-la e acorda algum tempo depois muito confuso e sem saber que aconteceu, resta-lhe tentar manter a sanidade enquanto procura descobrir a verdade e salvar sua esposa

A história parece retirada diretamente de um livro de Stephen King, mas podemos ver influências do trabalho de David Lynch também, principalmente perto do desfecho do game. Os criadores de Alan Wake tem um óbvio amor por histórias de suspense e fizeram questão de deixar isto claro. Jogadores que gostem e leiam muitos livros do gênero irão se deleitar com as inúmeras referências espalhadas ao longo da aventura.

Como mencionei anteriormente, a história é contada em um formato televisivo, se assemelha menos a um filme e mais a uma minissérie. Todos os capítulos se encerram com um gancho para o próximo e um fechamento típico, enquanto vemos recapitulações do enredo ao início de cada nova etapa.

Para manter-se leal ao estilo, não há nenhuma instância de violência excessiva no game. Nada de desmembramentos, órgãos arrancados ou coisas do tipo. Mesmo os inimigos morrem de forma “limpa”, e se desintegram igual aos vampiros no seriado Buffy.

Sério, Bones é mais violento que Alan Wake.

Tal escolha adiciona legitimidade ao formato televisivo adotado e prova que sangue em excesso não gera necessariamente uma boa história de terror. O clima pesado e misterioso da história foi tudo que os criadores julgaram necessário para manter o jogador aflito em sua poltrona.

Uma sábia decisão.

Isso não quer dizer que Alan Wake possui um enredo perfeito e amarrado em seus mínimos detalhes, alguns pontos são meio mal explicados e parecem não fazer diferença alguma dentro da história do jogo. Nada que prejudique a experiência como um todo, mas que impede que o título alcance a alta qualidade a que se compromete.

Preste atenção no agente do F.B.I, como ele entra e como sai da história e tente descobrir sua real relevância. Então vai entender o que estou falando.


Os gráficos são ótimos e uma das maiores proezas técnicas deste título. Os personagens são muito bem construídos e possuem identidades visuais próprias, a animação também é fluida e bem feita, com movimentações bastante naturais.


Os cenários são detalhados e representam bem uma cidade pequena em suas nuances. O lugar é muito vivo e amistoso, uma bem vinda variação para o excesso de cinza, marrom e verde que temos nos games de hoje em dia. Alan Wake prova que realismo não precisa ser monocromático.

Mas o fator mais impressionante dos visuais são os efeitos de sombra e luz que encontramos ao longo do game. A maior parte de aventura se passa em cenários afundados em quase completa escuridão, suas únicas fontes de luz são a Lua, sua lanterna e um ou outro poste de iluminação encontrado pelo caminho.

A luz emitida por sua lanterna emite um facho bastante natural, que reage e se sobrepõe de forma adequada ao cenário, seja espalhando a luz ou concentrando-a em um feixe. Se em algum momento da infância você brincou com lanternas, vai se divertir com o realismo das mesmas aqui.

O som é igualmente bem cuidado, com uma boa trilha sonora e dublagem de alto nível.

Os temas musicais são em sua maioria sombrias e tensas, o que combina perfeitamente com a história. Existem também canções presentes em rádios, vitrolas e mesmo em uma Jukebox, presentes apenas em momentos específicos mas que complementam perfeitamente a ambientação da cena.

A dublagem é excelente e todos os atores desempenham seus papéis com perfeição. Alan é seco e rude, o que o caracteriza como alguém com pouca paciência para uma vida pública, Barry tem um sotaque Nova Yorkino muito carregado e parece um clone com os genes de Joe Pesci e Danny DeVito, enquanto Alice é doce e gentil, mas tem fobia do escuro e entra em pânico caso as luzes se apaguem.

Prestem atenção no desespero na voz de Alice nestes momentos. ISSO é uma boa dublagem.

Apesar de uma ou outra fala tonta (“Qualé, senhor Best Seller! Me quebra esse galho!”), os diálogos em Alan Wake são muito agradáveis. Não é incomum passar bons minutos em um único lugar apenas para ouvir o que todos lá tem a dizer.


Apesar do que está escrito em sua capa e de todos os trailers disponíveis mostrando o game como um pesadelo psicológico, Alan Wake é em sua essência um título de ação.


Existem poucos puzzles e quase todos consistem de tarefas muito simples, como ativar um gerador ou redirecionar a energia de uma área. Nestas horas, tudo que precisa fazer é apertar o botão A no ritmo ou momento certo para se ter sucesso.

O progresso no game é extremamente linear, na maior parte do tempo só é necessário seguir do ponto A até o ponto B e sobreviver a tudo que encontrar pelo caminho. Os cenários são bastante vastos e permitem um bocado de exploração (há uma tonelada de colecionáveis, como manuscritos, garrafas térmicas, baús com armas e por aí vai), mas invariavelmente é necessário voltar a trilha original para avançar na história.

Embora a ausência de puzzles possa ser vista como um defeito por alguns, eu considero um ponto positivo de Alan Wake. Detesto quando games quebram uma sequência de ação para nos obrigar a resolver puzzles e nos fazem perder toda a carga de adrenalina recebida com a situação anterior.

Enquanto avança por Bright Falls, Alan vai se deparar com inúmeras pessoas possuídas pela escuridão que assombra o lugar. Estes seres são imunes a qualquer tipo de dano até que as sombras que os envolvem sejam dissipadas por sua leal lanterna, algo que acrescenta estratégia e tensão aos combates.

Outros inimigos, como pássaros e objetos possuídos, só podem ser destruidos com um feixe de luz constante sobre eles. Os pássaros não chegam a dar muito trabalho e os objetos só se tornam motivo de dor de cabeça quando são coisas especialmente grandes, como escavadeiras e caminhões.

Há como manter um feixe de luz concentrado em seus inimigos, o que elimina a escuridão mais rápido, mas gasta a energia de sua lanterna. É possível esperar que ela se recupere sozinha ou simplesmente trocar suas pilhas, a melhor escolha varia muito de acordo com a situação.

Não há um sistema de travar a mira nos inimigos, assim que os deixar vulneráveis, é preciso usar sua própria pontaria para alvejá-los. A falta de uma mira automática faz falta em certos momentos, mas não chega a aleijar a jogabilidade.

O game não penaliza jogadores menos precisos, há munição de sobra ao longo do game assim como espingardas, rifles, granadas de luz, sinalizadores e lanternas mais potentes. Sempre que estiver bem equipado (boa parte do jogo, pra falar a verdade), não haverá o que temer dos inimigos.

No entanto, não existem itens de recarga de energia, a única forma de recuperar-se dos danos é encontrando um Checkpoint (normalmente, a luz provinda de um poste) ou esperando que Alan se recupere lentamente. Ambos os casos funcionam bem na maior parte do tempo, mas a ausência de uma forma de recuperação imediata pode comprometer a sobrevivência em algumas etapas do jogo.

Dito isso, existem trechos um bocado frustrantes onde grupos de inimigos podem dizimar Alan sem muito esforço. Nestas horas, o melhor é fugir até o ponto iluminado mais próximo... o que também não é muito fácil, visto que os possuídos são muito mais ágeis que o herói.

Felizmente, tais momentos são raros. Na maior parte do tempo, um planejamento rápido do que fazer e a arma certa são mais do que o suficiente para se sair vivo de uma sinuca de bico.

Existem breves momentos onde é necessário dirigir por caminhos longos demais para serem atravessados a pé. Todos os veículos possuem as mesmas características e são fáceis de pilotar, e tais trechos acrescentam bem vinda variedade ao jogo.

Finalmente, para quem é viciado em Achievements, o game providencia um bom número de conquistas fáceis. Existem aquelas que necessitam mais dedicação, mas no geral, Alan Wake pode aumentar seu Gamerscore significativamente com um fim de semana de jogo.


Alan Wake não é a segunda vinda de Jesus que a produtora Remedy e a Microsoft tentaram fazer parecer com sua revelação na E3 2009.


É no entanto um excelente game de ação, bem executado, intrigante e sem aqueles momentos cansativos que nos fazem hesitar para voltar depois que desligamos o console. Não é perfeito, mas demonstra uma excelente recuperação por parte da Remedy, que se encontrava em coma desde que lançou Max Payne 2.

E honestamente, fico muito satisfeito em ver que decidiram lançar uma nova franquia ao invés de tentar ressuscitar aquele policial maníaco depressivo.

Você é um saco, Max Payne!!!

...

Seu filme também é um saco!!!

...

Você é um saco, Mark Wahlberg!!!

Cheers!!!

16 comentários:

Scariel disse...

Pensei que ia ser estilo Silent Hill.
Dá pra tomar um sustos legais no jogo?

Avalanche(Lance) disse...

Bones é o seriado mais gore que existe...comparar a ele é foda[:P]

que foi?

Eu não tenho X-box...tenhoq ue ficar desvirtuando o assunto-_-

Rael XX disse...

Mas amer, Max Payne 3 já foi anunciado e vai se passar em São Paulo. Vai ser lançado depois de Julho. Tá eu sei que esse é da Rockstar e não da Remedy.

Mas é Max Payne.

evil monkey disse...

hey lance, qual é o seu "main console"?

pc?

Eu achava que você tinha um 360.

não sei porque...

Anyway, eu tive um pouco de "medo" desse jogo, eu temia que fosse tão bom que eu me arrependeria de ter comprado um ps3...outra vez...

maldito seja mass efect 2!

Igor Chacon disse...

duvida: quantas horas de jogo?

Amer H. disse...

Não contei, mas dez horas ou um pouco mais.

Sasoriman disse...

Tenho de admitir que esperava um pouco mais... Hype dos infernos. Mas pelo menos o jogo é bom, isso ninguém nega.

Aliás, "Macaco do Mal"(Uau, algumas coisas não devem ser traduzidas), tu me lembrou meu pai falando: "Acho que não dá pra se arrepender com um console de nova geração, é só ver os jogos que você gosta. Exceto o Wii, se eu quiser Mario, jogo SNES."

Uris disse...

Muito boa review,Sou novo aqui e devo lhe dizer que você tem um conhecimento profundo sobre games!

Sobre a review, também não concordo que Alan Wake seja uma obra prima, claramente é um bom game mais não é tudo isso para tanta mídia...

E amer, qualquer dia desses se tiver tempo faz uma review de algum dos games da serie budokai!

Uris disse...

Aliás, "Macaco do Mal"(Uau, algumas coisas não devem ser traduzidas), tu me lembrou meu pai falando: "Acho que não dá pra se arrepender com um console de nova geração, é só ver os jogos que você gosta. Exceto o Wii, se eu quiser Mario, jogo SNES."

kkkkkkkkkkk, concordo com teu pai sasoriman, myamoto é o "ganha dinheiro mole" dos games não faz nenhum game hardcore, sempre simples e fáceis de produzir e vende mais que GTA San Andreas pirata em camelo! apesar que eu até gostei de New Super Mario Brothers...

Eita contradição né?

Marcelo Maciel disse...

Eis mais um jogo que só me desperta a atenção depois de ver no blog do Amer...

=D

Guidcs disse...

Acho que de todos reviews seus que li esse foi o que ficou melhor escrito apesar da ausência das partes comicas.Parabens Amer ,ótimo trablho como sempre.Acho que vo baixar o demo na live , parece que vale a pena.

paulo disse...

Po cara faz um review ( não sei se o nome é esse ) de um jogo da série do GTA ai, de prefêrencia o San Andreas ou o IV..Seu blog de games é muito bom, vai pros favoritos! vlw

Paulo_HT disse...

esse jogo parece ser massa, os videos me lembraram SH: Shattered Memories.

Evil Monkey: cara, se voce quer tanto jogar Mass Effect 2 por que nao joga a versão pra PC? eu procurei no google as configurações necessarias e ele roda até com uma placa de video mais ou menos. além do que na minha opinião shooters são bem mais divertidos no pc.

Toni disse...

Hey Amer que tal fazer um artigo sobre...Demon's Souls?
Btw ótimo artigo,sempre gostei de jogos de terror/suspense. (y)

Rake-Ryu disse...

Ammer vc leou já sobre Heavy Rain?
se ja tiver lido qual sua opnião preview do jogo?

E parabéns pelo texto seco e direto, você escreve de uma forma que eu preciso escrever no meu curriculo xD

parabens pelos 3 blogs e por ter coragem de tentar manter os 3

vD disse...

Não li porque não quero muitos detalhes sobre Alan Wake antes de jogá-lo.

Mas Amer, Max Payne 3 pode ser visto ali ó, na esquina, quase chegando.