sexta-feira, 8 de maio de 2020

Crítica do Amer: One Night Stand


Aqui está a crítica decente que prometi fazer após o fiapo que foi o artigo passado, e vejam vocês, É OUTRO JOGO INDIE!!! QUEM DIRIA?

Fato é, que estou conhecendo muitos jogos indies recentemente, graças a abundância com a qual tais títulos podem ser encontrados hoje em dia. Usuários da Steam conhecem bem este sentimento: Você já se masturbou três vezes seguidas e precisa encontrar algo diferente para preencher sua tarde, é quando você vai até sua loja de games vitual favorita, percebe que ainda tem alguns trocados em sua carteira e acaba comprando meia dúzia de jogos que nunca ouviu falar, mas que não tinha como recusar, pois custavam meio centavo cada um.

Tenho feito bastante isso, mas na PsStore. Não uso Steam. Meu Laptop não consegue rodar metade dos jogos que estão lá sem soltar pus por suas fendas, e a outra metade pode ser facilmente adquirida com uma viagem até alto-mar. Ademais, não gosto de DRM, é insuportável precisar deixar uma janela da Steam perpetuamente ligada em meu computador que engasga feito Joffrey em sua festa de casamento se eu abrir duas imagens ao mesmo tempo.

Tenho certeza que já usei essa piada do Joffrey antes, mas que se dane. Boa comédia merece ser revisitada.

De qualquer forma, visitei a loja virtual da Sony recentemente e vi uma tonelada de jogos indie em promoção. Como eu ainda tinha algum dinheiro em conta e o mesmo não seria suficiente para comprar um jogo AAA cujo preço ignora totalmente que a realidade do brasileiro médio é completamente diferente da do americano, decidi investir em alguns títulos independentes. Meu critério? Aqueles que podiam ser platinado em menos tempo.

Não vou mentir, encontrei uma boa dose de lixo, como Drowning, game que tenta representar a experiência da depressão, mas que parece apenas uma música do Legião Urbana que foi transformada em um Simulador de Caminhada. Em outras palavras, merda pretensiosa.

Mas em meio a toda bosta produzida por criadores independentes que se acham muito mais espertos que são, ainda é possível encontrar um diamante, que inicialmente seria confundido com um milho não digerido. É o caso de One Night Stand, que acreditei que seria apenas mais uma bobagem existencialista querendo adicionar profundidade onde existia nenhuma, mas que consegue ser um joguinho adorável.


E qual a história aqui? Bem, você é um cara sem nome, que é acordado brutalmente pela vibração de seu celular. Não demora muito e três fatores logo ocupam sua mente: Você está com uma ressaca violenta, não está em seu quarto, e tem uma garota pelada dormindo ao seu lado.

Oh, e você está pelado também. Quatro fatores.

Uma torrente de pensamentos toma sua cabeça, quando as cobertas subitamente são arremessadas sobre sua cabeça e o som de uma moça desnuda trotando até o banheiro preenche o recinto. Ainda tentando se recompor, você percebe que não tem memória alguma de como foi parar na cama de uma estranha, e olha ao seu redor tentando encontrar peças suficientes para montar este quebra cabeça. Antes que a amnésia se dissipe, a moça retorna e ambos tem de confrontar a desconfortável verdade de que são estranhos em uma situação constrangedora.

E é isso. Nada de espadachins de cabelo platinado parecidos com a Avril Lavigne tentando trazer o fim do mundo, ou sapatonas do pós-apocalipse em uma aventura sobre o ciclo fútil de vingança. Apenas duas pessoas comum em uma situação que se repete todas as manhãs em milhares de casas ao redor do mundo. Em sua simplicidade, One Night Stand nos confronta com o quanto a vida real é complexa. Claro, um game com um super-espião que enfrenta um exército de insurgentes políticos pode nos trazer uma trama politizada cheia de reviravoltas, mas o grande conflito ao final da aventura será quase que certamente resolvido por um soco certeiro ou tiro preciso, muito mais complicado é conversar com uma garota com quem você acabou de transar, mas cujo nome você não se lembra, sem magoá-la ou permitir que suas expectativas estraguem o momento.

A vida real é muito mais difícil que qualquer videogame, e isso é algo que One Night Stand captura com perfeição.


Visualmente, o game é minimalista, o que funciona em seu benefício.

A história é contada em primeira pessoa e o único aposento que você conhece com certa profundidade é o quarto onde acordou. O único outro personagem dessa história é sua companheira de aventuras noturnas, que permanece aos pés da cama, como se estivesse receosa com a sua presença, fazendo uso de sua recém-adquirida sobriedade para avaliá-lo com o bom senso que não fizera na noite anterior, sentimento que acredito, deve ser familiar para meninas que já passaram por este tipo de situação.

A menina foi animada por rotoscopia, ou seja, uma atriz foi filmada e depois animação foi feita com base em seus movimentos. Isso traz realismo ao evento, sabemos que a pessoa a nossa frente é de verdade. Ao mesmo tempo, estamos confrontando um desenho, o que nos desconecta um pouco da situação, não permite que nos tornemos íntimos dela logo de cara, o que complementa a sensação de desconhecimento ao se acordar em um lugar que não nos é familiar, ao lado de alguém que não sabemos quem é. Da mesma forma, os contornos ao redor da menina não são sólidos, eles tremem constantemente, como se simbolizassem o nervosismo da situação, com suas pessoas caminhando em um campo minado, tentando encontrar a coisa certa para dizer.

Um bom tempo da produção deve ter sido gasto na produção da menina, pois ela transmite uma gama enorme de emoções com mínimo de esforço. Ela é vulnerável, divertida, interessante, misteriosa e decidida se necessário. Ao fim da partida, você estará extremamente fascinado por esta menina que não existe e vai querer saber mais sobre ela.

Com sorte, talvez até descubra.

Não há música no jogo, apenas sons ambientes como a porta do quarto sendo aberta e o ocasional tocar da campainha. Não há dublagem também, o que em é um ponto positivo, podemos imaginar as vozes dos personagens em nossas mentes, como em um livro. Isso ajuda na imersão da história.

A apresentação de One Night Stand é simples, mas extremamente competente. Para um game desenvolvido por uma única programadora solitária está muito acima da média.


Bom, e como se joga isso?

One Night Stand é um Point and Click básico. Sempre que a menina sair do quarto, você tem a opção de olhar ao seu redor e interagir com os objetos, quando ela volta, vocês podem conversar. O objetivo é tentar guiar a conversa do melhor jeito possível, a fim de que a situação termine de um jeito amigável... Pelo menos na teoria.

One Night Stand tem diversos finais, doze para ser mais preciso. Alguns trazem um desfecho agradável para a situação, outros terminam de forma azeda, e existem alguns onde você age como o maior canalha do mundo e tal qual o Patolino, não dá a mínima para as consequências. A graça do game é esta, ele não segura sua mão enquanto tenta guiá-lo para o desfecho mais fofolete, você toma todas as decisões, e o final é unicamente a culminação de todas as suas escolhas. Seu avatar sem face pode bisbilhotar pelo quarto, tentar abusar da hospitalidade da menina, tecer uma trama de mentiras para mascarar seu próprio constrangimento, ou você pode ser cavalheiro, interessado e verdadeiro. Nada é uma garantia de sucesso ou um caminho declarado para o fracasso.

Bom, exceto se a menina te pegar experimentando as calcinhas dela, aí sim é um fracasso... Mas você não faria isso, faria? FARIA?

É bem possível que na primeira vez que jogar, você faça as mesmas escolhas que faria se passasse por esta situação na vida real. Se o final alcançado não for o desejado, você provavelmente recomeçará a partida do zero, tentando encontrar a melhor resolução possível para esta circunstância. De facto, One Night Stand é um game bastante curto, que pode ser terminado em pouco mais de dez minutos, mas é bem provável que você gastará uma boa tarde na companhia desta charmosa estranha, tentando descobrir todas as formas como o encontro de vocês pode terminar.


One Night Stand foi produzido por Lucy Blundell, uma moça muito legal que demonstrou muita sensibilidade e bom humor com este game. Se os próximos jogos dela tiverem a mesma qualidade, já me tornei fã vitalício de seu trabalho.

Assim, recomendo este título veementemente. Em um mundo onde títulos AAA se tornam uma decepção mais constante do que você costuma ser para a sua mãe, One Night Stand se torna uma bem vinda novidade. Algo simples, satisfatório e que permanece com você após o fim da partida.

Essa é a diferença entre um projeto de paixão e o próximo Assassin’s Creed.

Foda-se Ezio, bem no pescoço.

Cheers!!!

8 comentários:

Rauldouken disse...

Sou o primeiro comentário?Bem, adorei a review, adoraria jogar esse jogo, ele existe para Steam? Jogos indies são muito amor. Estou também muito feliz que estejas escrevendo mais artigos.Espero que esteja tudo bem contigo, abraços^^
PS:Eu gosto de legião urbana :(

Amer H. disse...

Sim, tem na Steam sim.

Leandro"ODST Belmont Kingsglaive" Alves the devil summoner disse...

Boa análise Abner.

Também estou meio na onda de preferir experimentar jogos indies ao invés jogos AAA, sei-lá, Sekiro de um lado, Final fantasy 15 do outro, Tekken 7 acolá...meio que desgasta a pessoa. Faz bem jogar um joguinho onde não tem a obrigação de platina-lo ou que precise mais de 100 horas de duração para chegar ao seu final.

Gostei dessa garota no jogo, ela parece a Nikki Cross não? Até as curvas dela são parecidas. Como dito acima, tem esse game na Steam, se for barato, pego ainda hoje.

Lance "Avalanche" disse...

Pô...mas tem teta no jogo?

Rauldouken disse...

Obrigado por me responder Amer

Jonathan Nascimento disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Thiago da Silva disse...

Jogos endies são eternos!!!!

C L O V I S disse...

Me parece ser um jogo bacana, Américo