Como devem ter notado, ando jogando muitos games indies ultimamente, desde aqueles onde você tem de evitar passar carão diante da menina que acabou de fornicar, até outros em que você deve salvar a vida de uma menina a todo custo, para ter uma chance de fornicar.
Este súbito interesse por jogos independentes não se deve apenas ao fato de que a indústria mainstream tornou-se uma decepção maior do que você acabou sendo para a sua mãe, mas também porque mentes criativas podem produzir coisas maravilhosas quando não estão presas as amarras do hiper-corporativismo.
É o exemplo de Count Lucanor, que com certeza não vai chamar mais atenção que The Last of Us II, mas que é uma experiência muito mais agradável.
Em sua jornada, Hans vai parar em um velho castelo, encabeçado pelo Conde Lucanor. Lá ele é recebido por um kobold (que não parece um kobold, mas o jogo se refere a ele de tal forma) que explica que o velho conde nunca teve herdeiros e sempre procurou alguém que pudesse cuidar de seu castelo e fortuna após sua morte. Dito isso, o misterioso ser explica a Hans que se ele descobrir seu nome, ele herdará toda a fortuna do conde e receberá todos os boquetes que quiser.
VIU SÓ, MÃE!!! CHUPA!!!
Ou melhor, não, NÃO chupa. Não é ESSE tipo de relação entre mãe e filho que temos aqui.
Agora, vocês provavelmente sabem que contos de fadas antigos eram incrivelmente sombrios e serviam principalmente como formas de aterrorizar as crianças até que elas se tornassem membros produtivos da sociedade. De fato, muitos anos atrás eu escrevi um artigo sobre o assunto, que nada mais era que uma desculpa para eu postar imagens de versões ultra-sensuais das mocinhas de tais contos de fadas, porque eu sou transparentemente tarado.
Pois é.
The Count Lucanor parece ter se inspirado muito em tais contos, pois em sua superfície sua história é puramente infantil, com um protagonista jovem que parte em busca de uma grande aventura, e que adentra um mundo fantástico que gradualmente torna-se mais sombrio e perigoso. O ritmo é extremamente lento e evita os jumpscares que tornaram-se tão comuns no gênero, substituindo-os por uma sensação constante de inquietação, que cresce junto com a tensão da história.
O game também é minimalista na forma que apresenta os personagens, nunca nos dando mais informação que o necessário. Hans começa a história como um moleque birrento, que dá um chilique por não ter o aniversário que desejava, mas que amadurece a cada passo de sua jornada. Os criadores do game evitaram saídas baratas para isso, como solilóquios intermináveis onde o garoto declara o quanto sua visão de mundo mudou, ou o velho clichê do sacrifício em nome de terceiros, ao invés disso, vemos o crescimento do garoto na forma como ele trata as pessoas ao seu redor e reage aos acontecimentos bizarros que o cercam. Os demais personagens recebem uma abordagem semelhante, onde aprendemos apenas o necessário sobre eles, o mistério que os cerca tornando-os igualmente fascinantes e assustadores, e deixando uma impressão duradoura deles.
Então, The Count Lucanor é deliciosamente lento em sua narrativa, o tipo de game que deve ser jogado em um quarto escuro durante uma noite solitária e não em uma live, para você pular, chacoalhar os peitos e ganhar uma centena de doações graças a sua webcam cuidadosamente posicionada.
THOT, BEGONE!!!
Então, como se joga isso? Bem, tudo que você precisa fazer é encontrar cartas com as letras do nome do kobold, que estão escondidas em oito salas dentro do castelo. Parece simples, mas tais lugares estão repletos de armadilhas, e o castelo é mais escuro que o coração daquela jaçanã que marcou um encontro com você depois da escola, e te largou esperando por ela no parquinho a tarde toda. Para piorar, Hans não tem espadas, adagas, nem é capaz de espalhar COVID-19, e é completamente indefeso. Assim, tudo que o jogador pode fazer é evitar as armadilhas e se esconder dos inimigos que eventualmente pipocam pelo castelo, esperando o momento adequado para agir.
Ao longo da aventura, seu equipamento mais confiável serão velas, que devem ser usadas para iluminar o breu absoluto dentro do castelo e que podem ser livremente espalhadas pelos seus arredores. No momento que os inimigos começarem a aparecer pelo cenário, você só poderá ouvir seus sussurros... Que parecem muito com o Harry Potter falando com cobras... Então é imperativo posicionar velas por todos os locais onde passar, para poder enxergar os espectros que vagam pelo cenário antes que eles o vejam. É possível encontrar uma quantidade bem generosa de velas em seu caminho, então, a menos que você se comporte como beata velha que acende vela pra todos os santos e mais alguns deuses do panteão hindu diariamente, você nunca ficará sem... Escuta, eu sei que essa foi uma péssima piada, mas era isso ou um comentário sobre freiras desesperadas que usam todas as velas do mosteiro como consolos de emergência, então apenas aceite aquilo que lhe é dado, ok?
O jovem Hans também precisará resolver puzzles ao longo de sua aventura, mas todos são extremamente instintivos. No momento que se deparar com um obstáculo, você já terá em mente a forma de ultrapassá-lo, e quando encontrar o item necessário para o avanço da história, saberá exatamente onde usá-lo. Um ou outro puzzle tem soluções um pouco menos óbvias, mas não o suficiente para castigá-lo. Este é um game feito por pessoas inteligentes, para pessoas inteligente. Não um game burro feito por pessoas pretensiosas que se acham muito mais inteligentes que seu público.
OUVIU ISSO, NEIL DRUCKMANN??? VÁ PARA O INFERNO!!! MALDITO SEJA VOCÊ E O CAVALO QUE O TROUXE!!!
A apresentação do game é deliciosamente minimalista, e se não sabe a que me refiro quando digo “apresentação”, é apenas uma forma mais chique de dizer “gráficos e som”, pois não estamos em uma revista de joguinhos dos anos 1990 e precisamos ser um pouco mais refinados.
ERGA O MINDINHO ENQUANTO LÊ ESSE ARTIGO, SEU BILTRE!!!
Os gráficos do jogo são minimalistas, com bonecos e cenários extremamente pixelados e sem detalhes, no estilo que se tornou moda entre jogos indie graças a Devolver Digital. Tudo é muito colorido e vivo, desde a grama verdinha dos campos visitados por Hans, até o sangue rubro que escorre das armadilhas espalhadas pelo castelo. A simplicidade dos gráficos ajuda muito na ambientação macabra do game, quando encontramos um cavaleiro recostado na parede, levamos um segundo para perceber que o círculo vermelho onde ele está sentado é o sangue proveniente de suas pernas amputadas. Esse instante onde nosso cérebro faz as conexões é o elemento que gera inquietação e transmite todo o perigo que o protagonista constantemente corre. Em uma era onde gráficos foto-realistas nos deixaram insensíveis a todo tipo de violência horrível (estou olhando pra você, Mortal Kombat 11) é refrescante ver um game de terror que consegue ser desconfortável quando quer.
The Count Lucanor ainda conta com cutscenes maravilhosas feitas em pixel art, que parecem cenas de Anime feitas especificamente para um jogo de NES e que graças a Deus, permanecem uma característica exclusiva dos jogos indie. Já imaginou o quanto estaríamos saturados deste tipo de animação se a Ubisoft descobrisse que existe um mercado para isso?
O áudio também é extremamente simples, com poucos ruídos ambientes e quase nenhuma música, o que destaca demais qualquer barulho com o qual nos deparemos. Quando o silêncio sepulcral do castelo é quebrado pelos sussurros dos monstros errantes de seus corredores, um calafrio subirá sua espinha e seu coração baterá mais rápido, enquanto você busca um lugar para se esconder.
Infelizmente, nem tudo são rosas. Apesar de ser uma belezinha técnica, The Count Lucanor não foi 100% optimizado no Playstation 4 e no Vita, e o game sofre de crashes e corrupção de dados, que se tornam mais frequentes a medida que mais Saves são feitos. Eu perdi TUDO quando estava a cinco minutos de distância do melhor final, e ainda não me recuperei do trauma.
Felizmente, The Count Lucanor não é um game longo, podendo ser finalizado em uma tarde. Ainda assim, recomendo aos aventureiros que façam backups constantes de seus dados. Nada é pior do que perceber que se desperdiçou um sábado de ócio a troco de nada.
Eu não esperava muito de The Count Lucanor. Comprei-o porque estava custando menos que um chocolate em uma mega promoção da PsStore e por ter uma platina fácil, achei que o jogaria uma vez e nunca mais tocaria nele, após conquistar todos os seus troféus. Felizmente fui surpreendido com uma história fascinante, encabeçada por um elenco marcante. bom de não ter hype pelas coisas é que isso dá a elas a chance de serem impressionantes.
ESCUTOU, NEIL DRUCKMANN??? SEU SER IMUNDO BOTANDO HYPE EM JOGO MEDÍOCRE POR ANOS A FIO!!! EU TE ODEIO!!!
Diabo de leaks que acertaram 99% do enredo.
Cheers!!!
8 comentários:
Poxa vida, se tem uma coisa que eu adoro são indies de terror, a criatividade corre solta neles. E este jogo parece muito encantador, definitivamente vou comprá-lo quando o clima estiver certo.
Ótima crítica!
Amer seu chupador de pintos, ler seu blog em voz alta me fez perceber o quanto minha leitura piorou devido aos anos sem praticar, Obrigado e queime no inferno seu pederasta.
Sobre isso de saves corrompem, fiquei triste pelo meu arquivos no 3DS de Shin Megami Tensei 4 e Apocalipse terem sido destruídos e quase bugou o console em si.
A sua análise sobre esse game foi bem vinda, É também estou atrás de jogos indies com mais frequência.
É sobre o TLOU2, só aguardando o que a mídia vai falar sobre o jogo quando terminarem, embora já suspeitamos De qual lado ela ficara
Esse jogo parece foda, talvez um dia eu me aventure a joga-lo, ótimo post( mas acho q vc já sabe) o melhor blog de todos é esse! E não diga q isso é baba-ovo
Me envia url de fotos massas para eu por no meu perfil, o meu cell bosta não aceita nenhuma imagem, to sem saber como por, ajuda-ai
Amer Parabéns pelo blog, estou baixando os artigos desde o primeiro lá do southpark ksks. E Amer, o que achou do filme Bumblebee? Se achou melhor que o primeiro Transformer podia fazer uma crítica kssksk. Abraços man✨
Como sempre um pouco desse humor para alegrar o meu dia. Eu sigo o seu blog desde 2009, mas nunca me fiz presente aqui por não saber o que dizer. Mas o que eu quero te dizer é que na maioria das vezes que eu estava no fundo do poço da depressão eu recorri a esse blog, em busca de humor, ler sobre meus jogos favoritos e as plataformas que tive contado na infância. Um Oásis da nostalgia, acho que essa é a minha definição para o blog. Só queria dizer que seu trabalho é importante para algumas pessoas e quero agradecer formalmente por me ajudar, inconscientemente, em tempos difíceis. Seja com humor, alguns conselhos que você dava e muitas vezes casavam bem com as dificuldade por qual eu passava nesses momentos. Obrigado.
Sobre o jogo. Não joguei. Verdade seja dita eu não tenho tido muito contato com jogos por estar numa busca incessante por trabalho. Eu acho que buscar emprego está mais exaustivo que trabalhar. Mas vou anotar The Count Lucanor na lista de jogos que provavelmente nunca jogarei devido a falta de tempo e um computador/console decente.
Cacetada, eu nem li esse review (ainda) porém apenas queria dizer que estava limpando meu histórico e li, em um dos primeiros link salvos lá em 2000-e-vida-ainda-era-boa, a tag "Blog do Amer". Cliquei pensando "Será que esse link ainda existe ou vou cair num pornozão?"
Minha surpresa quando abri a página e vi que não apenas o ultimo post datava desse ano, como também desse mês foi de cair as pregas da bunda. Nem liguei de perder a oportunidade de ser redirecionado pra um bom pornô. Lembro de ler o review do Riki-oh há milhões de anos assim que foi postado e não conseguir parar de rir até ter de ser socorrido (isso é uma coisa boa, dado que sobrevivi). Descobri não apenas isso, mas que agora um podcast também existe! Nos primeiros 10 segundos a nostalgia bateu e vejo que o o humor ainda mantém a mesma qualidade de tantos anos atrás. Nada menos tenho que dizer que parabéns.
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