quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Crítica do Amer: Castlevania


Imagine que você tem oito anos de idade. Seus maiores companheiros são desenhos seguros, com heróis que não matam ninguem, revistas em quadrinhos da Turma da Mônica e games como Super Mario, onde ninguém realmente se machuca, nem que uma ogiva nuclear exploda.

Sim, você vive em uma bolha de alegria, felicidade e cores vivas, e nada sombrio ou macabro adentra nela.

Uma existência incrivelmente maçante.

De repente, você descobre um game de terror, onde o objetivo é atravessar um castelo assombrado, catacumbas e cemitérios, habitados por medusas, esqueletos, a Criatura de Frankenstein e mesmo o Ceifador Sinistro, para só então, ter a chance de confrontar Drácula.

Logicamente, você fica fascinado. Monstros, criaturas das sombras e horror são coisas “de adulto” e um game que mistura estes ingredientes é extremamente tentador. E sejamos muito sinceros, pisotear tartarugas com um encanador obeso perde a graça muito rápido.

Pois bem, imagine tudo isso... e saberá exatamente o que cada moleque da década de 1980 sentiu quando segurou Castlevania em suas mãos pela primeira vez.

Era uma época gloriosa pra ser um garoto.


A história se passa em 1691, na Transilvânia. Os camponeses vivem felizes, dedicando-se a afazeres diários como limpar as manchas de fezes das roupas, queimar camponesas feias como forma de recreação ou evitarem morrer da Peste. O reino está em paz há um século e não há problemas maiores que exijam sua atenção.


Exceto que uma noite, a amaldiçoada fortaleza conhecida como Castlevania ressurgiu no horizonte e em seu interior estava seu amo e senhor Drácula. Junto de todos os monstros de filmes da Universal que conseguiu reunir, o senhor dos vampiros deseja tornar a vida dos camponeses um Inferno, até o momento em que decida fazer deles sua refeição matinal.

No entanto, há um herói: Simon Belmont, descendente do clã Belmont, aqueles que baniram Drácula desta terra há 100 anos. Cabe a ele empunhar o chicote sagrado e de nome óbvio “Vampire Killer” e banir Drácula para os quintos dos Infernos de uma vez por todas.

Ou pelo menos até o próximo game... e o seguinte... e o seguinte... e o seguinte... e em quantos títulos mais pudessem enfiá-lo pelas próximas duas décadas.


Embora não seja um game que envelheceu particularmente bem, a apresentação de Castlevania não faz feio como a de certos colegas da sua época.


Os gráficos são bastante simples, mas eficientes. O jogo usa tons sombrios para complementar a atmosfera de terror, e a maioria dos inimigos são quase monocromáticos, utilizando apenas o preto e uma de diversas cores para complementar sua aparência.

Apesar de simples, os personagens são bem feitos na maior parte do tempo. Simon, Drácula, a Morte e os diversos seres que abarrotam o castelo são facilmente reconhecíveis, embora alguns inimigos sejam mais fáceis de identificar do que outros. Conheço gente que levou anos para perceber que os macaquinhos saltitantes eram na verdade corcundas saltitantes.

Os cenários também são simples, mas representam bem as diversas partes do castelo. Masmorras parecem masmorras, cavernas parecem cavernas e tudo que está ao fundo passa a ambientação necessária a aventura.

Se por um lado o visual não impressiona como em 1986, o som continua sensacional como na época. Castlevania possui uma das trilhas sonoras mais bem compostas de todos os tempos e canções inesquecíveis como Wicked Child, Heart of Fire e Poison of Mind deram as caras aqui pela primeira vez.

Uma hora de jogo e você irá cantarolar estas músicas pelo resto de sua vida, eu garanto.

Os efeitos sonoros são simples também, mas bastante eficientes. Os ataques de Simon passam uma ótima impressão de força, como se ele odiasse os monstros e golpeasse-os com toda a sua fúria. As diversas armas possuem efeitos variados e igualmente fortes, e Simon até faz um “huh” extremamente abafado quando leva porrada.

Hey! Em 1986 não havia memória o bastante para gritos de dor! Os personagens tinham de aguentar seu sofrimento calados ou gritando internamente! Naqueles tempos era preciso ser UM HOMEM!!!

Saudades...


A ação do game é bastante simples, basta avançar até o chefe de fase destruindo tudo em seu caminho. Não existem bifurcações, grandes obstáculos ou armadilhas, o caminho é extremamente linear e não é difícil saber qual trajeto deve ser seguido.


Simon conta com um vasto arsenal para sua caçada. Seu chicote possui três níveis de evolução, que aumentam seu alcance e força, além de diversas armas especiais, como a adaga, o machado, a água benta e a cruz, cada uma com um efeito e uma função diferentes. Para se usar estas armas era necessário coletar os corações espalhados pelas fases.

Apesar da simplicidade e de todos os itens disponíveis, Castlevania é até hoje um dos games mais dificeis de todos os tempos. Tudo porque Simon Belmont é tão ágil quanto um inhame.

O herói é um bocado duro e não possui a destreza necessária para evitar certos perigos. Em alguns momentos, inimigos atacarão por todos os lados e apenas jgadores com memória fotográfica, que já enfrentaram os perigos do game centenas de vezes terão alguma chance de evitá-los.

Para piorar as coisas, Simon dá um pulo para trás sempre que é atingido por algo, o que nove vezes em dez, o fará despencar em um precipício estrategicamente posicionado atrás dele. Sempre que chegar a um local onde é preciso saltar diversos abismos e onde morcegos, corvos e cabeças de Medusa comecem a voar em seu caminho, o jogador entra em desespero e arranca parte de seu couro cabeludo.

Os chefes de fase não ficam devendo ao resto do game e o farão chorar lágrimas de sangue na maioria das vezes. Qualquer um que consiga derrotar a Morte é nada menos que um herói.

Sempre que morrer, você perde todos os níveis do chicote, a arma especial que estiver carregando e toda a munição adquirida. Não apenas isso, mas é jogado no começo da última área em que entrou.

Muitas vezes, ao perder uma vida enfrentando um chefe, o jogador é obrigado a atravessar um trecho enorme da fase, mas sem todas as armas que havia adquirido, o que dificulta ainda mais sua vida. Em alguns casos, é mais prático perder todas as vidas de propósito e usar um Continue para recomeçar a fase inteira para ter a chance de armar-se adequadamente para o confronto ao final dela.

Curiosamente, a versão japonesa do game (Akumajō Dracula) possui a dificuldade “Easy”, que pode ser acessada logo na tela de apresentação. O jogo continua bastante difícil, mas há mais vidas extras, Simon não perde sua arma especial ao morrer e não pula para trás quando recebe dano, o que já é uma ajuda IMENSA.

Por que a Konami resolveu remover o modo fácil do game ao trazê-lo para os Estados Unidos, jamais saberemos. Vai ver os executivos da empresa acharam que os Ocidentais levavam uma vida muito mole e mereciam ser castigados.


Castlevania não era o game refinado e polido que seus sucessores seriam, tampouco se tornou um sucesso esmagador de vendas. Mas verdade seja dita, é um dos títulos mais cultuados de todos os tempos e possui seguidores bastante fanáticos.


Talvez por ser um dos primeiros títulos de terror para o NES, talvez pelo seu desafio absurdo, ou quem sabe pela homenagem explícita que o game faz a figuras tão amadas como Drácula, Frankenstein e outros monstros clássicos do cinema. Ninguem pode negar o puro poder nostálgico que este game possui, mesmo com sua dificuldade brutal.

Seja qual for o motivo, este foi apenas o primeiro de inúmeros embates que os Belmont travariam contra as forças das trevas.

Ahhhhhh sim...

Cheers!!!

13 comentários:

Avalanche(Lance) disse...

Não sei pq a Surpresa Amer, muito jogo na versão Japonesa era bem mas fácil...

Contra Hardcops que o diga.

Hikaruon Dekabase disse...

ótimo trabalho Amer, pena ue nunca consegui terminr o próximo jogo da série

Lucas Sena disse...

Ahhh Castlevania... quantos momentos de dor você me fez passar...

Deu até vontade de jogar num emulador para relembrar.

== ADR == disse...

Cara, joguei muito esse! Há tempos que que eu não via um texto sobre esse game. Foi bom relembrar.

Amer H disse...

Os jogos da Konami normalmente eram mais fáceis na versão Japonesa. Mas a regra era tornarem o game mais fácil quando resolvessem lançar na America.

Pessoas estranhas, esses programadores de games.

Maycon Cruz disse...

Otimo post Amer, como sempre!!!
só duas perguntas:
só joguei o Castlevania: Simphony of the Night(um dos melhores games que ja vi) e queria saber se a Morte é tão foda em outros titulos quanto é nesse??? ahh, e saber qual o melhor título pro ps2(meu velho guerreiro)???

Quanto aos antigos me deu uma enorme vontade de jogar.
!!!!Para o EMULADOR.!!!!

Uris disse...

Ahhh, Castlevania!

Lembrei agora das horas que jogava Castlevania e o Castlevania 3 meu dynavision, que era o clone de Nitendo 8 bits que eu tinha!

Bons tempos, Bons tempos!

Valeu Amer!

Otávio disse...

Amer, descobriu que a parada da lâmina só existia no SNES? : )

Jack, The Ripper disse...

Jogaço este "Castlevania", divertido na medidida certa. Sem dúvida um clássico!

Seria uma maravilha se fosse lançado um filme baseado na história de tal jogo, não acha?

Amer H disse...

Sim, descobri de facto!

Diabos, sempre achei que a parte da lâmina existia no NES também! Vivendo e aprendendo!

Thiago disse...

Review muito bom.
Com nota justissima (nada de eu joguei isso aos 8 e amava então é 10).

Clastevania é um clássico, mas a idade pesou.

E .... "eram concurdas? Pensei qeu fossem macacos".(E olha que joguei ao uns cinco dias atras).

Jonathas Cool disse...

Cara,eu vin ter o prazer de jogar esse game atravez de um dinvision que eu ganhei á uns 13 anos atras. muito bom.Um jogo ótimo mesmo sendo difissílimo. e eu passei dois anos da minha vida com esse jogo,cheguei ate drácula,mais nunca consegui zerar!rsrsrsr. ótima crítica,seu blog esta de parabéns.

Leandro" Leon Belmont" Alves the devil summoner disse...

já cheguei a zerar esse, foi a versão japonesa. que era mais fácil mesmo. graças ao novo Castlevania, está me dando vontade de zerar ele novamente. mesmo sendo difícil pra diabo.

culhões de aço mode on