quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Crítica do Amer: Mulher Maravilha

Antes tarde do que nunca.

Não posso começar uma crítica de Mulher Maravilha sem abordar o fato de que esperei até agora para escrever sobre este filme, e a culpa de tudo é do Zack Snyder.

Ok, vamos por partes. Quando Homem de Aço foi anunciado, eu fiquei muito empolgado, finalmente o Superman receberia uma releitura moderna, iniciando assim a trajetória do universo DC nos cinemas. Oh sim, o elenco fora maravilhosamente escalado, Henry Cavill era o Super mais perfeito desde Christopher Reeves, Amy Adams é a Meryl Streep de sua geração e com certeza faria uma Lois Lane perfeita, ainda que não morena, e apesar de não gostar muito do General Zod, eu tinha a certeza de que o talento de Michael Shannon daria uma nova vida ao vilão, todos guiados pelo homem que fez o impossível e transportou Watchmen para as telas de cinema.

Então eu assisti o filme.

Não foi o pior filme que eu vi na vida, esse posto ainda pertence a Street Fighter: A Lenda de Chun li... Eu nunca sei se o “li” de “Chun li” é escrito com maiúscula. “Chun li”? “Chun Li”? Como é? ALGUÉM ME RESPONDA, PELO AMOR DE DORAI!!!

Como dizia, Homem de Aço não foi o pior filme que eu já vi, mas era... Decepcionante. O prelúdio em Krypton era desnecessário mas perdoável, enquanto os dois atos mostrando a juventude de Kal-El e o momento que ele descobre seu lugar no mundo eram exatamente o que eu queria de um filme sobre o personagem, mas o terceiro ato do filme, onde somos presenteados com uma orgia de destruição que aos poucos torna-se uma cacofonia de ruído branco não diferente de um filme do Michael bay, estragou qualquer boa vontade que o resto do filme tenha gerado em mim.

Eu estava com a expectativa lá embaixo com relação a Batman V. Superman, que está apenas alguns degraus abaixo do filme da Chun li na escala da ruindade. Não falarei sobre aqui, pois já fiz uma crítica sobre este filme.

Depois de ver o segundo filme do Universo DC, perdi totalmente as esperanças de que o mesmo pudesse duplicar o que o MCU tinha feito. Não me entendam errado, eu QUERIA MUITO que os filmes da DC tivessem dado certo na mesma escala da Marvel. Eu cresci lendo Superman, Batman e outros heróis famosos como Besouro Azul e Fera B’wanna, mais que tudo, eu queria vê-los em ação nas telonas. Infelizmente, Zack Snyder não entendeu o que faz estes personagens funcionarem, e criou uma fanfic de adolescente raivoso, que substitui enredo e desenvolvimento de personagens, por caos e violência desnecessária.

De fato, decidi não assistir mais nenhum filme da DC, enquanto a Warner insistisse com a ideia de seguir o “Snyderverso”. Só quebrei este voto com Esquadrão Suicida, porque uma amiga se ofereceu pra pagar minha entrada no cinema.

Até hoje não sei se ela fez isso por gostar muito de mim, ou se me odiava em segredo.

Enfim, aqui estamos com Mulher Maravilha, que assisti unicamente porque um Padrinho me encomendou esta crítica. Desde seu lançamento, muita coisa aconteceu. A indústria dos quadrinhos está praticamente morta e enterrada, e a DC se tornou apenas uma detentora de marcas para a Warner Media, a loucura ideológica que cercou este filme em seu lançamento atingiu um pico febril e agora parece estar cedendo, é estranho pensar que o mundo hoje é um lugar totalmente diferente do que era meros três anos atrás.

Pelo menos, posso avaliar este filme com olhos honestos.

A história é uma nova adaptação da origem da Mulher Maravilha. Diana é filha de Hipollita, rainha das Amazonas, que foram criadas pelos deuses do Olimpo para servirem de guardiãs da humanidade, e que receberam de Zeus a missão de proteger o mundo de Ares, o deus da guerra.

Claro que elas escolheram vigiar o mundo de uma ilha isolada de toda a civilização, mas não vou julgar.

Um belo dia, um avião cai na ilha das Amazonas, Themiscyra, e sim, eu sei soletrar este nome. O veículo era pilotado por Steve Trevor (Chris Pine), em fuga de um pelotão de alemães, que são prontamente dizimados quando chegam à ilha.

Não sei vocês, mas considero que ser trucidado por uma legião de super modelos blindadas é uma excelente forma de partir.

Interrogado pelas guerreiras, Steve revela que é um espião das Forças Aliadas, e que roubou planos que revelam que os alemães criaram uma arma letal que pode virar a Primeira Guerra Mundial em favor deles, e com isso, dizimar a humanidade. Malditos alemães, quando vão aprender?

Chocada e implodida com esta notícia, a princesa das Amazonas, Diana (Gal Gadot) decide acompanhar Steve de volta ao mundo dos homens, na esperança de encontrar Ares, que ela tem certeza, está orquestrando a guerra, e matá-lo de uma vez por todas.

O enredo é extremamente simples e sem grandes dilemas. Diana e Steve são bonzinhos, os alemães são mauzinhos, e Ares talvez esteja manipulando tudo das sombras (spoilers: é claro que está) o que o qualifica para levar incontáveis botinadas no pinto. Se querem saber minha opinião, e por que estariam aqui se não quisessem, é um roteiro perfeito para se apresentar uma nova versão de uma personagem clássica para o público.

Diga-se de passagem, a Warner deve ter rebolado na hora de fazer este filme, para evitar o máximo de similaridades possíveis com Capitão América: O Primeiro Vingador. Digo, ambos os filmes se passam em Guerras Mundiais, e tem um “Chris” loiro e galã como o mocinho principal. Fizeram um bom trabalho, quando consideramos tudo.

Muito bem, eu juro dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade em nome de Deus: Odiei a escalação de Gal Gadot como Diana quando foi originalmente anunciada.

Claro, ela é alta e linda... Muito linda... Tão linda que me faz querer cair de joelhos e agradecer a Deus por ter nascido homem-hétero-cis-opressor... Tão inacreditavelmente linda que compararei todas as demais mulheres de minha vida com ela e as dispensarei de imediato, construindo uma efígie em sua homenagem e a perfeição com a qual nos brindou, então erguerei um culto em seu nome e organizarei bombardeios de bosta no centro da cidade, para estragar as roupas de todos aqueles que não juram amor eterno a nossa divindade, Gadot... OOOOOHHHH SSSSSSSSSIIIIIIMMMMMMM!!!

...

Gal Gadot é magrinha. Atlética, mas magrinha. Sempre achei que a Mulher Maravilha do cinema tinha de ser uma moça encorpada, como aquela das artes do Alex Ross. Em minha percepção da época, eu acreditava que Gina Carano (a moça parruda de The Mandalorian) seria perfeita no papel.

Bom, Gadot calou minha boca. Claro, ela estava péssima em Batman V. Superman (mas convenhamos, todos estavam), mas aqui ela trabalhou muito melhor. Talvez por estar mais confortável no papel, talvez porque seu sotaque e pouca experiência combinam com o tom “peixe fora d’água da história, talvez porque a diretora Patty Jenkins é muito mais competente que Zack Snyder em orientar seu elenco, ou talvez por uma união de todos estes fatores. Caso é que, após este filme, não tenho mais dúvidas que Gal Gadot é a intérprete perfeita para a heroína. Não só por sua postura, mas também pela gentileza que ela transmite. Diana, Princesa das Amazonas, uma mulher tão poderosa que pode erguer tanques de guerra como se fossem brinquedos, precisa passar bondade para as pessoas, de outra forma, ela não se torna uma figura inspiradora, mas sim, uma a ser temida. Nas mãos de Gadot, Diana não é uma mera guerreira, mas sim uma heroína.

Chris Pine também faz um ótimo trabalho no filme. Ele é basicamente o Steve Rogers 1.0, o soldado que quer apenas cumprir seu dever em meio a um conflito insano, mas o ator consegue diferenciar-se de seu “xará” da Marvel, não somente pela falta de poderes, mas por conseguir criar um personagem completamente diferente, mesmo tendo em mãos material tão parecido.

Aliás, tiro meu chapéu para Patty Jenkins. Uma diretora menos competente teria feito de Steve um apatetado que não consegue fazer nada sem a ajuda de Diana, e que mesmo assim, a menosprezaria constantemente pelo seu gênero, apenas para ser colocado em seu lugar. Considerando a histeria coletiva em que nos encontramos nos últimos anos, seria muito fácil para ela fazer um filme lotado de ideologia política para assim cair nas graças da mídia e dos Twitterattis. Ao invés disso, Jenkins mostrou-se uma contadora de histórias de mão cheia e permitiu a ambos os personagens brilharem, complementando um ao outro, como os companheiros que eram.

Uma sábia decisão, visto que três anos após seu lançamento, ainda pensamos em Mulher Maravilha de forma positiva, bem diferente de Caça-Fantasmas, Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, Star Wars, Star Trek, Dr. Who...

... Não sobrou muito da cultura pop, não é mesmo?

De certa forma, foi bom ter levado tanto tempo pra assistir este filme, porque olhando objetivamente, posso afirmar que ele é muito superior a maioria das produções da Marvel desta última década.

Deixem que eu me explique.

Os filmes do MCU são bons, mas sem a máquina do hype, também são incrivelmente iguais, todos seguindo a exata mesma fórmula: Herói aparece, ganha poder, aparição do Stan Lee, herói enfrenta vilão cujo nome nem lembraremos ao fim do filme, triunfa, créditos, cena pós-créditos, fim. Digo, eram bons, mas da mesma forma que almoçar sanduíche de presunto todo dia é bom. Vai matar sua fome, mas eventualmente você vai querer algo com mais sustância.

Aqui temos uma heroína que ingenuamente acredita que matar o deus da guerra bastará para que todos os conflitos do mundo se encerrem, obviamente, isso não acontece, e ela percebe que humanos são perfeitamente capazes de guerrearem sem que uma entidade olimpiana manipule eventos das sombras. Sua nova missão então passa a ser proteger a humanidade e com seu exemplo, guiá-la em direção a um futuro mais próspero.

De verdade, isso é muito mais memorável do que: “Encontrei um traje que encolhe e agora vou comer a filha do Michael Douglas”.

Ao assistir este filme, também percebi com histórias de super-heróis deixam a dever em termos de “heroísmo”. O momento em que Diana revela sua armadura pela primeira vez e marcha ao longo do campo de batalha, desviando fogo alemão e ajudando os soldados aliados a avançarem, é ESSE tipo de cena que quero ver em um filme de super-heróis, e é algo que faltou tanto nos filmes da Marvel quanto DC, mostrar os personagens ajudando as pessoas comuns.

“Ain, Capetão América salvou a garçonete em Avengers!”

Primeiro, é “Vingadores”. Fale com o nome traduzido, seu cão inculto. Segundo, quantas outros momentos como este podemos encontrar nos filmes dde heróis da última década? Sem atos de sacrifício e altruísmo, super-heróis são só um bando de gente colorida socando outro bando de gente colorida.

Diacho!

Saudade do Homem-Aranha do Sam Raimi que parava o trem com os sovacos!

Em resumo, Mulher Maravilha é ótimo e todos vocês deviam assistir.

Mesmo, vão ver agora se ainda não viram, e se já viram, vejam de novo.

Especialmente porque, com o COVID-19, sabe lá Deus quando teremos a chance de assistir Mulher Maravilha 1984.

O mundo já não é o mesmo, Charles...

Cheers!!!

11 comentários:

Picawood disse...

Lendo isso só me fez pensar na linha de pensamento de uma frase que uma streamer falou para gente: vocês não gostam quando existe feminismo em um filme vocês não gostam quando existe feminismo mal feito.
E esse filme parece ser um bom exemplo de um filme bom

Ítalo disse...

O q gostei também na cena do "No Man's Land" é que quando a Diana vai de peito aberto contra os alemães pra proteger os civis e soldados entrincheirados ela n sai patrolando todo mundo sozinha. E os soldados ao verem esse ato de coragem acabam sendo inspirados em avançar e lutar JUNTO com ela. Nada de lacração onde a Mulher Maravilha acaba sozinha com o rumo de uma guerra.

... OUVIU ISSO BRIE LARSON, E SUA BUNDA NEGATIVA?

Elton disse...

Olha ai! No geral, eu concordo com a resenha, com algumas ressalvas. Por ser filmes com atores, a Gadot talvez tenha sido uma das melhores opções disponíveis sim, mas ela podia, devia, ter treinado mais fisicamente. Essa, afinal, é a primeira versão cinematográfica da Maravilha. O enredo podia ter balanceado mais em heróis e vilões humanos, por quê na primeira guerra, a briga era muito mais política que ideológica, então não havia aquele ódio da segunda.
Finalmente, a parte contra o Áres é bem fraca. Não parece que a vai ser uma luta difícil pra ela, ou com grandes consequências, e não foi. Claro que a ideia de mostrar o Deus da Guerra como sendo de fato desnecessário para as guerras pode ser interessante, mas mesmo assim, podia ser mais impactante.
Quanto ao próximo filme, acho muito triste terem pulado a segunda guerra. Tem um quadrinho chamado Ubër que dá uma certa ideia de como poderiam repensar os eventos tendo uma personagem como a Diana no meio da sopa.
No geral, se gostaram do filme, não joguem o modo estória ou leiam Injustice.

Addam Barcelos disse...

Eu demorei pra ver esse filme também, mas valeu a pena pegar pra assistir. A gadot caiu bem demais como mulher maravilha.

Leandro"ODST Belmont Kingsglaive" Alves the devil summoner disse...

FINALMENTE!! Apos milenios e tempestades nebulosas. temos a critica da Namorada do Han aqui no blog.

Sim, acredito que a maioria no inicio nao botava fe na Gal Gadot por ela nao ter o mesmo porte da Gina Carano, mas ela pegou a simpatia da personagem, como a curiosidade pelo mundo humano. A cena que ela prova sorvete pela primeira vez e sensacional.

Tirando a batalha final contra Ares, e um bom filme para assistir.

Leandro"ODST Belmont Kingsglaive" Alves the devil summoner disse...

E outro ponto fora do filme...

A Hipolita, rainha das amazonas deveria ser a Lucy Lawless. Afinal, no fringir dos ovos, ela foi a Mulher Maravilha dos anos 90. Seria um excelente easter egg, nao sei o porque nao a terem escalado para o papel

Geovane Sancini disse...

Lembro de quando eu assisti Mulher Maravilha no cinema. Maldito cinema que só tinha 3D.

Eu saí do cinema sorrindo. Meu pensamento era exatamente o que você afirmou na crítica, a Gal conseguiu passar justamente a imagem de heroína, inspiradora, Forte e gentil.

Leonardo Pinheiro disse...

Mais um sensacional crítica Amer, parabéns pelo ótimo trabalho nos entretendo com bom conteúdo em meio a um monte de lixo que tem por aí.

Bier disse...

Ah, Amer... Que saudade eu vou sentir disso tudo. Obrigado por sempre!

Edson Silva disse...

Assisti novamente ontem, antes de ler seu artigo. Concordo que Mulher Maravilha é melhor do que aquelas porcarias que o Snyder dirigiu, mas acho que a parte final do filme é bem mais ou menos, tanto no roteiro, quanto nos efeitos. A Diana parecia o Ultraman quando derrotou o Ares, mas sim, o filme dela me animou para ver Aquaman e, na minha modesta opinião, o Herói Submarino também mandou bem nos cinemas (um feito surpreendente, considerando tudo).

TheMasterHit disse...

Diferença de filme dirigido de verdade do que colcha de retalho de BvS... O que liga cenas legais é um bom roteiro pra motivar todas as ações. Parece que o Snyder parece que só consegue dirigir roteiros já prontos. Ele escrever é uma desgraça! Gostei da releitura do Homem de Aço e contar a origem, quebrando em flashs curtos no passado. Só o final de Mulher Maravilha que tem cara de regravação de CGs que curti menos, mas o desenvolvimento da personagem que na época pensei: Quando ela entrará nos Vingadores? kkkkk! Ela é tão desconexa do universo Snyder que parecia mais Marvel!