terça-feira, 6 de outubro de 2015

Mês das Bruxas: 25 Clássicos do Terror - Phenomena


Que tal falarmos hoje sobre o primeiro filme de terror que assisti na vida?

Pois é. E foi algo totalmente acidental. Lá estavam minha mãe e meu irmão, vendo o filme, quando adentrei a sala de estar feito um hipopótamo e vi uma menina linda e de cabelos negros na tela.

Então decidi me sentar e ver o longa com eles até o final.

Pois é.

A menina linda era Jennifer Connely, e ela foi minha primeira paixonite de criança.

Ai, ai...

Aliás, o artigo de hoje terá SPOILERS. Estejam avisados.

SPOILER: A primeira vítima morre

Aqui acompanhamos Jennifer Corvino (Jennifer Connely), que se torna a mais nova aluna do internato Richard Wagner para meninas. Imagine Hogwarts, só que sem mágica e com um monte de broacas como alunas.

Jennifer sofre de sonambulismo, e uma bela noite sai caminhando pela cidade, vai parar em uma mansão inóspita e presencia um assassinato. Acontece que há um maníaco solto pela região, e as meninas da escola de Jennifer correm todas o risco de serem vítimas do psicopata.

Enquanto vagava pela região, Jennifer dá de cara com uma chimpanzé, que pertence a um famoso entomologista local, o Dr. John McGregor (Donald Pleasance). O cientista está ajudando a polícia na investigação para encontrar o assassino, e se interessa por Jennifer porque descobre que ela tem o poder de se comunicar com insetos.

Basicamente, temos uma sonâmbula mutante. E o sonambulismo era a forma como os poderes dela começaram a se manifestar.

Mas mais importante, o Dr. McGregor é um careca paraplégico que se locomove em uma cadeira de rodas e se oferece para ajudar Jennifer a entender seus poderes. Não estou dizendo que o Dario Argento, diretor desta película, lia X-Men (se bem conheço cineastas dos anos 1980, eles achavam que quadrinhos não mereciam nem a dignidade de limpar hemorróidas), mas as coincidências são incríveis demais para ser ignoradas.

Eventualmente, Jennifer descobre que pode controlar os insetos e que é capaz de evocar nuvens de moscas. Depois, ela finalmente encontra o assassino, e é o filho deformado e insano de Frau Brückner (Daria Nicolodi) uma das responsáveis pela escola onde ela estuda.

Então temos assassinatos, mutantes, super poderes, macacos e tudo isso embalado em uma trilha sonora que traz Iron Maiden e Motorhead, e cujas músicas mais quebram o clima das cenas do que ajudam a criá-lo.

Yep. É uma obra de Dario Argento, definitivamente.

Não que houvesse alguma dúvida sobre isso

A escolha do elenco consegue ser a benção e a maldição do filme ao mesmo tempo.

Por exemplo, todas as atrizes escolhidas para viver as alunas do colégio interno eram adolescentes. Jennifer Connely tinha quinze anos na época das filmagens, e Federica Mastroianni, que interpretava sua colega de quarto, tinha dezesseis. Isso dá maior credibilidade ao ambiente escolar do filme, e foge a regra de Hollywood, que adora colocar gente com mais de 30 pra interpretar molecada que está no colegial.

Droga de Andrew Garfield e seu Peter Parker que com 31 anos ainda não tinha se formado no ensino médio. PETER PARKER É UM GÊNIO! NÃO UM MENDIGO QUE NÃO CONSEGUE DIPLOMA DO COLEGIAL!

Mas estou divagando.

Por outro lado, a escolha de atrizes adolescentes traz o pequeno problema de que todas elas são horríveis. Péssimas, e transmitem toda a emoção de um melão com suas falas.

Nem Jennifer Connely se salva. Todo o seu diálogo sai com a mesma entonação monótona, como se ela estivesse usando toda a concentração para parecer séria, adulta e profissional. Sem contar que ela vai do terror absoluto a completa apatia em frações de segundo. Em uma cena, ela é jogada em um poço cheio de pedaços de corpos, larvas e água pútrida. Como é de se esperar, ela grita, tem chilique, esperneia, e assim que consegue saí Dalí, sua expressão muda para “meh” absoluto.

Mas verdade seja dita, mesmo os adultos do elenco tem uma interpretação exagerada, com exceção de Donald Pleasance, que atua muito melhor aqui do que em Halloween. Ou talvez, diante de seus colegas ridiculamente exagerados, sua própria maneira melodramática de atuar pareça discreta.

No fim, tanto a apatia de Jennifer Connely quanto a forma excessiva como os adultos interpretam suas falas, contribuem para o charme do filme. Como todos os filmes de Dario Argento, Phenomena parece uma versão de terror daquilo que nos acostumamos a ver em Spaguetti Westerns.

E é justamente isso que dá charme a obra.

Deixe-me contar sobre a minha escola... Tem um cara lá que faz gelo.
Ele é um inútil, serve pra nada. É o Yamcha da classe.

Eu disse que a atuação de Jennifer Connely é terrivel... E é mesmo. Ela é péssima, praticamente a Megan Fox da sua geração.

Mesmo assim, temos de reconhecer que ela estava disposta a passar por qualquer aperto para que o resultado final se tornasse o melhor possível. Infelizmente, isso tinha menos a ver com sua dedicação como atriz, e mais com sua insegurança como adolescente.

Connely já explicou em entrevistas que no início de sua carreira, quando não sabia o que fazer, ela simplesmente imitava os adultos a sua volta. E ela se sentia bem em ouvir os diretores e demais atores elogiando seu profissionalismo e sua dedicação ao trabalho, que eram motivados quase que totalmente pelo medo que todo jovem tem de ser rejeitado, uma vez que é aceito por um grupo de adultos.

Por exemplo, em uma cena ela está deitada, com uma sonda intravenosa. Jennifer levanta da cama e a vemos remover a agulha, que estava REALMENTE INJETADA em seu braço.

Eu já fiquei internado e vi a enfermeira remover a sonda do meu braço quando recebi alta. Eu sei quando a coisa é de verdade.

Em outra cena, a mãe louca do psicopata mirim dá um comprimido a Jennifer, e a garota acredita que foi envenenada. Sua solução? Ir até a pia do banheiro, enfiar os dedos na garganta e vomitar. Em seguida, após ver que a pílula não saiu com a primeira golfada, ela bebe água, enfia os dedos na garganga e vomita mais.

O que torna esta cena desconfortável é que todos já vomitamos na vida e sabemos que não é como no cinema. Nos filmes, o personagem simplesmente cospe algo marrom que mais parece mingau, enquanto faz tanto barulho quanto um Decepticon se transformando, mas se recupera em segundos após o ato.

Na vida real você fica enjoado, começa a tossir, baba aquela saliva grossa, vomita, o vômito sai pelo nariz, você stosse mais, cospe bolhas de saliva do tamanho de casas, é uma experiência adorável... Que parece ser exatamente a que Jennifer Connely está tendo no filme. Não há cortes rápidos de câmera, do momento em que ela enfia os dedos na garganta até o momento em que vomita, tudo é feito em um take só.

Fora que existe o boato em que a chimpanzé Inga arrancou o dedo de Connely com uma dentada.

Em uma das cenas, Dario Argento queria filmar a macaquinha de frente, mas ela não ficava parada. Então, o diretor mandou Jennifer (uma menina de QUINZE ANOS na época) para segurar a chimpanzé no lugar.

Lembremos que chimpanzés tem força suficiente pra transformar a cabeça de um humano em purê se assim quiserem.

Bom, a macaca não gostou e arrancou o dedo de Jennifer com uma dentada. A menina teve de ser levada as pressas para o hospital para ter o membro reimplantado.

Não existe uma confirmação dessa história, pois Connely dificilmente fala de Phenomena quando é entrevistada sobre o início de sua carreira. Se me perguntarem, ela simplesmente não quer falar de uma experiência que foi traumática para ela, e que deve ter custado anos de terapia até ela conseguir fazer as pazes com o ocorrido.

E considerando que em uma das cenas, Argento achou de bom tom colocar uma navalha afiada nas mãos de uma macaca que já tinha agido agressivamente no set de filmagem, não duvido que ele tenha abusado emocionalmente de sua atriz principal até onde pôde.

Dario Argento: Nesta cena você vai comer comida de bebê, usando uma
escova de dentes como colher. Alguma objeção?
Jennifer Connely: Se eu mantiver todas as falanges até o fim dela, não.

Phenomena acabou sendo também a inspiração de um dos games mais cult de todos os tempos: Clock Tower.

Vamos a lista de semelhanças.

Protagonista adolescente chamada Jennifer com lindo cabelo comprido e negro?

Confere.

Protagonista adolescente que vai morar em uma mansão isolada com outras meninas?

Confere.

Mansão isolada onde as outras meninas são assassinadas uma a uma?

Confere.

E assassinatos que são realizados pelo filho mutante da responsável pela mansão isolada?

Confere.

De fato, Hifumi Kono, diretor dos primeiros títulos da série Clock Tower, é apaixonado por filmes de terror antigos e declarou abertamente que sua intenção era fazer seus games serem parecidos com as obras de que tanto gostava.

Clock Tower emula muito bem diversos dos elementos encontrados em filmes de Argento, como o desenrolar lento e a presença de um mal que não pode ser facilmente vencido. Mesmo hoje, vinte anos após seu lançamento, o título permanece como um dos mais competentes games de terror já lançados.

E você aí, pagando pau pra Until Dawn.

Manja nada.

Dario Argento: Muito bem, agora vá pra debaixo daquela porta e seja linda.
Jennifer Connely: Isso eu consigo fazer!

Considerando tudo, acho que Phenomena é um filme difícil de recomendar. Não que ele seja ruim, mas bem... É estranho.

A história é cheia de elementos que nem sempre encaixam bem uns com os outros e que tampouco são explorados ao máximo. O ritmo é inconsistente, com cenas extremamente lentas, outras frenéticas, e ainda momentos cômicos que parecem saídos de um episódio de Abbot & Costello (quando Jennifer tenta fugir de seu quarto sem acordar a enfermeira, por exemplo). Sem mencionar a trilha sonora, que mais nos tira das cenas do que nos ajuda a ser parte delas.

Mas Phenomena é uma pérola do terror italiano, e entrega uma experiência única, bastante diferente daquilo que estamos acostumados a ver sendo produzido em Hollywood. Então, acho que não importa se você gostar do longa ou não, apenas assisti-lo vai ter valido a viagem.

Ah sim, e Jennifer Connely.

Porque Ravenas são <3

“Ravenas”, vocês sabem. Aquelas moças lindas, de pele bem branquinha e cabelos negros como a noite.

Sim, eu desencanei das ruivas. Acho que meu coração sempre pertenceu as Ravenas, eu apenas havia me esquecido disso.

Cheers!!!

10 comentários:

Unknown disse...

Mais uma excelente postagem do Abner(Amer ou Hammer fica a seu critério);
E faz Let's play de Hokuto no Ken 2 de sega-genesis por favor.

Leandro"ODST Belmont Kingsglaive" Alves the devil summoner disse...

Pombas Amer!!! O seu detalhe ao jogo "Clock Tower" a esse filme foi genial!!! E pensando bem, ao ver a Jennifer Connely nesse filme me lembrou da protagonista do jogo.

Clock Tower 1 (do Snes, os seguintes sao uma droga) é um grande game que na epoca foi ofuscado pelo Resident Evil.

Verei esse filme qualquer dia desses

Douglas 悪魔城ドラキュラX disse...

adoro Dario Argento, e Phenomena até o momento é disparado o meu favorito, incrível como ele já quebra o paradigma de "filme de serial killer" inserindo uma menina aparentemente inocente como a protagonista e detetive da trama, e insere toda a parada "mágica" e surreal dos poderes dela de conversar com insetos, criando uma experiência bem peculiar.... e independente de qualquer coisa, o filme já valeria só prq ficar olhando a fofura da Connely

Anderson ANDF disse...

Já assisti a Phenomena uma vez, pelo Youtube. E realmente... é... estranho.

Ah, Jennifer... Catenha... Fofinha... :3

Anônimo disse...

Phenomena é um dos meu filmes favoritos do Argento, e a Jennifer Connelly tá muito lindinha no filme.
E devo concordar que as músicas do Iron e do Motörhead destoam completamente do filme, mas a trilha sonora do Goblin é sempre maravilhosa e fantasmagórica, O que seria dos clássicos do Argento (e de outros filmes de terror italianos dos anos 70/80) sem as composições deles? Perderiam toda a identidade, sim senhor.
No mais, excelente review, Ameríndio!

Anônimo disse...

Está ai um filme q gosto, mas tb tenho receio de recomendar aos outros. Ele sempre me pareceu uma mistura bizarra de conto de fadas com filme slash exibido ao mesmo tempo q alguém colocava uma seleção de metal alternativo para tocar ao fundo...

Então eu lembro q tem a Jennifer Connely e relevava todos os problemas e assistir feliz até o final :)

Adan disse...

Caro Amer,

Acho que o boato do dedo arrancado pela chimpanzé deve ser apenas boato. Qualquer coisa que for arrancada a base de mordidas do corpo humano tem uma chance MÍNIMA de ser reimplantada devido a quantidade enorme de bactérias existentes na boca.

Tive preguiça de pesquisar isso no Google e estou falando apenas por conhecimento prático, então, se alguém encontrar provas do contrário, sejam bonzinhos e não briguem comigo.

A propósito, uma vez em uma briga arranquei a orelha de um cara na mordida. Ela não voltou pro lugar.

Não... Não sou boxeador e nem parente do Tyson. É que as vezes, quando você está encurralado por 8 caras ensandecidos e bêbados, a única saída possível é ser o mais louco de todos.

Tudo de bom!

Azrael_I disse...

Fiz uma pesquisa extensa para saber se é verdade a história do dedo (sim, não tenho vida social...), e não cheguei a muitos resultados. O que consegui apurar foi o seguinte:

- Segundo o site Horrorpedia ( http://horrorpedia.com/2013/03/15/phenomena-creepers-dario-argento/ ), Jeniffer Conelly confirmou em uma entrevista que chegou a ser mordida pelo macaco, mas não disse se realmente teve um dedo arrancado;

- Diferente de um corte feito por faca (ou outro objeto afiado), uma dentada raramente deixa um corte preciso; para quem entende, trata-se de uma laceração, um corte desigual nos tecidos, ainda mais se forem feitos pelos dentes de um animal. Em casos assim, o reimplante é extremamente complicado (ainda mais pela questão da infecção, como disse o Alan Ribeiro, que por tratar-se de um dedo é na verdade um risco pequeno, mesmo por causa da mordida), e mesmo que a pessoa não perdesse completamente a sensibilidade no dedo, ficariam cicatrizes bem evidentes.

- Existe a teoria de que, no caso de Jeniffer Conelly, ela havia ficado com uma prótese no lugar do dedo amputado. Porém, em fotos e gravações mais recentes que Phenomena, vemos que as mãos da atriz são aparentemente normais, sem nenhum sinal de prótese ou mesmo cicatrizes (mão direita: http://i.dailymail.co.uk/i/pix/2015/03/11/video-undefined-2689CA3600000578-3_636x358.jpg mão esquerda: http://www3.pictures.gi.zimbio.com/Reservation+Road+TIFF+Press+Conference+BijsmGwh6iex.jpg ) e ela não parece ter dificuldade para segurar as coisas ( http://celebbabylaundry.com/wp-content/uploads/2011/09/conn.jpg http://cdn03.cdn.justjared.com/wp-content/uploads/headlines/2011/10/jennifer-connelly-agnes-tribeca.jpg http://img2.timeinc.net/people/i/2009/startracks/090209/jennifer_connelly.jpg );

- Embora a primeira cirurgia de reimplante bem sucedida tenha sido em 1962 (o braço de um menino, que recuperou a sensibilidade e os movimentos), até os anos 90 a técnica ainda era bem precária e era muito mais complicado reimplantar partes pequenas em comparação com partes grandes, devido ao tamanho e delicadeza dos nervos e vasos essenciais. Em 1985 (ano do filme Phenomena) acredito que haveriam bem poucas chances de um reimplante de dedo 100% bem-sucedido, e sem marcas, como seria o caso de Jeniffer Conelly. E como a atriz ainda não era famosa na época, ela com certeza teria ganhado fama pelo reimplante, em vez de ser um fato obscuro.

Minha conclusão baseada nessas evidências é que Jeniffer deve sim ter sido atacada pelo macaco (aliás, uma macaca na vida real), mas ela deve ter sido mordida em outra parte do corpo; as fotos que linkei mostram que ela não tem nenhuma cicatriz grave nas mãos (que seriam evidentes por deformações ou cor na pele dela) e que ela, evidentemente, não sofreu nenhuma amputação (a não ser que tenha sido um dedo do pé, mas aí é outra história...). A única forma de saber isso sem dúvida nenhuma seria perguntar à própria Jennifer ou alguém muito próximo a ela, mas se for verdade, duvido que ela confirmasse.

P.S.: Pow, Amer, você traiu o movimento dos amantes de ruivas! Eu não tenho nada contra morenas (até sou casado com uma), mas até eu reconheço a beleza superior das cabeças vermelhas...

Adan disse...

Cara Azarael_l,

Toma aqui sua nota 10 pela pesquisa.
Parabéns!

Petra Murakami disse...

Não sei porque, mas apesar de todas as falhas é mais um motivo pra comprar o DVD da Versátil. Sempre procuro filmes com coisas estranhas ao cinema mais padrão. Tanto é que compro quase tudo da Versátil e nada de outras produtoras. Eu imaginava que o filme fosse assim, mas ter a confirmação do que ele é é muito bom. Só n]ão espero que Dario Argento dê uma de preconceito e misógino que nem em Tenebre. Foi o primeiro filme na minha vida que parei de ver por achar preconceituoso demais.