segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Mês das Bruxas: 25 Clássicos do Terror - Vampire Hunter D


Eu sei que é difícil de acreditar, mas existiu uma época em que vampiros não eram um saco.

Juro pela minha gata.

E nestes tempos hoje tão distantes, foi quando conheci Vampire Hunter D, o primeiro anime de terror que assisti.

Falemos um pouco sobre ele, sim?


"MINHA FILHA, VEM CÁ!"

A história se passa no ano de 12.090. Após a guerra nuclear, a civilização foi praticamente erradicada, e a sociedade precisou de doze MILÊNIOS para se reerguer até um ponto que se assemelhasse a época da Europa Colonial.

Enquanto os humanos lutavam para sair do poço em que se enterraram, as criaturas da noite aproveitaram para clamar o planeta. Vampiros, lobisomens, zumbis e demônios tornaram-se a espécie dominante. E dificultavam a já cagada vida dos poucos homo sapiens (e das mulheres sapiens) que restavam.

É neste cenário que somos apresentados a Doris Lang, uma jovem garota que se torna o objeto da “afeição” do vampiro local, Magnus Lee. Uma noite, quando patrulhava os arredores de sua fazenda, ela deu de cara com o conde, que a mordeu e assim a marcou como sua presa. Na próxima noite de lua cheia, ele voltaria e a clamaria como sua noiva.

As coisas não iam bem para nossa heroína, até que um dia, um estranho atravessou o terreno de sua fazenda. A garota o atacou e após um breve duelo, percebeu que se tratava de um caçador de vampiros bastante experiente. Desesperada, ela contratou seus serviços, na esperança de que o estranho pudesse protegê-la do conde Lee.

O nome do estranho? “D”.

A partir daí, os asseclas do vampiro, que incluem o mutante Rei Ginsei, e Larmica, a filha do conde, tentam clamar Doris para seu mestre, mas tem seus planos frustrados por D. Eventualmente o próprio Magnus precisa enfrentar o caçador em um duelo mortal pela jovem.

A história é tremendamente simples: Vilão quer donzela e herói tem de impedi-la. Vampire Hunter D é o que Super Mario Bros seria, se tivesse vampiros e demônios ao invés de tartarugas e italianos.

Aliás, D é um Dhampir, um mestiço de vampiros e humanos, e que possui poderes quase infinitos e quase sempre convenientes ao enredo.

Porque colocar um Deus Ex Machina ambulante como herói da sua história é sempre uma boa ideia.

D: "I like adventure!"
Doris: "I like romance!
Dan: "I love great jokes!"

O elenco de personagens é muito bom, e em sua maioria, eles são desenvolvidos de uma forma que não era muito comum para animes dos anos 1980.

Doris nos é apresentada como uma “action girl”. Em sua primeira cena no filme, ela está patrulhando os arredores de sua fazenda, com uma arma em mãos e um olhar determinado no rosto. De fato, ela é forte o suficiente para resistir ao assédio de Greco, o playboy local, que ela sempre afasta com uma boa dose de violência gratuita.

Claro, a coisa aperta quando a moça precisa enfrentar o conde Magnus, mas isso acontece porque o vilão é um vampiro com mais de 10.000 anos e poderes além da compreensão humana. Mesmo a competência da garota não é suficiente para se derrotar um adversário tão absurdo.

Quando D entra em cena, a menina relaxa um pouco sua postura de heroína e permite-se ser um pouco mais vulnerável. Muitos podem achar que isso é uma forma de “desempoderar” a personagem feminina, mas eu enxergo como simples desenvolvimento de personagem. Doris tem 17 anos, e precisou assumir a fazenda e criar seu irmão caçula após a morte de seus pais. Além disso, ela enfrenta humanos e monstros em uma base diária para sobreviver. Em sua juventude, ela já está exausta de carregar o mundo nos ombros, e a ideia de poder baixar a guarda porque outra pessoa está agora cuidando dela, é muito tentadora para alguém nesta situação.

Da mesma forma, embora seja um vilão com zero empatia, o conde Lee parece mais motivado pelo tédio absoluto do que pela malícia, ao menos no que diz respeito a Doris. Como todos os “nobres” (a forma como os humanos chamam os vampiros neste universo), Magnus olha com absoluto desdém para a humanidade, e os vê apenas como um brinquedo para seu bel prazer. A loirinha não passa de um entretenimento em sua longa vida, e ele próprio afirma que “logo se cansará dela e a jogará fora”, o que não o impede de usar todos os recursos que tem para possuir a jovem.

Agora, D é um caso a parte. Como eu disse, ele é um Deus Ex Machina ambulante, o que significa que ele é capaz de vencer qualquer inimigo e superar qualquer situação, não importa o quão cabeluda seja. De fato, na série de livros em que o filme é baseado (falo mais disso daqui a pouco) os poderes de D chegam a um nível tão absurdo, que ele se torna capaz de atacar a essência da vida e da morte, e pode partir wormholes ao meio com golpes de espada.

Não, sério!

A única coisa que impede D de se tornar uma Mary Sue tão insuportável quanto Bella Swan, é seu absoluto mistério. O filme revela apenas que ele é um Dhampir, que caça outros vampiros e... Só. Não sabemos de onde ele vem, como adquiriu seus poderes, porque assumiu o ofício de caçador, nada. O personagem pouco fala e não estabelece relacionamentos, apenas vaga de um lugar ao outro como um peregrino, deixando mais perguntas do que respostas.

A história sugere que ele é filho de Drácula (chamado de “O Ancestral Sagrado” pelos demais vampiros), mas não esclarece se isso é verdade. Esta aura de mistério torna D bastante fascinante, e nos faz prestar atenção em cada um de seus passos, na esperança de que alguma luz seja lançada sobre seu passado.

Ou... Você pode dizer que o autor é preguiçoso pra cacete e criou todo esse mistério pra não precisar desenvolver um passado pro personagem. Acho algo extremamente válido também.

Doris: Quais suas credenciais como caçador?
D: Tenho a proteção do autor.
Doris: Tá contratado.

Vampire Hunter D é inspirado no romance homônimo do autor Hideyuki Kikuchi. Que já foi comparado a Stephen King e H.P Lovecraft, em termos de influência e pelos temas que costuma abordar em suas obras.

Kikuchi escreveu diversos livros de terror e ficção científica (como Wicked City e Demon City Shinjuku, que também foram adaptadas para Anime), mas Vampire Hunter D é sem dúvida seu maior sucesso, uma vez que tornou-se uma série de 27 livros.

O caso é que o primeiro livro era escrito em forma de prosa, e tinha um desenrolar extremamente lento. Mesmo entre os fãs de Kikuchi, podemos encontrar muitos que acham que a primeira aventura de D é a pior de todas. O foco do autor mudou após a adaptação do livro para um anime e todos os seus trabalhos seguintes preocupavam-se mais em criar um mundo pós-apocaliptico crível e interessante, e em mostrar elementos de ação, que poderiam ser mais facilmente traduzidos para um meio visual em futuras adaptações.

O mundo em que D vaga é conhecido como “A Fronteira”, e de acordo com seu autor, é o continente que um dia havia sido a Eurásia. Pouco se fala sobre as Américas, e embora sistemas de viagens intercontinentais usados por humanos já tenham sido mencionados, a história dá a entender que os demais continentes foram vaporizados pela guerra nuclear.

O universo também nos mostra tecnologia que é muito anacrônica em relação ao resto do mundo. Fazendas são protegidas por cercas de energia, as pessoas carregam rifles de plasma e outras armas futuristas (a própria Doris usa um chicote laser) e apenas cavalos cibernetizados são usados como montaria. Tudo isso em um mundo onde as pessoas andam em carruagens, vivem em um sistema de castas muito bem definido, e moram em prédios e casas que parecem ter sido construídos para atender aos gostos góticos de Tim Burton.

Nenhum dos livros de Kikuchi foi lançado em português, mas eles podem ser encontrados traduzidos para inglês com relativa facilidade.

Isso é... Se você souber onde procurar...

*Sorriso Maligno*

O sorriso safado que só um usuário do The Pirate Bay possui...

Todos sabemos que Akira foi a produção que abriu as portas do ocidente para os animes. Mas o caso é que Vampire Hunter D foi um dos pioneiros que criaram a primeira fagulha de interesse que o público daqui poderia ter no gênero.

A primeira versão em VHS lançada nos EUA, trazia um grande adesivo na capa, que declarava “NÃO É PARA CRIANÇAS”. A arte de Yoshitaka Amano (ilustrador também da série de livros) ajudava a destacar este vídeo em relação a outros desenhos animados da época. Mesmo no Brasil, a maioria das videolocadoras o colocava junto aos filmes de terror. Parece que todos sabiam que o lugar de D não era junto as fitas de Changeman e Rainbow Brite.

Descobri este vídeo graças a uma das funcionárias que trabalhava na locadora onde minha mãe era cliente. A menina sabia que eu era completamente alucinado por filmes de terror, então assim que a fita de Vampire Hunter D chegou à loja, ela a reservou para mim e eu fui o primeiro a levar.

Agora, lembram-se como eu comentei sobre a questão do “tabu” dos filmes de terror? De como parte do fascínio que eles exerciam por mim na infância, era porque eu sentia que tais produções não eram destinadas para meus olhos pré-pubescentes? Bom, Vampire Hunter D elevava esta sensação ao cubo.

O anime não era apenas violento, mas absurdamente explícito. Qualquer ferimento jorrava litros de sangue, e diversos monstros e animais são estripados, fatiados e feitos em pedaços. Intestinos, rins e cérebros se espalham pelo cenário como se nada fossem, e em mais de uma ocasião vemos olhos saltarem de suas órbitas e ficarem pendurados.

De fato, um dos personagens humanos da história tem sua cabeça inflada até explodir, em uma das cenas mais grotescas que já vi em uma animação ou filme.

Além disso, o filme tem nudez.

SIM! NUDEZ! MULHERES PELADAS, PELADAS, PELADAS, PELADAS, PELADAS!

Em uma cena, D é atacado por três irmãs “medusas”, que não se preocupam em andar vestidas, uma vez que vivem nas catacumbas do castelo do conde Lee. E a outra cena, bem mais significativa, é a cena do banho de Doris.

Então, basicamente, esta foi a primeira vez que o jovem Abner de seis anos foi exposto a fanservice. Este seria o primeiro de uma longa lista de animes cheios de peitos que eu assistiria, como Street Fighter II – The Animated Movie, Fatal Fury Special e qualquer merda cujo designer fosse Masami Obari ou Satoshi Urushihara.

Foram tempos estranhos aqueles.

Pronto. Não precisam nem procurar no Google.
Seu bando de democratas tarados!

Verdade seja dita, Vampire Hunter D envelheceu mal.

A animação não é grandes coisas, mesmo pra época (Macross – Do You Remeber Love, lançado um ano antes, é muito superior visualmente) , a história é terrivelmente linear e previsível e a violência exagerada e gratuita pode cansar a alguns espectadores.

Mas Vampire Hunter D ainda merece ser conhecido por qualquer um que tenha interesse por animes ou filmes de terror. Se não por sua qualidade, como uma curiosidade histórica, responsável pelos primeiros passos que a animação deu em território ocidental, a fim de se tornar aquilo que é hoje.

Cheers!!!

9 comentários:

Anônimo disse...

Já tinha ouvido falar desse anime, mas não sabia sobre a historia exatamente. E agora que li achei bem interessante! Assim que você falou sobre o livro já pensei em baixar, porque prefiro visualizar a história do jeito que quero. Agora é ir pro google e iniciar a caça! Hihihi God Bless the Internet e o Amer

Unknown disse...

Me lembro de jogar no PSOne o game deste anime. Era bem estilo "Resident Evil" e tinha um nível de dificuldade alto... As armas dele eram a espada e ele tinha uma "Mão falante" que abria buracos negros - se bem me lembro.

Excelente matéria, btw.

Unknown disse...

Acabo dee descobrir um anime que vale a pena ser assistido :-)

Leandro"ODST Belmont Kingsglaive" Alves the devil summoner disse...

Bom a resenha do anime

José Maruseru disse...

Vlw pela materia Amer.
A proposito sou dono da pagina Vampire Hunter D e temos como proposito de divulgar e traduzir as obras da seríe D. Já traduzimos os mangás, tem os 3 volumes dos mangás em portugues com exclusividade.
https://www.facebook.com/vampirehunterbr?fref=ts

Anônimo disse...

Nossa que matéria legal!! Eu conheci suas histórias ao procurar no youtube algo para ver, uma caçadora de vampiros para amar (ou babar) ... enfim, mas tem outra história muita mas bem acaba visualmente e que traz uma história bem construída, sou suspeita em elogiar visto que amo tudo do nosso "D" então é só procurar pelas duas animações no youtube. Valeu pela matéria.
Ester

Ace Of Spades disse...

O melhor é que o Conde Lee parece o Walmor Chagas! auhAUHhuaHUahaHUa

Franci disse...

Preciso assistir isso.

Luis "Duff" Paulo disse...

No áudio original, D foi dublado por Kanedo Shirozawa, que fez Mu de Áries em Saint Seiya e Rei em Hokuto no Ken. Já a Doris foi dublada por Michie Torizawa, que anos depois, seria a Sailor Marte.