quinta-feira, 22 de julho de 2010

Crítica do Amer: Nier


Existem games que voam abaixo do radar e nunca conseguem chamar muito a atenção dos jornalistas do meio ou dos jogadores em geral. Hoje falarei de um deles.

Lançado sem fazer muito estardalhaço, Nier foi logo deixado de lado pela comunidade gamer, em prol de outros jogos mais badalados que chegaram na mesma época que ele.

Honestamente, Nier é um game difícil de se avaliar. Ele é estranho em alguns aspectos, tem grande sucesso em determinadas áreas e falha tristemente em outras, mesmo assim, merecia um pouco mais de atenção do que recebeu, pois é um título único no mercado atual.

Acredito que estou fazendo muito pouco sentido.

Certo então, acompanhem-me e vamos ver se me faço entender.


A história se passa em um reino medieval de fantasia, que está sendo atormentado por criaturas chamadas “Shades”, que se parecem com sombras vivas. Tais seres variam em tamanho e formato, alguns menores que crianças e outros maiores que casas.


Acompanhamos Nier, um sujeito enorme que é o “pau pra toda obra” de sua vila e aceita todo tipo de trabalho que aparecer. Ele precisa de muito dinheiro para cuidar de sua filha, Yonah, que sofre com uma doença incurável.

Em suas viagens, Nier encontra o Grimório Weiss, um tomo de magia extremamente antigo e que por mero acaso, está vivo. A lenda diz que Weiss salvou o mundo no passado e que ele pode curar facilmente a doença de Yonah, mas partes suas estão faltando e precisam ser recuperadas.

Sem pensar duas vezes, Nier parte em busca das páginas que faltam, enfrentando inimigos terríveis no caminho. Ao longo de sua aventura, Nier encontra companheiros que decidem ajudá-lo em sua missão. A linda Kainé, que consegue ser mais boca suja do que marinheiro bêbado e o doce Emil, um garoto que sofre uma maldição cruel em sua pouca idade.

Nier é um game bastante único no gênero pois não é cheio de resoluções felizes, pelo contrário, é um bocado depressivo. Não importa quantas missões complete ou quantos monstros destrua, toda a sua glória perde o valor quando Nier volta para casa e encontra Yonah com dores imensas na cama, se esforçando para agir naturalmente e não ser um fardo para seu pai.

O momento que a menina diz “Pai, não me odeie por causa da minha doença...” ... bem, é de partir o coração...

Não apenas Nier, mas seus companheiros também carregam traumas pessoais. Kainé nasceu uma hermafrodita e sofreu preconceito por isso a vida toda, o que levava a surras quase diárias nas mãos das crianças de sua vila, ato encorajado pelos adultos do lugar. Já Emil consegue se livrar de sua maldição eventualmente, mas a cura acaba sendo pior que a doença.

Nos apegamos aos personagens, pois queremos que tenham um final feliz, algo cada vez mais distante ao longo da história.

Nier possui quatro finais, que podem ser acessados através do sistema de New Game +. Ao recomeçar o jogo, novas cenas são mostradas e podemos entender melhor a motivação de alguns inimigos, o que muda totalmente nossa percepção sobre eles.

No fundo, Nier é a história de um pai disposto a fazer tudo por sua filha. Algo simples, mas com o qual podemos nos identificar facilmente e nos mantém apegados a história até que todos os finais sejam assistidos.

Um deles deixará um enorme vazio em seu peito, acredite em mim.


A apresentação do game deixa a peteca cair em alguns aspectos, mas compensa tremendamente em outros.


Os gráficos são bons, mas nada que vá deixá-lo estupefato. Personagens importantes como Nier, Kainé e Yonah possuem modelos bonitos e bem construídos que puxam mais para um visual estilizado do que para o fotorrealismo. Os aldeões e demais coadjuvantes encontrados pelas cidades e os animais encontrados em áreas despovoadas são bem mais simples e poderiam ter recebido um pouco mais de atenção.

Os cenários não são impressionantes, mas funcionam. Existem bons efeitos especiais, como o sol que ofusca a tela toda vez que Nier sai de uma construção mal iluminada e as tempestades de areia no deserto, que compensam pela simplicidade gráfica geral.

O design dos inimigos é bastante competente no tocante aos chefes, mas os inimigos normais não são grande coisa. O robô militar que parece um enorme brinquedo e que é “pilotado” por um Shade criança é bem legal... os robozinhos caixa de sapato que encontramos no caminho até ele... nem tanto.

Por outro lado, este game possui uma das trilhas sonoras mais fantásticas lançadas na atualidade. Muitas das canções são instrumentais, tocadas no piano, violão ou violoncelo, enquanto outras são cantadas em um idioma antigo, há muito esquecido, mas cujo sentimento não se perdeu.

Metade da emoção da história é transmitida por sua excelente música, de fato, eu fiquei tão maravilhado com as canções aqui presentes que não descansei até ter a trilha sonora em mãos, que continuei escutando dias após terminar o game de todas as maneiras possíveis e imaginárias.

Sim, a música é boa a esse ponto.

A dublagem é ok na maior parte do tempo. O ator que dubla Nier parece estar se esforçando um pouco demais para parecer durão em alguns momentos e Emil é irritante as vezes, mas nada que prejudique o game.

O grande destaque desta área é Kainé, disparada a personagem mais bem dublada do game.

Quando estiver entediada, ela soará entediada e quando estiver furiosa... ELA SOARÁ FURIOSA... e inventará alguns palavrões para xingar seus colegas de viagem.

Kainé é uma menina criativa.


A jogabilidade é uma sacola de sortidos (sim, eu sei que uso muito esta analogia), que tenta englobar diferentes tipos de ação, sem realmente dominar nenhum.


Nier é um RPG de ação, parte beat’em up glorificado como Devil May Cry e God of War, parte evolução de personagem e organização de itens e ganho de Level, como Final Fantasy e Dragon Quest. Em outras palavras, você deve sair por aí espancando inimigos enquanto ganha experiência, evolui e aprende novos poderes que facilitarão no chutamento da bunda de futuros adversários.

Nier pode equipar espadas curtas, de duas mãos ou lanças e tem um belo arsenal a sua disposição... mas só na segunda metade do game.

É, pois é.

No meio da história ocorre um hiato de cinco anos e só a partir da segunda etapa que é possível equipar todas as armas disponíveis para o herói. Por que diabos os produtores não liberaram o uso de todo e quaisquer equipamento logo no começo é algo que me confunde até agora.

Nier também possui dois pequenos problemas que o prejudicam a longo prazo: é um game curto e razoavelmente fácil.

Falemos primeiro de sua duração.

Há pouco mais de dez áreas diferentes no game, que você conhecerá como a palma de sua mão após duas horas de jogo. De fato, jogando com certo afinco, é possível terminar a aventura em menos de dez horas totais.

Existem Quests opcionais que podem ser aceitas para se aumentar a longevidade da aventura. Elas envolvem desde tarefas simples como caçar ovelhas, trabalhos mais difíceis como matar um chefe em uma ponte e verdadeiras caças ao tesouro, onde é preciso visitar cidades e falar com diversas pessoas para se conseguir todos os itens necessários para terminá-la.

As Quests podem render um bom dinheiro e armas exclusivas de vez em quando, mas na maior parte do tempo elas são tão vibrantes quanto assistir a um bambu crescendo, e não haverá muito incentivo para que elas sejam jogadas.

Quanto a dificuldade, mesmo no nível médio, o game oferece poucos desafios. Na primeira vez que jogar, alguns inimigos podem dar alguma dor de cabeça, mas assim que jogar o New Game +, você estará poderoso demais para a maioria dos inimigos e poderá derrotá-los com uma facilidade ridícula.

Calma, tem mais. A magia mais eficiente do game é aprendida logo nas primeiras horas de jogo, o que facilita demais o confronto com alguns chefes e tira um pouco a emoção das batalhas.

Há um sistema de combo com as diversas armas disponíveis, mas confie em mim, metralhar os botões de ataque aleatoriamente funciona muito bem o game inteiro, especialmente quando você estiver em níveis muito altos.

Nier claramente tinha um enorme potencial, mas infelizmente não foi refinado como deveria. A impressão que fica é que temos uma pedra bruta em mãos, que deveria ter sido um belo e raro diamante, mas que infelizmente não teve a sorte de ser polido.


Como eu disse no começo do artigo, é um pouco difícil avaliar Nier. Por um lado, sua jogabilidade é bastante falha e sem brilho, por outro, sua história é maravilhosa e seus personagens são muito cativantes.


Mesmo com suas falhas, eu adorei Nier e o joguei por semanas. De fato, assim que fiz o quarto e último final, fiquei triste, pois não tinha mais motivos para continuar jogando.

Meu conselho é: jogue e tire suas próprias conclusões. Pode ser que você se apaixone pela história a ponto de ignorar as falhas do game, ou talvez não consiga perdoar a jogabilidade e simplesmente ache que a história não valha o sacrifício.

Seja como for, a mera experiência proporcionada por Nier vale a pena. Em um mundo tão infestado de games de tiro (seja em primeira ou terceira pessoa), é bom ver um título tão diferente dar as caras de vez em quando.

Cheers!!!

14 comentários:

Rael XX disse...

Eu me apaixonei pela história a ponto de ignorar as falhas.

Tenho MP3s das músicas no meu celular. Quase chorei em algumas partes do jogo.

Pô a dublagem da Kainé é do kct, mas gosto mais da do Weiss.

Daniel disse...

No Japão foram lançadas duas versões do mesmo jogo, se não me engano a única diferença é que numa das versões o Nier é irmão da Yonah. Sabe como é, japonês gosta de garotos novinhos e afeminados. =P

Lucas Sena disse...

Caraca Amer,

Você me pareceu bem triste nesse post.

Os finais são dramáticos assim?

Ah e antes que eu me esqueça dê uma olhada nisso: http://www.youtube.com/watch?v=GZwsn4_6xSQ

Splatterhouse vai voltar com tudo!

Uris disse...

É nessas horas que os games se aproximam de uma forma de arte, as vezes existem jogos com uma jogabilidade mais ou menos, mas que por algum motivo nos cativa, podemos citar ICO, não têm uma jogablidade e graficos perfeitos mas já é considerado um clássico e ainda por cima foi bem aclamado pela crítica!

Mais uma vez ótimo artigo Amer!

Uris disse...

Mudando de assunto, amer, eu andei olhando suas reviews de games e notei que não tem nenhum jogo da franquia Metal Gear, talvez depois se você tiver tempo, considere a possibilidade de fazer uma review de Metal Gear, iria ser ótimo!

Amer H disse...

Yeah, Nier é um game bem triste. Me debulhei feito uma catarata em algumas cenas.

Só não escrevi sobre Metal gear ainda porque não tive tempo de rejogar nenhum. Prefiro não confiar em memórias com mais de cinco anos de idade.

Paciência, Padawan.

Sasoriman disse...

Bah, eu ouvi falar bastante de Nier. Tanto que achava que tinha feito um pouco mais de sucesso, enfim...

...Do jeito que você falou, espero que tenha um Nier 2, ou algo do tipo... Mas, vou comprar na certeza. Se a jogabilidade de Gears Of War "compensou" a falta de história, acho que a história de Nier vai compensar uma jogabilidade nem tão polida.

Aliás, falando de Gears Of War, Amer... O que achou do 3?

Thyago disse...

Eu mesmo estou a ignorar Nier por enquanto. Porém, você parece que se fixou TANTO na história que se esqueceu de falar do gameplay geral de maneira mais aprofundada Amer.

A historia merece sim uma medalhinha por conseguir ser um pouco mais do que a média na atual geração... se ter uma história acima da média sempre envolve gente ficando na merda.

Quanto ao GAMEPLAY, que é o que me faria comprar este game, ele me pareceu ser bem... besta. Como você mesmo disse, amasse os botões, use o ataque de armor break mais basico e pronto, nenhum chefe te segura.

Aliás, como você não jogou tantos games da série Zelda, não percebeu que alguns chefes sao COPIAS de chefes do pequeno elfo esverdeado. Tou falando daquele chefe q tem olhos nas mãos e é todo mecânico.

Enfim, um game que na sua parte "game" fica repetitivo e sem graça, com direito a fazer você matar carneiro e cuidando do jardim... passo. Quem sabe um dia eu o alugue.

Tem um video-review que eu gosto muito, que é o Zero Punctuation, e ele falou deste game já. Quem estiver curioso, clique aqui: http://www.escapistmagazine.com/videos/view/zero-punctuation/1703-Nier

Kyo disse...

Quando vi essa coisa de história triste e tocante bagarai, me veio a mente Drakengard 2, do próprio estúdio Cavia (Que desenvolveu Nier), sério, quando você vê as motivações para os atos de algum personagem (há inclusive uma luta contra o protagonista do game anterior), e o primeiro (de 4 possíveis) final é de cortar o coração, fora que em uma determinada cena, eu quase caí nas lágrimas...

É, eu sou meio assim as vezes!

Franci23 disse...

Jogos com boa historia são dificeis hoje em dia já que as produtoras estão se preocupando mais com gráficos e afins!

Avalanche(Lance) disse...

Amer até teve muita repercussão sobre a história da Hermafrodita.

bem se eu tivesse um X-box até olhava...mas na boa...sombras como inimigos mais uma vez?

Sasoriman disse...

Poxa, Lance... O lance(Juro que não foi de propósito) de usar a sombra e a escuridão como personagens não é original, mas dá certo boa parte das vezes.

Jhonnyflake disse...

como disse o RAEL XX
Eu tbm me apaixonei pela historia !!!
estou jogando por 2 meses consecutivos e pretendo obter todos os trofeis !
e tbm tenho todos os 2 cds da trilha sonora que e realmente Bem feita !
na minha opinião a trilha sonora do jogo foi a melhor do ano!
insuperavel!

Sala de Leitura disse...

Mais uma vez confiei em suas análises para pegar um jogo, e por hora não me arrependo. Ainda estou bem no começo, mas é um jogo que me faz lembrar de Threads of Fate do PSX na questão de jogabilidade. No mais, Obrigado por mais uma ótima recomendação!