quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Crítica do Amer: Game of Thrones - A Telltale Games Series


Os jogos da Telltalle e Game of Thrones entraram em minha vida de formas muito parecidas: Foram enfiados pela minha goela abaixo, contra a minha vontade, por amigos, durante as festas de fim de ano.

Primeiro, durante o amigo secreto do trabalho, a pessoa que me tirou como amigo secreto me deu um vale presente da Livraria Cultura. O tipo de coisa que diz: “Hey, eu não me importo o suficiente com você pra me dar ao trabalho de procurar algo que você vai gostar. Faça isso você mesmo.”

Maldita ruiva deliciosa que não dava a mínima pra mim... Oooooh, como eu te desejo...

Enfim, peguei meu vale-presente e a única coisa que eu pude comprar com ele foi o game de The Walking Dead.

Não, não aquela bosta em primeira pessoa estrelada pelo caipira que usa a besta e cujo nome não faço questão de me lembrar. O Point-and-Click produzido pela Telltale Games. Eu o levei pra casa e joguei por dez horas seguidas.

E foi o melhor Natal de todos.

Quanto a Game of Thrones, eu sabia da existência da série, mas não tinha interesse nela. Normalmente eu reluto em assistir séries novas, simplesmente porque prefiro gastar 60 horas da minha vida jogando algum RPG, do que com um seriado que lá pra quarta temporada terá jogado fora tudo aquilo que fez com que eu me interessasse por ela em primeiro lugar.

Vocês sabem, aquilo que aconteceu com Arquivo X. E Bones. E House. E Buffy, Angel, C.S.I, Law & Order, Gilmore Girls, Hércules, Xena, Esquadrão Classe A, Magnum, Miami Vice, enfim, qualquer série menos Star Trek. Porque Star Trek sempre começa terrível e torna-se menos pior com o tempo.

Mas então, passei um reveillon na casa de um amigo, e ele decidiu me obrigar a ver a primeira temporada completa de Game of Thrones seria uma boa forma de passar o tempo. Era isso ou falarmos de nossos sentimentos, e como bons homens MACHOS E VIRIS, preferimos ver decapitações, traições e o pinto flácido do Hodor.

Bom, a série me fisgou. E deste momento em diante a devorei e me tornei um ávido seguidor dos acontecimentos em Westeros... Até a quarta temporada, quando a série passou a me decepcionar, como eu havia previsto.

Mas bem, o jogo de Game of Thrones era a mistura de duas coisas que até então haviam se provado muito positivas. Um título produzido pelas competentes mãos da Telltale Games, e que se baseava em uma das melhores séries da atualidade. Obviamente que o resultado desta união deveria ser positivo, não?

Bom, eu acabei de gastar 2401 caracteres narrando um capítulo da minha vida que interessa a absolutamente ninguém. Leitores mais astutos já devem ter percebido que estou enrolando, porque não tenho muitas coisas positivas a falar deste título.

Oh, bem.

Pra começar, não dá pra transar com batatas

O foco da história é a casa Forrester, um clã menor vindo do norte e que serve aos Stark. Eles controlam parte da floresta de Ironwood, cuja madeira é de importância vital para a fabricação de arma, navios e berimbaus.

Agora, como os Stark são extremamente talentosos para encontrar maneiras de serem mortos, os Forrester logo se vêem sem seus senhores. O norte é entregue aos Bolton, e a família precisa lidar com Ramsay, que acha que assá-los e comê-los é a melhor maneira de passar seu tempo na região.

Assim, o jogador assume os papéis de cinco personagens diferentes, que cada um a sua maneira, luta para preservar sua casa e sua família.

Primeiro, temos Rodrik Forrester, primogênito da casa e seu herdeiro. Um sobrevivente do Casamento Vermelho que ao voltar pra casa, tenta forjar alianças para fortalecer seu clã.

Depois, temos Asher Forrester, segundo filho da casa e que foi banido para Essos porque se apaixonou pela filha do maior inimigo de sua família... Porque esse tipo de besteira importa no mundo de Game of Thrones. Agora, seu objetivo é contratar um exército e voltar para casa.

Também temos Mira Forrester, filha mais velha da família, que trabalha como serva de Lady Margaery em Porto Real, e que não possui experiência nos negócios ou na arte da guerra, mas decide ajudar sua família entrando para o mundo dos negócios da guerra.

Há também Gared Tuttle, escudeiro de lorde Gregor Forrester, que é forçado a se tornar membro da Patrulha da Noite, para cumprir uma missão bem ingrata que recebeu de seu senhor quando este estava a beira da morte.

E finalmente temos Ethan Forrester, que morre com uma facada na garganta ao fim do primeiro episódio.

Hããããã... Spoilers.

No controle destes cinco personagens, o jogador se envolve em alianças políticas, traições, assassinatos, e todas as atividades desprovidas de valores cristãos que se tornaram a marca registrada de Westeros com o passar dos anos.

Com exceção da putaria. Para um título baseado em Game of Thrones, há uma notável falta de sexo e nudez frontal gratuita aqui. Talvez porque os produtores acharam que era desnecessário para o tipo de história que pretendiam contar, ou talvez porque simplesmente queriam negar a milhões de Zés anônimos ao redor do mundo, sua única chance de transarem com Emilia Clarke.

Mas um dia desses, Daenerys... BANG! ZUM! DIRETO PRA LUA!

O grande problema aqui é que nenhum destes personagens é terrivelmente interessante. E vários deles parecem versões requentadas daquilo que já vimos na tevê ou nos livros.

Rodrik Forrester é praticamente um Robb Stark 2.0. O jovem senhor que luta para afastar os lobos que estão à porta de sua casa, e que tenta forjar alianças com outras famílias, mas que se tiver a chance prefere se casar por amor e não interesse e blá-di-blá-di-blá.

Por sua vez, Gared Tuttle é um Jon Snow menos bonito. Ele se une a Patrulha da Noite, arranja desafetos que depois tornam-se seus melhores amigos, e viaja ao norte da muralha para encontrar algo muito mais grandioso do que poderia esperar.

Mira e Ashe são os personagens mais originais, mas as tentativas da garota em se tornar parte do jogo de intrigas de Porto Real são extremamente monótonas, salvo por um ou dois momentos. No fim, o único personagem cujo arco permanece constantemente envolvente é Ashe, e eu lamentava quando seus capítulos chegavam ao fim.

Visto acima, Ashe sendo envolvente com um homem enorme

Se você nunca jogou um game da Telltalle, eis o funcionamento básico deles: Você controla seu personagem, caminha pelo cenário, recolhe itens que serão necessários de formas diversas e randômicas, e conversa com os outros. Durante estas conversas você pode escolher uma dentre diversas opções, e cada uma move a história em uma direção específica.

Agora, o roteiro destes games é completamente linear e pré-determinado, e suas escolhas não afetarão grandes acontecimentos. O que elas podem mudar é a forma como o destino de certos certos coadjuvantes se desenrola.

Por exemplo, você conhece um personagem chamado Clariovaldo , e a história exige que ele morra em um certo ponto. Quando conversar com ele, escolher a opção 1 entre os diálogos, fará com que a morte de Clariovaldo seja sua culpa, mas escolher a opção 2 fará com que ele seja responsável por seu próprio fim.

A ideia é que a ordem dos fatores pode gerar variantes, mas não altera o produto final. E que não existem escolhas erradas.

Exceto em Westeros, porque toda escolha aqui é errada.

Em uma cena, Mira se vê em uma audiência com a rainha Cersei. Escolhi minhas respostas com cuidado e quando o interrogatório acabou, o jogo fez questão de deixar claro que eu havia estragado tudo. Reiniciei esta parte, tentei de novo, e quando terminei, o jogo explicou em alto e bom tom, que eu tinha ferrado ainda mais as coisas.

Refiz a cena mais três vezes, e em cada uma delas, tive a certeza de ter feito escolhas ainda piores que a de Buddy Holly quando ele resolveu entrar naquele avião.

Os escritores tentaram ao máximo duplicar o ambiente “mundo cão” ao qual nos acostumamos na série, mas eles não parecem ter percebido que o enredo original alterna momentos bons com ruins. George R.R Martin sabe que se você der apenas desgraça ao seu público, ele irá se cansar da história, por isso, sempre que um personagem querido morre, pouco depois, um personagem odiado também vai pras cucuias. Momentos de enorme tristeza, como o Casamento Vermelho, são contrabalanceados por cenas de incrível glória, como quando Daenerys assume  controle dos Imaculados. E uma traição é muitas vezes seguida de um momento de amizade, amor ou lealdade genuínas.

Há uma eterna sombra pairando sobre os personagens deste game, como se eles estivessem perpetuamente caminhando rumo à sepultura, e força nenhuma no cosmo pudesse salvá-los. Suas escolhas parecem apenas acelerar esta marcha, e por mais capazes, inteligentes e fortes que os heróis sejam, em um piscar de olhos, tudo pode acabar.

Torna-se emocionalmente exaustivo investir em uma história que se esforça tanto em te arrastar para baixo.

Tyrion: "Acha que sua vida é difícil? Experimente ser eu por um dia."
Mira: "Cala boca, você é o anão mais tesudo do mundo."

Outro aspecto da história original que os criadores deste game parecem não ter entendido: As mortes.

Na maioria das vezes em que um protagonista abotoa o paletó, é como consequência de suas próprias ações.

Por exemplo, temos Ned “Vou provar que o filho da puta mais sádico desse reino não é um herdeiro legítimo do trono” Stark, ou o Rob “Vou levar meu exército desarmado até o castelo do maior lanfranhudo do reino, após ter lhe faltado com a palavra” Stark, ou ainda o Oberyn “vou derrubar um monstro humano em combate e ao invés de matá-lo, vou rebolar ao seu redor enquanto me aproximo perigosamente dele” Martell.

Dificilmente as mortes são gratuitas na história original, por mais que possam parecer. Exceto é claro, a partir da quinta temporada... MALDITO STANNIS!!! COMO PODE FAZER AQUILO COM A SHIREEN??? EU TE ODEIO, BASTARDO PELANCUDO!!!

Aqui, as mortes ocorrem de forma tola, quase como se os produtores apenas quisessem chocar o jogador, ou pior, forçar nele um interesse em ver como as coisas vão se desenrolar sem um certo personagem.

O pior caso é o que acontece com Ethan Forrester.

Pois então bem, eu mencionei a morte de Ethan Forrester no jogo. Pode ter parecido apenas um spoiler cuzão, mas não foi.

Vejam bem, Ethan é o protagonista principal de todo o primeiro episódio. O controlamos por algumas horas, alternando entre ele, Mira e Gared, e por um tempo, acreditamos que ele irá carregar boa parte do roteiro nas costas.

Mas não é o que acontece. Na exata última cena do primeiro episódio, Ramsay Bolton vai até o castelo dos Forrester em busca de uma audiência, e ao fim dela, só pela graça, atravessa uma adaga na garganta do jovem Ethan.

O primeiro capítulo foi disponibilizado gratuitamente, tanto na PSN quanto na Xbox Live. Matar Ethan de forma tão gratuita foi uma mera forma de chocar o público e forçá-lo, através da curiosidade, a comprar os demais capítulos da série e jogá-la por inteiro.

O menino não morreu por que era relevante ao roteiro, mas por um simples golpe de marketing.

A única coisa mais desprezível, seria se a Telltalle tentasse nos vender pacotes de cores diferentes para as roupas dos personagens.

A seguir, dezessete cores novas pro vestido da Margaery. Não, não
tem pacote com ela pelada, porque a vida é horrível.

Quanto a apresentação do jogo, ela é... Estranha.

O audio é impecável, com excelentes atuações e vozes muito bem escolhidas. Mesmo Lena Headey e Peter Dinklage, que já fizeram dublagens sofríveis em outros produtos (Titio Avô e Destiny, respectivamente) reproduziram muito bem os personagens que os tornaram famosos. Sinal de que o diretor de dublagem deste game manja do negócio.

Os gráficos por outro lado, minha nossa. O design dos personagens se assemelha ao de outras obras da Telltale, como The Walking Dead, The Wolf Among Us e Tales From Borderlands. Mas enquanto estes outros títulos utilizam texturas que lembram histórias em quadrinhos, Game of Thrones faz uso de texturas estranhas, que parecem tentar se assemelhar a gravuras em livros.

O resultado final não é bonito, tira a concentração e pode diminuir muito o impacto de cenas mais dramáticas.

E aliás, Point-and-Clicks não são o tipo de jogo mais adequado para sequências de ação. É uma lição que eu esperava que todos tivessem aprendido com os adventures da Sierra Games nos anos 1980, mas parece que a Telltale ainda não se ligou.

"Ok, agora use meia lua pra frente duas vezes com os três socos ao mesmo tempo."
"Some daqui, herege! Volta pra Guilty Gear!"

Dentre todos os títulos produzidos pela Telltale Games, eu diria que este está entre os mais fracos. Não é o pior (este título ainda pertence a Back to the Future), mas está muito longe da qualidade que outros jogos da casa já demonstraram.

Por outro lado, se você for um colecionador compulsivo e abilolado de Achievements/Troféus, esta pode ser uma boa adição a sua coleção. Basta jogar Game of Thrones até o fim e você dará uma boa engordada na sua sua pontuação online.

Sim, aquela mesma pontuação que você exibe com orgulho sempre que joga em rede, mas para a qual ninguém dá a mínima. Ela mesma.

Mas fora isso, não vejo muitos motivos para recomendar Game of Thrones. Especialmente quando existem outros jogos no mesmo estilo, só que muito mais bem produzidos e satisfatórios.

Falo deles outro dia.

Cheers!!!

12 comentários:

Yago Gama de Araújo disse...

Grande Amer, faz quase um ano que leio seu blog, por recomendação de um amigo,e rapaz, é foda pra caralho, você conseguiu balancear humor e seriedade de uma forma impecável, em outras palavras, você é foda cara.
Eu queria saber se pretende fazer a análise de back to the future - the game, por que estava pensando em comprá-lo, mas fiquei com um pé atrás depois do sei comentário nesta análise, enfim, obrigado por tornar minha semana muitoais interessante com seus posts

Amer H. disse...

Acho pouco provável. Joguei faz alguns anos e não tou a fim de jogar de novo pra refrescara memória e escrever.

Recomendo não, honestamente.

Leandro"ODST Belmont Kingsglaive" Alves the devil summoner disse...

Eu não acharia ruim se alguém me desse um Vale presente. Melhor isso do que entregar algo que a pessoa não vai curtir ou que a mesma ja possui.

Valeu a análise Amer, mas desde a quinta temporada, não me importo com que acontecer a série. Mas a Emilia Clarke está vem feita no jogo, muito bem feita.

Galomortalbr disse...

Cara adoro seu blog mas tava curioso do Wolf among us

Ítalo disse...

Oi Amer, sei q n tem haver com esse post, mas podeeia fazer uma analise do anime "One Punch Man". É um anime parodia muito foda q mostra um grande dedo do meio pra muitos dos cliches de animes shounem q sei q vc muito abomina ( e se tratando do protagonista dele, um dedo ja causaria um belo estrago). Recomendo muito.

Ana Beatriz disse...

Amer, pra mim esse jogo parece um feito em 2009 com gráficos mais ou menos

Isso foi de propósito para economizar grana ou é o estilo da companhia mesmo?

Ps: Estou de saco cheio das "mortes chocantes de personagens importantes" em Game of Thrones. Se um personagem importante pode morrer a qualquer momento e isso acontece regulamente, esses personagens não eram tão importantes assim.

Besta-Fera Invernal disse...

O estilo gráfico é da empresa mesmo. Porém,fica claro que não tiveram muito capricho com os desse jogo em específico,the wolf among us tem um gráfico muito melhor, mesmo sendo no mesmo estilo, pra exemplificar.

E sobre Game of Thrones,os personagens que morrem são importantes sim. Vide o protagonista da primeira temporada que é morto de uma forma idiota(basicamente porque um menino mimado quis pagar de fodao) e mesmo assim ainda influencia a trama muito tempo depois.

Lucas disse...

Nossa, falou tudo Amer
Òtima resenha
Eu tbm percebi que é feio pra caralho o jogo

Mas nao tinha percebido como as mortes são diferentes do ponto de vista temático e narrativo quando comparamos a série e o jogo

E é verdade

Valar Morguilis é um dos motes principais da série por um motivo
E a telltales não entendeu o motivo

Shadow Geisel disse...

Da Telltale eu só joguei a segunda temporada do Walking Dead. Não curto muito point and click, mas ao menos no WD a história é muito boa, apesar do gráfico esquisito. sobre a questão da linearidade, acho que é uma medida pra que o jogo não fique tecnicamente impraticável. Imagina se a cada episódio a TT tivesse que gravar cenas e opções de narrativa pra cada NPC que poderia morrer ou ter ficado vivo? Impossível.

Anônimo disse...

Mas então Amer a algum game do Game of Thrones que valha pena jogar

C disse...

Amer, você me ajudou a entender o meu problema com Game of Thrones.

como você disse, o segredo da escrita do Martin é o equilíbrio entre lazarentice e bons momentos. Mas a partir da quarta temporada a série vai ficando cada vez mais e mais distante dos livros e o que temos é um fanfic aborrescente. Oh, tudo é horrível. Oh, nada de bom acontece. Oh, todo mundo é filho da puta e quem não é acaba estuprado, morto e estuprado de novo (não necessariamente nessa ordem). E... meh.

Já to velho demais para essa coisa dark trevosa angst do mal.

Juninho! disse...

Ainda jogarei essa belezinha algum dia, ou melhor, "belezinha" né?

Eu confesso que a arte do jogo me afastou mas a curiosidade com a trama me fará jogar ainda.

Agora, a pergunta trivial, por que Game of Thrones te cansou na quarta temporada? Te pergunto porque estou pra começar a vê-la em breve.